Estado de São Paulo, 12/07/2020
Empresas buscam trabalhador mais flexível e resiliente
Com pandemia, capacidade de se adaptar a mudanças, como a adoção do home office, se tornou a competência mais desejada
Luciana Dyniewicz Renée Pereira
A quarentena imposta pela pandemia alterou o modo de trabalhar das pessoas, que agora, em grande parte, atuam de casa, se reúnem virtualmente e têm menos oportunidades para trocar uma ideia com os colegas de profissão. Essas mudanças exigem um profissional diferente também, e os recrutadores já começam a dar mais peso para algumas habilidades que, antes da quarentena, não eram tão relevantes.
Uma pesquisa da companhia de recrutamento Robert Half mostra que adaptabilidade é a competência mais valorizada hoje por causa da pandemia, seguida por resiliência e flexibilidade. Em julho do ano passado, um levantamento semelhante mostrava que flexibilidade aparecia apenas na sétima posição no ranking das habilidades mais desejadas nos empregados. À época, adaptabilidade e resiliência não apareciam nas opções de resposta.
“Houve uma mudança na busca por um tipo de comportamento. As empresas hoje querem saber como uma pessoa se adaptou ao trabalho em home office”, diz Bruno Barreto, especialista em recrutamento da Robert Half. Barreto lembra que quem é contratado hoje vai começar a trabalhar já de casa, sem conhecer a empresa fisicamente nem sua equipe, o que exige que o profissional consiga se adaptar rápido a um ambiente mais desafiador. “Tem de ser alguém que também vá atrás das coisas, não tenha medo de perguntar e seja auto gerenciável.”
Segundo o presidente da consultoria de recursos humanos Luandre, Fernando Medina, a capacidade de reaprender processos também terá mais relevância. “Hoje, tudo está em constante evolução. Portanto, esse tipo de competência se torna mais importante.”
O presidente do PageGroup no Brasil, Gil van Delft, destaca que as “soft skills” (habilidades comportamentais) já vinham ganhando importância antes da quarentena. Isso porque é mais difícil ensinar um funcionário a lidar emocionalmente com um problema profissional do que orientá-lo a usar uma ferramenta técnica. Com a pandemia, porém, essas habilidades se tornaram preponderantes.
“Adaptabilidade era algo já valorizado porque as empresas estão se transformando muito rapidamente. Mesmo assim, esse movimento ( de valorizar a competência) se acelerou muito com a covid. De abril para maio, as empresas redesenharam estratégias e se reinventaram. Então, a adaptabilidade se tornou ainda mais importante”, diz.
Van Delft acrescenta que resiliência e criatividade para momentos difíceis como os atuais também passaram a ser mais demandados. “Tudo que se fazia antes talvez não seja possível ou viável agora. Por isso, o fator criativo é muito importante.” Capacidade para tomar uma decisão rapidamente é outra característica que os recrutadores têm levado em conta, diz ele.
Além da capacidade de se adaptar facilmente, outras habilidades comportamentais necessárias sobretudo para um trabalho remoto têm sido foco dos recrutadores. Na avaliação da diretora de operações da Catho, Regina Botter, o cenário pós-pandemia exigirá dos trabalhadores mais habilidade para lidar com ferramentas digitais, uma vez que o home office deverá se consolidar no País. Isso demandará mais capacidade de autogestão, gerenciamento de tempo e disciplina.
No caso de trabalhadores em cargos mais elevados, as empresas procuram agora que eles tenham mais empatia e boa capacidade de comunicação. Empatia se tornou desejado para garantir que o chefe compreenda as dificuldades pessoais e familiares que possam afetar o trabalho. “Uma pandemia mexe com a estabilidade emocional. O chefe tem de saber como a pessoa está, se ela consegue fazer uma ligação naquele horário com uma criança em casa”, diz Van Delft. Já a comunicação tem sido valorizada em um momento em que transparência com funcionários e clientes é vital.
O crescimento do home office também tem exigido maior capacidade de se organizar e liderar equipes em ambientes híbridos, diz o professor da Fundação Dom Cabral Paulo Almeida. “Junta-se a isso a necessidade de maior habilidade colaborativa e a capacidade para ampliar o capital social ( número e qualidade de conexões em rede).”
“Mudou a busca por tipo de comportamento. As empresas hoje querem saber como uma pessoa se adaptou ao home office.” Bruno Barreto
ESPECIALISTA EM RECRUTAMENTO