Por que mãe ter carreira faz bem para os filhos

Tema de novo livro toca num ponto que já fez muita mulher sentir culpa: o de ter de deixar criança em casa e sair para trabalhar

Por Luciana Garbin

A exemplo de 10 em 10 mulheres que trabalham fora, já senti o coração querendo apertar ao ouvir: “Ah, não, mamãe, você vai trabalhar de novo?” Ou: “Por que você é a única mãe da classe que trabalha de fim de semana e feriado?” Mas tem também outro lado dessa história. E é disso que trata o recém-lançado Ambiciosa como a mamãe: Por que priorizar sua carreira faz bem para seus filhos (Vestígio Editora).

Escrito pela professora americana Lara Bazelon, o livro defende que ter uma carreira faz das mulheres mães melhores, não piores, e o reconhecimento de que mães trabalhadoras podem gerar resultados positivos não só para a família como para comunidades próximas e sociedade em geral é necessário para que as mulheres possam celebrar as escolhas que as levaram onde estão, em vez de viverem se sentindo culpadas.

“As mulheres precisam assumir seus instintos, ambições e sucessos. Reconhecer a importância do trabalho, a capacidade de fazê-lo bem e a gratificação que ele proporciona pode ajudá-las a descartar a ideia absurda de que a própria ambição é algo que vai ter um custo para os filhos. Sucesso no trabalho e sucesso na maternidade não são excludentes.”

Além de contar sua história, Lara reúne pesquisas que mostram por exemplo que filha de mãe que trabalha fora tem mais probabilidade de estar empregada, ganhar salário mais alto e ter responsabilidade de supervisão. Já os filhos homens têm maior probabilidade de cuidar dos próprios filhos e de outras responsabilidades domésticas que filhos de donas de casa. Estudo liderado em 2018 pela professora Kathleen McGinn, da Faculdade de Administração de Harvard, avaliou 100 mil pessoas em 24 países desenvolvidos e concluiu ainda que filhos de mães com emprego são tão felizes quanto filhos de donas de casa.

Lara lembra que ser ambicioso e buscar realização profissional costuma ser um atributos valorizado nos homens, mas apresentado como contrários à boa maternidade. “Mães não são egoístas por quererem essas coisas também. Na verdade, elas deveriam ser encorajadas a buscá-las.”

A autora chama a atenção para o fato de que, para a maioria das mães, trabalhar é meio de subsistência. “O dinheiro que ganham ajuda a sustentar a família e movimentar a economia.” E, além da batalha por equiparação salarial, divisão igualitária de tarefas domésticas e eliminação de abusos, as mulheres precisam redefinir de uma vez por todas o que significa ser uma boa mãe e mostrar que, mais do que uma “escolha”, trabalhar é um imperativo não só econômico como psicológico. Só assim se poderá avançar em medidas que apoiem mães e filhos, como a promulgação de leis, políticas trabalhistas e serviços sociais.

“Se a vontade de ser mãe e profissional bem-sucedida for vista como algo compatível em vez de uma contradição, as mulheres experimentarão mais alegria em casa e no trabalho”, afirma Lara. “Mulheres capacitadas e com segurança financeira são mais felizes, e as crianças entendem e se beneficiam disso, mesmo que signifique menos tempo em família.” Lembra da velha história de mais qualidade no tempo com os filhos em vez de quantidade? Pode ser um caminho.

Estado de São Paulo, https://www.estadao.com.br/cultura/luciana-garbin/por-que-mae-ter-carreira-faz-bem-para-os-filhos/#:~:text=%E2%80%9CMulheres%20capacitadas%20e%20com%20seguran%C3%A7a,Pode%20ser%20um%20caminho, 20/04/2023

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