Número de pessoas com ensino superior completo no Brasil triplica em 22 anos
Porcentagem de graduados é de 18,4%, de acordo com o IBGE, mas há disparidades em raça e gênero
ROBERTA JANSEN, OESP*
População com graduação passou de 6,8% para 18,4%, entre 2000 e 2022, coincidindo com explosão do ensino a distância.
A porcentagem da população brasileira com ensino superior completo praticamente triplicou nas últimas décadas, passando de 6,8% para 18,4%, entre 2000 e 2022. Os dados do Censo 2022 foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
“Em 22 anos, tivemos uma evolução surpreendente ( no ensino superior); e o número daqueles com ensino médio completo chegou a dobrar”, afirmou o pesquisador Bruno Mandelli, do IBGE. “Mas o grupo dos graduados ainda é minoritário, abaixo dos 20%. No grupo dos mais envelhecidos, o acesso à educação foi mais difícil na juventude; e isso ainda tem um peso considerável na porcentagem final.”
O aumento no porcentual de brasileiros com ensino superior completo coincide com o período de explosão no número de matrículas na modalidade a distância no Brasil.
De acordo com os dados do Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC), em 2000 o País tinha 1.682 estudantes matriculados no ensino superior na modalidade a distância. Em 2022, esse número teve um aumento para 4,3 milhões.
Como o Estadão também mostrou recentemente, os cursos remotos ganharam mais alunos diante da facilidade logística e dos custos mais baixos. A estatística mostra ainda que, ao mesmo tempo que o número de matrículas a distância cresce, a quantidade de alunos no presencial vem caindo. A qualidade dos programas, porém, preocupa governo e especialistas.
O que ocorreu? Período coincide com o de explosão no número de matrículas na modalidade a distância no Brasil
DETALHAMENTO DE DESIGUALDADES. A área que concentra o maior número de pessoas com curso superior completo no Brasil é a de Negócios, Administração e Direito (8.408.722), seguida de Saúde e Bem-Estar (4.146.840) e Educação (3.601.124). A porcentagem de pessoas com ensino superior completo aumentou entre brancos e negros (pretos e pardos), mas ainda há diferenças significativas entre as etnias.
Na população preta, o aumento foi de 5,8 vezes no período, saindo de 2,1% para 11,7%. Entre os pardos, o nível cresceu um pouco menos, 5,2 vezes, passando de 2,4% para 12,3%. O maior aumento foi entre os brancos, de 9,9% para 25,8%. Enquanto 16 milhões de pessoas graduadas são brancas, 7,5 milhões são pardas e há 1,8 milhão de pretas. Amarelas são 300,4 mil e indígenas, 54 mil.
Para se ter ideia, entre os graduados em Serviço Social, 47,2% eram brancos, 40,2% pardos e 11,8% pretos. A outra única área em que a porcentagem de negros (pretos e pardos) ultrapassa a de brancos é a de Religião e Teologia, em que 48,2% são brancos, 11% pretos e 39,8% pardos.
Um recorte que chama a atenção é quando se pega o tradicional curso de Medicina. Em 2 0 2 2 , o Br a s i l t i n h a 553.538 pessoas graduadas na área. Desse montante, cerca de 3 em cada 4 eram brancos, com 22% de negros (somados pretos e pardos). Indígenas representam apenas 0,1% dos formados na profissão e amarelos, 2,5%.
Medicina é o curso com a maior proporção de brancos do País, mas outros cursos como Odontologia e Economia têm números semelhantes – 75,4% e 75,2% de graduados brancos, respectivamente.
A distribuição geográfica dos médicos, como já mostra
vam estudos diversos, também é desigual, comprova o Censo de 2022. Enquanto no Distrito Federal está a maior concentração de médicos por habitantes – uma pessoa graduada em Medicina para cada 186,9 moradores –, no Maranhão está a menor concentração – um médico para cada 921,7 moradores.
Já a divisão entre homens e mulheres na Medicina é proporcional – praticamente metade para cada gênero.
POR GÊNERO. No recorte por gênero, aliás, os números mostram que já há mais mulheres com superior completo do que homens: em 2022, elas eram 20,7% do total de graduados, ante 15,8% de homens. Já a proporção da população com 25 anos ou mais “sem instrução e fundamental incompleto” era de 37,3% entre eles e 33,4% entre elas.
Um outro indicador usado pelo IBGE, de anos de estudo, também tem vantagem feminina. Na população de 25 anos ou mais, a média de anos de estudo entre elas é de 9,8 anos, e a deles é de 9,3 anos.
Mas há variações muito expressivas entre as áreas de graduação. Dentre as 40 áreas selecionadas especificamente pelo IBGE, a de Serviço Social foi a que mais registrou a participação f e mi n i n a . E m 2022, 93% das pessoas com curso de graduação concluído nessa área eram mulheres.
Elas registravam também participação expressiva em cursos concluídos em Enfermagem (86,3%) e formação de professores sem áreas específicas (92,8%). No polo oposto, só 7,4% das pessoas com graduação concluída em Engenharia Mecânica e Metalurgia eram mulheres.
Proporção de brasileiros diplomados ainda é baixa
Guilherme Lichand Professor de Educação da Universidade de Stanford
Aproporção de brasileiros de mais de 25 anos com diploma universitário atingiu 18,4% em 2022. É o que mostram os dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa parcela ainda é menos da metade daquela dos países da Organização para Cooperação Desenvolvimento Econômico (OCDE) – 40%.
Ainda há muito espaço para aumentar a proporção de brasileiros que concluem a universidade, e isso é especialmente verdade entre a população historicamente excluída dela. Segundo dados do Censo, se a proporção de amarelos com ensino superior em 2022 era de 44,1% (maior que a média dos países desenvolvidos) e a dos brancos, 25,8% (mais próxima daquela dos Estados Unidos), entre os pretos e pardosa porcentagem ainda era bem mais baixa – em torno de 12%.
As causas da baixa penetração do diploma universitário, em particular entre essas maiorias minorizadas, são multifatoriais. Um estudo recente mostra que, entre os anos de 2007 e 2015, a proporção dos estudantesco maidadecorre tano9.ºa no era de 78% entre meninas brancas de renda alta, mas de apenas 20% entre meninos pretos de renda baixa.
Defasagem escola ré o maior preditor de abandono escolar subsequente. Além disso, mais da metade de quem ingressa no ensino superior não conclui o curso. Estudos mostram que, na maioria dos casos, a evasão é motivada pela falta de conexão percebida entre o curso universitário e maior empregabilidade e renda trajetória futura. Entender com profundidade e endereçar de forma efetiva as causas das trajetórias irregulares e da evasão entre os poucos que chegam à universidade são os ingredientes mais promissores para que nossos números se aproximem daqueles de países desenvolvidos; sobretudo porque a velocidade de crescimento das matrículas no ensino superior desacele
Dito isto, se mesmo na OCDE a média de concluintes da universidade não ultrapassa os 40%, que caminhos um país oferece aos outros 60% da população? Em países como Suíça, Alemanha, Itália e Espanha, só 10-20% da população busca se qualificar depois de concluir o ensino médio. Em diferentes pontos da trajetória profissional, jovens e adultos ingressam em cursos da Educação Profissional e Técnica (EPT), capazes de qualificar para demandas reais, associadas a empregabilidade e renda.
Concluída a longa reforma curricular do ensino médio, o Brasil tem agora amplo espaço para expandir a EPT. É a chance de manter mais jovens na escola com uma formação mais aplicada e atraente, mas também de planejar como essa formação se conecta com oportunidades de seguir se qualificando após a conclusão dessa etapa.
Se conduzida com qualidade, a expansão da EPT (que tem 2,4 milhões de matriculados no Brasil, de acordo com os dados do Censo Escolar 2023) pode ser uma das raras reformas educacionais capazes de reduzir as desigualdades históricas que seguem nos assolando em todos os níveis.
*Estado de São Paulo, https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo, 27/02/2025, pg. A14