O Estado de São Paulo, ponto.edu, 31 de janeiro de 2012 | 1h 17
Subindo a escada do Itamaraty
Uma das carreiras mais concorridas do País, a diplomacia é dividida em 6
degraus. Saiba como um estudante do Instituto Rio Branco, em Brasília, pode
chegar a embaixador em Washington ou na ONU
Cedê Silva, Especial para o Estadão.edu
Estão abertas até 12 de fevereiro as inscrições para
um dos concursos públicos mais difíceis do País, o de diplomata. As 30 vagas
(duas delas reservadas a portadores de deficiência) serão disputadíssimas. No
ano passado, foram 276 candidatos por vaga – cinco vezes a procura pelo curso
mais concorrido da Fuvest, o de Engenharia Civil em São Carlos. Em busca de
representar um país em ascensão e do salário inicial de quase R$ 13 mil,
brasileiros formados em diversas áreas estão de olho no Itamaraty.
Veja também:
Instituto
Rio Branco abre 30 vagas para a carreira diplomática
Denis Pinto: Entre os requisitos para promoção estão o tempo, o serviço no
exterior e os cursos
As etapas da carreira estão definidas em lei. A
hierarquia é rígida, como nas Forças Armadas. São seis degraus. Quem passa no
concurso assume o cargo de terceiro-secretário, enquanto ainda faz o curso no
Rio Branco. Depois de pelo menos 20 anos, pode chegar a ministro de primeira
classe, verbalmente chamado de “embaixador” mesmo se não chefia uma missão no
estrangeiro.
Apenas a primeira promoção, para segundo-secretário,
é automática. “Ela ocorre semestralmente, de acordo com as vagas decorrentes de
promoções nas classes superiores”, explica o embaixador Denis Pinto,
subsecretário-geral do Serviço Exterior. A partir daí, as promoções se dão por
mérito.
Existe um atalho. Os postos no exterior são
classificados em quatro categorias, de A a D. Para o cálculo das promoções, o
tempo nos postos C (em cidades como Pequim, Moscou e Nova Délhi, entre outras)
conta em dobro, e nos postos D (como, por exemplo, Cartum e Islamabad), o
triplo. Ainda assim, é preciso ficar pelo menos três anos em cada classe.
Mas para subir qualquer escada é preciso chegar ao
primeiro degrau. Neste caso, vencer milhares de candidatos – número muito
superior ao de diplomatas existentes – em provas de Direito, Economia,
Geografia, História e tantas outras, distribuídas em quatro fases. A
meritocracia já é exercida muito longe da Esplanada.
QUEM É QUEM
3.º secretário
O terceiro-secretário já é diplomata, mas é também
aluno do Curso de Formação do Rio Branco, que dura dois anos. Outros cursos
virão mais adiante.
2.º secretário
A primeira promoção, para o cargo de
segundo-secretário, é a única automática, e leva, no mínimo, três anos. A partir
daqui, é por mérito.
1.º secretário
O primeiro-secretário pode ser assessor do ministro
ou do secretário-geral. É também a primeira classe na qual o diplomata pode
chefiar alguma coisa: a assessoria que atende às consultas dos deputados e
senadores e acompanha os tratados no Congresso.
Conselheiro
Para chegar a conselheiro são necessários, no mínimo,
nove anos. O conselheiro pode chefiar uma divisão (como a de Direitos Humanos ou
a das Nações Unidas), ou até um posto do grupo D.
Ministro de 2.ª classe
O ministro de segunda classe, chamado apenas de
“ministro”, já pode assumir a chefia de um departamento (como o de Meio
Ambiente, ou do Oriente Médio).
Embaixador
Dos 1.400 diplomatas em atividade, apenas 130 estão
na classe mais alta da carreira. São chamados de “embaixadores”, mesmo em
Brasília. Somente eles podem chegar a secretário-geral do Itamaraty. O mais
jovem embaixador em tempos recentes é Gelson Fonseca Júnior – promovido em 1991,
aos 44 anos.
PRIORIDADES DIPLOMÁTICAS
O diplomata que fica em Brasília ou serve nos postos
A (em cidades como Berlim, Berna, Bruxelas, Buenos Aires, Haia, Lisboa ou
Londres) ou B (Atenas, Budapeste, Oslo, Montevidéu, Praga, Santiago ou Tóquio,
por exemplo) avança mais lentamente na carreira.
ACELERANDO A CARREIRA
Já quem se aventura pelos postos C (como Ancara,
Assunção, Caracas, Havana, Pretória, Seul ou Varsóvia) ou D (Bagdá, Brazzaville,
Cartum, Nairóbi, Porto Príncipe ou Teerã, entre outros) pode ser recompensado
com promoções mais rápidas.
CURRÍCULO
Maria Luiza Viotti
Embaixadora do Brasil na ONU, 57 anos
Natural de Belo Horizonte, formou-se em Economia na
Universidade de Brasília (UnB). Ingressou no serviço diplomático em 1975. Chegou
a embaixadora em 2006 e chefia desde 2007 a missão do Brasil na ONU em Nova
York, o que incluiu o mandato de 2010-2011 no Conselho de Segurança.
Antonio Patriota
Ministro das Relações Exteriores, 57 anos
Graduado em Filosofia pela Universidade de Genebra, o
carioca Antonio Patriota entrou no Instituto Rio Branco em 1978. Tornou-se
ministro de 1.ª classe em 2003. Foi embaixador em Washington e secretário-geral
do Itamaraty antes de ser nomeado chanceler do governo Dilma Rousseff.
LINHA DO TEMPO
1808
Abertura dos portos
Com o bloqueio econômico que Napoleão impôs sobre a
Europa, D. João VI assina em Salvador o tratado de abertura dos portos às nações
amigas.
1864/1870
Guerra do Paraguai
Uma aliança composta por Brasil, Argentina e Uruguai
combate as forças do ditador Solano López, no maior conflito já ocorrido na
América do Sul.
1902/1912
Chefia do Barão do Rio Branco
Como ministro das Relações Exteriores, o Barão do Rio
Branco consolidou as fronteiras do País, fechou um importante acordo com a
Bolívia e quase foi candidato a presidente.
1945
Criação do Instituto Rio Branco
No mesmo ano em que termina a 2.ª Guerra e o Brasil
torna-se um dos 51 membros fundadores da ONU, é criado o Instituto Rio Branco,
responsável pela seleção e treinamento dos diplomatas brasileiros. Hoje, todas
as embaixadas são chefiadas por funcionários de carreira.
2011 (fevereiro)
Brasil na ONU
Em fevereiro de 2011, o Brasil assumiu a presidência
do Conselho de Segurança da ONU. Os dez membros rotativos desse órgão são
eleitos pela Assembleia Geral e têm mandatos de dois anos. Brasil e Japão são os
que foram eleitos mais vezes: dez cada um.
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