Pressão no ambiente de trabalho pode levar até lideranças ao burnout

É importante identificar o esgotamento em gestores, os impactos na equipe e as ações que a empresa deve tomar em caso de adoecimento ou afastamento

CAROLINA C. SENA | OESP*

A discussão sobre saúde mental e adoecimento no ambiente de trabalho tem sido cada vez mais frequente, e os líderes também estão sujeitos aos efeitos da pressão no ambiente corporativo.

Fernanda Ramos, conselheira e presidente da Comissão de Empreendedorismo Legal da OAB/SP, comenta sobre a necessidade de revisar o modelo de liderança sobrecarregada: “Quando a gestão se transforma em um agente de pressão contínua sem apoio institucional, o risco de adoecimento mental se torna uma consequência anunciada e passível de responsabilização por omissão na prevenção”.

A síndrome de esgotamento profissional, ou burnout, pode atingir a todos, independentemente da posição hierárquica. Muitas vezes, o líder pode não saber que está doente e, em outros casos, o estigma ainda existente no mundo corporativo pode levar a pessoa adoecida a omitir seu estado de saúde, causando mais danos a longo prazo.

É importante se atentar a mudanças repentinas de humor e irritabilidade. Quando o líder se torna uma pessoa difícil de lidar de um dia para o outro, é um sinal para investigar a possibilidade de algo não estar certo.

Quando um gestor adoece, os indicativos também são encontrados no resto da equipe. “É muito comum o gestor estar adoecido quando pessoas da equipe também adoecem. Muito se fala que ser gestor é um

Doenças diferentes O burnout está ligado ao contexto profissional, já a depressão afeta todos os aspectos da vida

fator de risco para o adoecimento mental, especialmente quando o burnout surge logo após uma promoção para um cargo de liderança”, explica André Fusco, médico e psicanalista.

Rodolfo Damiano, pesquisador e professor da Universidade de São Paulo (USP), destaca a importância de encontrar um profissional da saúde que saiba diferenciar esses sintomas de outras condições clínicas como depressão ou ansiedade.

O burnout está especificamente ligado ao contexto profissional, enquanto a depressão afeta todos os aspectos da vida.

O papel inicial da empresa é oferecer suporte, com atendimento médico e especializado. Caso haja afastamento, é importante manter a atenção para não prejudicar o resto da equipe.

Para a pessoa afastada, é indispensável que a empresa mantenha contato, evitando isolamento e respeitando a privacidade.

RETORNO. Isso não significa questionar sobre a doença ou pressionar pela recuperação. Continuar mantendo contato e compartilhar novidades é um incentivo para que a pessoa se sinta pertencente à empresa e contribui para que o retorno seja mais fácil.

“Do ponto de vista legal, a empresa tem o dever de garantir um ambiente de trabalho saudável física e psicologicamente, sob pena de responder por negligência na prevenção de danos à saúde. A NR-1 (norma do governo federal sobre saúde mental) reforça essa obrigação ao exigir a identificação e o controle dos riscos organizacionais e psicossociais por meio do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR)”, afirma Fernanda.

Em uma situação de afastamento, a comunicação transparente com os subordinados de uma área é imprescindível, respeitando a privacidade do líder. O foco é transmitir a ideia de continuidade das atividades apesar da ausência.

*Estado de São Paulo, https://digital.estadao.com.br/o-estado-de-s-paulo, 08/06/2025, pg B9

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