Gazeta do Povo, 04/07/2006 – Curitiba PR

A
adolescência e a escolha profissional

Selena Garcia Greca

Segundo pesquisa realizada durante quatro anos com jovens que
estavam em crise e desistiram do curso superior (Prof.
Ivette Piha Lehman, coordenadora do Serviço de Orientação Profissional
da USP), publicada pelo jornal Folha de S.Paulo em outubro/2005,
importantes dados foram levantados: 44,5% dos alunos que abandonaram a
faculdade erraram na escolha do curso e várias causas foram diagnosticadas como
influência dos pais, parentes e amigos, desconhecimento da área, fracasso na
primeira opção, influência do trabalho ou curso técnico, escolha por um curso
de fácil acesso;

30,7% dos alunos tiveram decepção com o curso, com a universidade
ou ambiente universitário, com professores, fracasso em acompanhar determinadas
disciplinas e motivos vagos.

Para compreendermos essa realidade, faz-se necessário
considerarmos alguns aspectos importantes do desenvolvimento humano que nos
habilitam a ter um papel decisivo, enquanto pais, neste complicado processo no
qual se encontra o nosso jovem adolescente. A medida
que cresce, o ser humano se modifica. A adolescência é a fase em que um mundo
novo é iniciado. Existem as transformações físicas e psicológicas que são
evidentes. É o primeiro passo para a individualização e o amadurecimento. O
“salto” é em direção a si mesmo, como um ser individual. Ocorre um
intenso e grande desprendimento. Não mais do seio materno, mas da família. É um
processo longo e delicado, onde se definirá uma identidade de pessoa e a busca
contínua do sentido de vida. Ao atingir a adolescência o ser humano passa 
do papel de ser cuidado, protegido e assistido, para o de ser responsável; a brincadeira e diversão irá ser substituída pelo trabalho.
A entrada neste mundo é, então, ora desejada, ora temida, pois esta mudança
significa para o adolescente a perda definitiva de sua condição de criança.
Dessa forma, eles relutam muito em assumir sua autonomia porque sentem que
abandonam os pais e porque terão que assumir sozinhos a responsabilidade por
suas decisões. Como não estão acostumados com essa situação, já que os pais
faziam este papel, desistem facilmente diante dos primeiros obstáculos e
acreditam que as dificuldades são grandes demais… É em meio a esta
turbulência que o jovem se encontra, que ele é surpreendido por um
questionamento maior: o trabalho. Como vou cuidar da minha vida, quais minhas
habilidades, competências, poderes, limites, valores? Para que vim ao mundo? E
aí está o grande dilema: eles não conseguem processar uma escolha consciente e
madura porque ainda consideram a possibilidade de encontrar uma maneira de
resolver as situações da vida sem ter de fazer esforço, sem assumir a
responsabilidade necessária. Acreditam, ainda, que têm a escolha de não encarar
a vida com todos os compromissos que ela impõe, buscando incessantemente o
prazer entre tantos anseios e desejos… e não conseguem renunciar a nada. A
autonomia, então, deverá ser ensinada, exercitada aos poucos, construída
progressivamente e com custos para o jovem. É neste momento que a família deve
ser a precursora de uma escolha mais autônoma e responsável, tendo ações
efetivas com o filho como oportunizar a informação a respeito do universo
ocupacional, mostrando as  numerosas possibilidades que o mundo moderno
oferece, facilitar para que cada um reflita sobre as habilidades que possui,
construir dentro da família o conceito de trabalho como um vir a ser, antes de
vir a ter, conscientizá-lo sempre de suas implicações enquanto um ser social,
discutir no ambiente familiar as expectativas e ideais
familiares em relação ao futuro de cada um, as diferentes profissões
desempenhadas pelos membros da família e a transmissão de “fazeres”
que pode atravessar gerações. Se os pais estiverem com suas escolhas mais
esclarecidas, terão maiores condições de auxiliar o adolescente sem ficar
projetando desejos e sonhos não realizados nas escolhas dos filhos. Nossa
missão, enquanto pais e educadores, será de
conduzi-los ao exercício da liberdade e responsabilidade, porque ao fazer
escolhas o homem determina o presente e o seu destino. E a decisão é a
expressão máxima da liberdade. Quando deixamos as coisas acontecerem sem
interferir no curso da vida, estamos abdicando da própria liberdade e se não
sabemos para onde vamos, qualquer caminho serve… Existe então a culpa,
depressão e a sensação de perda. Mas o comprometimento com a
decisão nos mantém
vivos, cheios de energia e senhores do nosso destino.
Se as opções, sugestões e seduções são tantas que, influenciando nosso jovem,
muitas vezes o impedem de efetuar escolhas maduras, vamos desafiá-los a
transformar a informação e o conhecimento em sabedoria, pois apenas assim, ele
poderá ter decisões igualmente sábias, com maturidade e responsabilidade.
Então… como disse Tolstoi, “pode-se viver no mundo uma vida magnífica
quando se sabe trabalhar e amar aquilo que se trabalha”.

 


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