Mercado de hidrogênio verde deve aumentar demanda por engenheiros e advogados que ‘saiam da caixa’
Empresas dizem que novas carreiras não devem surgir por conta desse mercado, mas que oportunidades para profissionais especializados em energia podem crescer
Por João Scheller | OESP*
O mercado de hidrogênio verde é uma das apostas promissoras para a transição energética. Apesar de ainda engatinhar no País, tem potencial para a geração de diferentes postos de trabalho e o impulsionamento de carreiras, em especial posições técnicas ligadas à área de engenharia.
Segundo empresas consultadas pelo Estadão, a produção de hidrogênio verde em larga escala não deve criar novas profissões, mas se espera que impulsione a demanda do mercado por profissionais que tenham conhecimento e experiência com as áreas de energia e descarbonização.
Engenheiros elétricos e químicos, por exemplo, serão necessários para comandar as unidades de produção de hidrogênio, extraído pelo processo de eletrólise, utilizando fontes de energia limpa. Mas, para além deles, profissionais que conheçam o mercado de energia renovável e tenham experiência com o tema, também podem sair na frente na busca por uma vaga no setor.
Profissionais do direito, por exemplo, com conhecimento em direito ambiental devem ter papel fundamental para lidar com tópicos de regulamentação desse novo mercado.
Luiz Antonio Mello, da Thyssenkrupp, prevê que mercado de hidrogênio verde deve demandar características cada vez mais multidisciplinares dos profissionais • WASHINGTON ALVES/ESTADÃO
“Acredito que o hidrogênio verde vá impactar o mercado de trabalho de uma forma bem mais abrangente. É muito mais do que falarmos que vamos precisar de técnicos e engenheiros para trabalhar com eletrólise”, afirma Luiz Antonio Mello, líder de vendas da Thyssenkrupp Uhde para o Brasil. A empresa alemã é uma das companhias que tem apostado no potencial do mercado brasileiro para a produção de hidrogênio de forma limpa.
Expansão do hidrogênio verde deve abrir novos mercados
Além de causar o aumento de demanda por profissionais especializados, o mercado de hidrogênio verde pode colaborar também para a criação de novos mercados no País. “O hidrogênio verde tem um potencial enorme para reindustrializar o Brasil, e também para exportação direta”, afirma o diretor da mineradora australiana Fortscue no Brasil, Luis Viga.
A mineradora trabalha no País com a produção de hidrogênio verde e tenta, junto ao governo federal, buscar incentivos fiscais para a produção em larga escala do produto.
“Podemos produzir (com o mercado de hidrogênio verde) aço e fertilizantes no Brasil, algo que não temos”, pontua Viga. Segundo a Fortscue, os incentivos são essenciais para a criação de um mercado funcional do produto, considerando que seu valor é consideravelmente mais alto do que o do hidrogênio “não verde”.
Tanto Viga quanto Mello afirmam que o conhecimento relacionado às áreas de energia é fundamental para quem deseja ingressar nesse novo mercado, assim como experiência no ramo de energia, em especial a limpa.
“Ainda não existe uma indústria de hidrogênio verde na mesma escala do que outras indústrias no Brasil. Por isso, vemos muitos profissionais que trabalhavam com petróleo ou energia eólica, por exemplo, vindo para essa nova indústria. A tecnologia não é necessariamente nova, o que precisamos é de pessoas para lidar com esses desafios e processos” – Luis Viga – Diretor da mineradora australiana Fortscue no Brasil
Segundo eles, cada vez mais o perfil buscado será o de profissionais que se mantêm atualizados e vão além da simples capacitação profissional. “Esse novo mercado vai demandar profissionais que não estão mais em ‘caixinhas’. A caixinha do engenheiro, do gestor, do advogado. Cada vez mais precisaremos de engenheiros fazendo cursos de direito ambiental ou advogados entendendo mais de tecnologia. Essa multidisciplinaridade será demandada dos profissionais que vão liderar”, afirma Mello.
Engenheiros serão os mais demandados
As empresas apontam que o mercado de hidrogênio verde deve demandar profissionais da engenharia das mais diferentes áreas, como:
- Engenheiros elétricos;
● Engenheiros químicos;
● Engenheiros civis;
● Engenheiros mecânicos;
● Engenheiros de processo.
Além disso, Mello aponta que deve haver demanda para profissionais especializados em Redes de transmissão de energia;
● Controle e gestão de grid de transmissão elétrica;
● Planejamento elétrico.
Ele avalia, porém, que o mercado ainda está se formando no Brasil e esta demanda deve surgir somente a partir do momento em que a produção de hidrogênio verde no País se expandir. “Esse mercado ainda está nascendo, e acabamos tendo o know-how dentro de casa. Por isso, atualmente temos a capacidade de capacitar internamente nossos engenheiros”, afirma.
Mello afirma que, apesar do mercado ainda inicial, começam a surgir algumas especializações específicas, voltadas para a área de energia limpa, como o curso especializado em Hidrogênio Verde oferecido pelo Senai Cimatec, da Bahia.
Por fim, ele destaca que as especializações em nível técnico também devem ser valorizadas, e podem contribuir para uma expansão mais rápida desse mercado no Brasil.
“Cada vez mais precisaremos de engenheiros fazendo cursos de direito ambiental ou advogados entendendo mais de tecnologia. Essa multidisciplinaridade será demandada dos profissionais que vão liderar” – Luiz Antonio Mello – líder de vendas da Thyssenkrupp Uhde para o Brasil
Quais os salários na área de hidrogênio verde?
Questionadas pela reportagem, as empresas não quiseram compartilhar a média salarial que praticam para os cargos citados. Por conta do mercado de hidrogênio verde ainda ser embrionário, há dificuldade de mapeamento de salários para cargos que lidem diretamente com o mercado de hidrogênio limpo.
Segundo a consultoria Robert Half, que compila anualmente a média salarial de diferentes empresas, profissionais ligados à energia verde podem ter salários mensais que variam de R$ 6 mil a R$ 30 mil, dependendo do cargo e nível de senioridade.
“O que torna um profissional mais caro é se ele é raro e se existe demanda (para os serviços que ele pode ofertar)” – Erika Moraes – recrutadora da Robert Half
Ela menciona que ter bom conhecimento de base, com cursos sólidos, e bom domínio de inglês é essencial para atingir o sucesso na busca por uma vaga no mercado de trabalho.
A consultoria indica ainda que os salários praticados por grandes empresas multinacionais que atuam no setor tendem a ser maiores do que a média de mercado.
REPORTAGEM: JOÃO SCHELLER; EDITORA DE INFOGRAFIA: REGINA ELISABETH SILVA; EDITORES-ASSISTENTES DE INFOGRAFIA: ADRIANO ARAUJO E WILLIAM MARIOTTO; DESIGNER MULTIMÍDIA: LUCAS ALMEIDA; EDITORES-EXECUTIVOS: LEONARDO CRUZ E RICARDO GRINBAUM; EDITOR DE ECONOMIA: ALEXANDRE CALAIS; EDITORA-ADJUNTA DE ECONOMIA: RENÉE PEREIRA; EDITOR DE CARREIRAS E PME: ARMANDO PEREIRA; DIRETOR DE ESTRATÉGIAS DIGITAIS: ANDRÉ FURLANETTO; PROJECT MANAGER: EDEGARD UTRERA
*Estado de São Paulo, https://www.estadao.com.br/economia/mercado-de-hidrogenio-verde-deve-aumentar-demanda-por-engenheiros-e-advogados-que-saiam-da-caixa/, 11/04/2024