Folha de São Paulo, Cotidiano, sábado, 17 de outubro de
2009
WALTER CENEVIVA
A força dos jornais
Tem sido insistente o questionamento do jornal
impresso, se lhe sobrará espaço na mídia digital
A INCONSTITUCIONALIDADE da velha Lei de Imprensa, reconhecida pelo STF
(Supremo Tribunal Federal), teve um lado positivo: será substituída por outra, a
regular o direito da informação, acoplado ao dever de informar (Constituição
artigo 220), em termos livremente debatidos. Espera-se que o Congresso a aprove
logo, livre das tendências recentes observadas na Itália, na Venezuela e na
Argentina.
Judith Brito e Ricardo Pereira, em seu livro "A Força dos Jornais" (ANJ,
151 págs.), situam o papel desempenhado pela mídia impressa, com as
transformações vividas e seus efeitos, nos últimos decênios do século 20.
Aproveitaram os 30 anos da ANJ (Associação Nacional de Jornais) e foram além,
para projetarem sua visão do futuro.
Recordam que a imprensa chegou tarde ao Brasil. Apenas depois da
Independência, os jornais compuseram o fórum de discussão dos problemas
nacionais, simultaneamente com a defesa da liberdade de expressão e de
manifestação do pensamento.
Judith e Ricardo mesclaram elementos da história da entidade com a dos
veículos impressos e da intimidade desses com os fatos da vida nacional.
Acentuaram as lutas contra a opressão, trataram de tempos da liberdade e das
tensões em que a notícia quase sempre desagradava aos poderosos. Cuidaram da
transformação tecnológica imposta às empresas, simultaneamente com a pluralidade
de veículos.
O jornal, na forma conhecida hoje, começou há uns quatro séculos,
aproveitando o desenvolvimento dos processos de impressão, com o alemão Johannes
Gutenberg, falecido, provavelmente, em 1468. Daí saiu a criação de jornais, a
princípio tímida, até que se compreendesse seu papel essencial.
A caminhada foi longa até os jornais da atualidade, impressos ou
eletrônicos. Na mídia de hoje, o povo (titular do direito à informação) e os
obrigados ao dever tiveram seu número aumentado, sem serem necessariamente
identificados ou identificáveis.
A televisão é a primeira no quesito quantidade de destinatários, para os
que captem o sinal emitido. Quanto à internet, é razoável o entendimento de que
é meio de comunicação, mas inconfundível com a mídia propriamente jornalística.
Entre internautas e recebedores predominam indivíduos, cuja comunicação deve ser
regulada por leis especiais, diversas das jornalísticas.
Tem sido insistente o questionamento do jornal impresso, se lhe sobrará
espaço na mídia digital. Para os autores do livro mencionado, a perspectiva traz
a marca do antagonismo. Uns falam do desaparecimento dos jornais. Outros, de sua
consolidação definitiva.
A facilidade de acesso à informação não para. Agora chega ao consumidor
pelo caminho livre da informática. Reitera-se a cada minuto a aldeia global da
internet. A multiplicidade das fontes, a dúvida sobre sua legitimidade, tenderá
a se agravar.
Judith e Ricardo definem sua posição querendo "extrair do empreendimento
tradicional o investimento necessário para construir a ponte para o futuro".
Eles têm razão, até mesmo pela transitoriedade dos equipamentos, em constante
atualização. Depois, porque a infinita massa das informações deve ser digerida.
Na digestão, a posição do jornal, mesmo eletrônico, terá espaço e iluminação
para tornar mais claras as vertentes da informação.
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