COB monta equipe para atender atletas brasileiros
Dez profissionais especializados em psicologia esportiva e um psiquiatra vão trabalhar com os atletas em Paris
MURILLO CÉSAR ALVES | OESP*
Preparação mental dos atletas para que mantenham o foco e a motivação fazem parte do trabalho
Além da preparação física dos atletas, a dinâmica do Comitê Olímpico do Brasil (COB) nos Jogos Olímpicos de Paris conta com um trabalho especial, focado na saúde mental dos integrantes da delegação. São dez profissionais especializados em psicologia esportiva. Além deles, pela primeira vez o Brasil terá um psiquiatra no grupo.
Os integrantes da equipe de saúde mental do COB estarão nos locais de treino e competição em Paris. Além disso, ficarão disponíveis no Château de Saint-Ouen, o QG do Time Brasil na França.
“Toda a nossa preparação final é feita de uma forma bem alinhada para que possamos oferecer os melhores serviços possíveis aos atletas que estarão em Paris e nas subsedes dos Jogos. É um trabalho de rotina, é a continuação do trabalho que temos feito ao longo de todo o ciclo olímpico”, explica Eduardo Cillo, coordenador de psicologia esportiva do COB. Durante o ciclo olímpico, a missão do COB em Paris teve custo de R$ 52 milhões.
Em Tóquio-2020, o COB teve quatro psicólogos na delegação. O aumento se dá, também, pela importância que a entidade vê nessa questão comportamental e o impacto que tem sobre os atletas. Na Olimpíada japonesa, a ginasta Simone Biles desistiu de sua participação por causa da saúde mental – tinha dificuldades e medo de executar os saltos.
Na delegação brasileira houve um caso recente: o nadador Bruno Fratus, que não estará em Paris por causa de lesões, desistiu de participar do PanAmericano de 2023 para priorizar a saúde mental.
O Brasil contará com a presença de outros quatro psicólogos do COB em Paris, além de Cillo: Aline Wolff, Carla Di Pierro, Carla Ide e Marisa Markunas. Os demais, que completam a equipe de dez, foram ‘emprestados’ por confederações e não tiveram sua identidade revelada à reportagem. Outra novidade é a presença de Helio Fádel, atual coordenador do Núcleo de Saúde Mental do Vasco, que será o primeiro psiquiatra do Brasil a atuar em uma edição de Jogos Olímpicos.
Segundo pesquisas e estudos conduzidos pela Unicamp e FondaMental, cerca de 30% dos atletas, ao redor do mundo, sofrem de alguma doença mental, desde depressão a casos mais graves. “Precisamos preparar os atletas estreantes para lidar com isso tudo pela primeira vez e relembrar os veteranos dos desafios na Vila Olímpica, alertar sobre as distrações e sobre a convivência com atletas de diferentes esportes e países”, detalha Cillo.
ATENÇÃO CRESCENTE. Em comparação, o Brasil está em ‘pé de igualdade’ com os demais comitês. Os Estados Unidos, por exemplo, contam com 14 profissionais especializados em saúde mental para atuar em Paris. Jessica Bartley, diretora sênior de serviços psicológicos do Comitê Olímpico e Paralímpico dos EUA, afirmou que cerca de metade dos atletas do país nos dois últimos Jogos apresentaram sinais de pelo menos um dos seguintes fatores: ansiedade, depressão, distúrbios do sono, distúrbios alimentares e uso ou abuso de substâncias.
O Brasil terá 274 atletas na delegação enviada a Paris. Pela primeira vez, as mulheres são maioria. Elas serão 55% do total de esportistas, de 39 modalidades diferentes. No atletismo, Hygor Gabriel, do revezamento 4x100m, Lívia Avancini, do arremesso de peso, e Max Batista, da marcha atlética que tiveram a vaga negada pelo COI por problemas relativos aos testes antidoping – fizeram um número menor de testes do que o estabelecido –, tentam reverter a situação para poder competir.
“Em uma rotina intensa e exigente como a desses atletas, manter a cabeça no lugar é crucial para evitar cansaço, perda de motivação, e manter o foco e a concentração, que são fundamentais para o sucesso na competição”, ressalta Eduardo Cillo, o coordenador de psicologia esportiva do COB.
*Estado de São Paulo, https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo, p. A27, 26/07/2024