PORVIR – 17/03/2021 – SÃO PAULO, SP
5 perguntas sobre o Novo Ensino Médio
POR REDAÇÃO
Com um 2020 atípico, no qual professores e gestores escolares precisaram superar inúmeros desafios e adequar as aulas para o ambiente online, algumas discussões foram deixadas um pouco de lado, como é o caso da implementação do Novo Ensino Médio.
Aprovada em 2017, a reforma deve ser implementada em escolas de todo o país até março de 2022. Como principal objetivo, as mudanças da etapa colocam o jovem como protagonista da vida escolar e apoiam a realização do seu projeto de vida, de modo a promover uma aprendizagem com maior profundidade e que estimule o desenvolvimento integral dos estudantes por meio do incentivo à autonomia e à responsabilidade.
O Novo Ensino Médio surge para repensar um modelo de ensino que já não satisfaz os desejos e anseios do jovens, o que se manifesta nos indicadores da etapa: em 2016, 28% dos estudantes de ensino médio encontravam-se com mais de dois anos de atraso escolar e 26% dos estudantes abandonaram a escola ainda no primeiro ano.
Como qualquer novidade, o sistema ainda gera dúvidas e preocupações por parte de professores e gestores. Afinal, quais são as mudanças que precisam ser feitas e a partir de quando é preciso pensar sobre o assunto? Abaixo, com ajuda do Laboratório Inteligência de Vida, reunimos algumas perguntas e respostas recorrentes sobre o tema.
O que muda no novo ensino médio?
O Novo Ensino Médio traz uma série de mudanças que tem como objetivo colocar o aluno como protagonista. Para entendê-lo, é possível pensar em dois blocos principais: O currículo geral básico, que tem como referência a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e define competências e habilidades para quatro áreas do conhecimento (linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas), contemplando todos os componentes curriculares. Já os itinerários formativos, que correspondem a 40% da carga horária, oferecem caminhos de aprofundamento distintos aos estudantes em uma ou mais áreas de conhecimento e/ou na formação técnica e profissional.
O Novo Ensino Médio também altera a carga horária, ampliando de 2.400 para 3.00 horas totais, das quais 60% são destinadas para a formação geral básica e 40% aos itinerários formativos. Para isso, as redes terão a liberdade de definir como essa ampliação será realizada. Pode-se considerar, por exemplo, aumentar o horário de aula em uma hora por dia. No guia de implementação do Novo Ensino Médio, organizado pelo MEC, é possível encontrar exemplos de como essa divisão pode ser feita.
O que são os itinerários e como eles podem ser aplicados?
Os itinerários formativos são unidades curriculares ofertadas pelas escolas que possibilitam ao estudante aprofundar seus conhecimentos e se preparar para concretizar o seu projeto de vida, independente do caminho que ele optar, seja com o foco acadêmico no ensino superior, na formação técnica profissionalizante ou até mesmo a partir do empreendedorismo.
Cada rede escolar fica responsável por definir os itinerários oferecidos, considerando suas particularidades e, principalmente, o desejo dos estudantes. Além de aulas tradicionais, as unidades curriculares que compõem o itinerário formativo podem surgir no formato de projetos, oficinas, atividades e práticas contextualizadas, sempre pensando no protagonismo e engajamento dos estudantes.
Apesar da liberdade para a elaboração dos currículos dos itinerários, todos devem ser estruturados a partir de quatro eixos estruturantes: Investigação Científica, Mediação e Intervenção Sociocultural, Processos Criativos e Empreendedorismo. Eles podem ser combinados ou distribuídos ao longo dos itinerários formativos.
Os alunos do ensino médio estão preparados para tomar essa decisão?
Uma dúvida comum que surge ao pensar sobre o assunto é se os alunos estão preparados para tomar essa decisão. Neste sentido, é importante destacar uma carga horária específica para o desenvolvimento do projeto de vida dos estudantes logo no início da etapa ou o quanto antes possível. As redes deverão ofertar aos estudantes orientações vocacionais e profissionais.
De acordo com Carolina Pavanelli, diretora pedagógica do sistema de ensino Eleva, é importante prestar atenção à como os alunos estão fazendo essa escolha: “É muito importante que o aluno do nono ano já seja acompanhado e instituído a partir de 2021. É preciso explicar como essa escolha acontece e como ele deve montar seu projeto de vida. Esse processo deve ser algo estruturado para que o aluno tenha consciência de suas escolhas mesmo que ele mude de ideia.”
Sendo assim, o projeto de vida é componente obrigatório do Ensino Médio e convida a escola a proporcionar para o estudante um espaço de desenvolvimento integral. No e-book “Aprofundando o Novo Ensino Médio com LIV”, você lê mais sobre o assunto e confere como o Laboratório Inteligência de Vida pode auxiliar na implementação de um novo currículo.
Quem poderá lecionar?
Ao definir os itinerários formativos que serão oferecidos aos alunos, é importante também considerar quais são as formações e especializações dos professores. De acordo com Carolina Pavanelli, a escola pode apoiar os professores criando currículos e disponibilizando materiais didáticos para os itinerários formativos, dessa forma, o professor sabe por onde seguir.
Para além disso, é importante ressaltar que a escolha de professores é algo individual, mas Carolina traz um exemplo de como o Eleva construiu seus itinerários: “O interessante é que você traga itinerários que possam ser lecionados pelos professores que você já tem na sua escola. Em nossas escolas resolvemos trabalhar com o conceito de ‘disciplina norteadora’. Se você tem itinerário formativo de humanas chamado ’Novas democracias’, cuja disciplina norteadora é história, então o professor de história do ciclo geral básico é quem vai lecionar essa disciplina”, descreve.
O guia de implementação, disponibilizado pelo MEC, ressalta que é necessário entender quais são as formações e interesses dos professores da rede e estabelecer um diálogo com a sociedade para disponibilizar itinerários que contemplem esses interesses e necessidades.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação possibilita que profissionais com notório saber reconhecidos pelo estado lecionem, exclusivamente, cursos dos itinerários formativos técnico-profissionais. Estes profissionais deverão ser reconhecidos pelos respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de áreas relacionadas à sua formação ou experiência profissional.
Como fica o ENEM?
Hoje o ENEM está divs.idido em dois dias de avaliação, o primeiro contemplando as áreas de humanas e o segundo de exatas e biológicas. Apesar de ainda não existir uma definição de mudanças que contemplem o Novo Ensino Médio, o MEC compreende que o Exame deverá se adequar à BNCC de forma gradual.
De acordo com Carolina, essas mudanças devem começar a acontecer a partir de 2024, com dois dias de prova – o primeiro que contemple os conteúdos da base curricular, e o segundo que traga questões específicas a respeito dos itinerários formativo