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Revista Isto é, COMPORTAMENTO, |  N° Edição:  2292 |  18.Out.13 –
20:50 |  Atualizado em 19.Out.13 – 20:40

A geração que vai mudar o mundo


Pesquisa realizada em 27 países revela que os jovens
de hoje apostam no poder da tecnologia, acreditam que podem fazer a diferença e
são muito otimistas. Saiba como eles estão transformando a maneira de se
relacionar, trabalhar, fazer política e negócios

Rodrigo
Cardoso, Mariana Brugger e Andres Vera

Aos 23 anos, a paulista Lala Rudge é referência para
adolescentes e garotas na sua idade com dicas de moda, beleza e life style pela
internet. Ela começou a postar fotos de si própria no Instagram e em um blog há
três anos. Hoje, é seguida por quase 400 mil pessoas na rede social de fotos e
seu diário virtual recebe 80 mil visitas diárias. O blog possui dez anunciantes
e, para ter um banner estampado nele por um mês, a empresa interessada tem de
desembolsar entre R$ 5 mil e R$ 30 mil. Com o sucesso, Lala abandonou a
faculdade de direito e é disputada por grifes de moda para prestigiar eventos e
desfiles.  

Eles são otimistas, acreditam que podem fazer a
diferença, têm espírito empreendedor e são ultraconectados. Também podem ser
descritos como narcisistas, excessivamente confiantes e um tanto mimados. O
retrato dos jovens nascidos entre os anos 1980 e 2000 depende do ângulo
escolhido e da lente utilizada. Mas a juventude de hoje, que cresceu embalada
pela maior revolução tecnológica dos últimos tempos, a internet, vem
transformando o seu tempo com uma eloquência que não se via desde os anos 1960 e
1970, quando a garotada fez barulho pela liberdade sexual e contra os regimes
ditatoriais e as guerras. Educados sob o lema “yes, you can” (sim, você pode),
interligados pela rede mundial onde compartilham ideais e ambições, eles estão
mudando a forma de se relacionar, trabalhar, fazer política e negócios. 

Uma pesquisa feita em 27 países, inclusive o Brasil,
com 12 mil jovens de 18 a 30 anos traçou o perfil da Geração Milênio. Salta aos
olhos a crença no poder da tecnologia (leia quadro), capaz, na visão deles, de
transpor barreiras de linguagem, de facilitar a conquista de um novo emprego e
até de reduzir as diferenças sociais. Na enquete, intitulada Telefónica Global
Millennial Survey, encomendada pela multinacional de telecomunicações espanhola,
os brasileiros se destacam pelo otimismo: 81% acreditam que os melhores dias do
País estão por vir, contra 67% da juventude no mundo, e 87% esperam ter dinheiro
o suficiente para se aposentar de forma confortável – a média mundial ficou em
61%. Também vale ressaltar que 80% dos nossos jovens creem que podem se destacar
na sua comunidade (no mundo o percentual ficou em 62%) e apostam no
empreendedorismo. Para 47% dos brasileiros entrevistados, ser dono do próprio
negócio é muito importante, contra 22% na média geral. “Essa geração quer mudar
o mundo como o Mark Zuckerberg, do Facebook, criando algo grande e ganhando
muito dinheiro”, resume a psicóloga Maria Célia Lassance, do Instituto de
Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

A estudante de moda Jordana França é um exemplo do
jovem empreendedor. Aos 22 anos, nunca pensou em ter patrão. Recém-chegada de um
intercâmbio na Itália, ela acaba de inaugurar, com o apoio financeiro da
família, seu primeiro empreendimento, a loja de roupas de ginástica Move Fitwear.
“Preciso ser um sucesso. E rápido”, diz. Jordana toca o negócio que fatura cerca
de R$ 30 mil por mês, mas também gosta de fazer as vezes de modelo e posta fotos
de si própria no Instagram da loja. Os planos para o futuro já estão delineados:
“Em seis meses quero abrir outra unidade, lançar minha coleção de peças e
vendê-las pela internet”.

 “Há um desejo muito grande de se arriscar longe do
caminho convencional traçado dentro de uma empresa”, diz Marcela Butazzi,
consultora da MB Coaching especializada em carreira para jovens. Em seu
escritório, Marcela ouve queixas diante da promoção rápida que não veio ou do
salário que não cresceu exponencialmente. “Antigamente, o sujeito primeiro
acumulava experiência no mercado. Hoje, ele quer experiência e reconhecimento
simultâneos”, explica. Em 2012, uma pesquisa da agência de recrutamento Cia de
Talentos sondou 40 mil jovens em todo o País. O sonho de 56% dos entrevistados
era não ter patrão e metade revelou a intenção de montar uma empresa no prazo
máximo de seis anos. 

O desejo de tornar-se uma marca é outra
característica desta geração. Jovem, bonita e bem-nascida, a paulista Lala
Rudge, 23 anos, virou referência para adolescentes e garotas da sua idade ao dar
dicas de moda, beleza e life style pela internet. Ela começou a postar fotos
dela mesma no Instagram e em um blog há três anos. Hoje, seu diário virtual
recebe 80 mil visitas diárias. Para ter um banner estampado nele por um mês, a
empresa interessada tem de desembolsar entre R$ 5 mil e R$ 30 mil. Lala, que
deixou a faculdade de direito para desbravar o mundo virtual, possui dez
anunciantes. Os convites recebidos constantemente para figurar na primeira fila
de desfiles são um termômetro da sua influência. Grifes como Cris Barros, Mixer
e Daslu, entre outras, fazem questão da presença dela em seus eventos.

 Mesmo gigantes do varejo, como a Riachuelo, estão de
olho nas blogueiras fashion. No fim do ano, a marca irá lançar uma coleção
assinada por dez personalidades da moda, entre elas duas blogueiras. “Elas são
grandes formadoras de opinião”, afirma Marcella Kanner, gerente de marketing da
Riachuelo. “Temos um núcleo de mídias sociais que acompanham, entre outras
coisas, blogs e sites dessa turma.” Para Veranise Dubeux, da Escola Superior de
Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro, pesquisadora desse público nas áreas
social e de consumo, a juventude atual tem uma maneira peculiar de lidar com a
pressão para se destacar e ainda ter qualidade de vida. “Ela compartilha isso
usando a felicidade como meio de promoção, mostrando sempre coisas agradáveis
nas redes sociais.” É nessa passarela que Lala desfila. Seu Instagram é seguido
por 396 mil pessoas. “Jovens como eu não querem trabalhar para os outros”, diz
ela, hoje dona de uma grife de lingerie localizada no badalado shopping
Iguatemi, em São Paulo.

Carreiras tradicionais em grandes empresas continuam
atraindo os profissionais do futuro, mas a relação entre o jovem talento e o
chefe experiente mudou drasticamente. Flexibilidade de horários, plano de
carreira e maior acompanhamento profissional são fatores decisivos na hora de
preencher vagas. Uma pesquisa da Amcham, a Câmara Americana de Comércio, ouviu
87 gestores de recursos humanos e mostrou que 34% deles já haviam criado algum
plano específico para reter funcionários da Geração Milênio. Este mês, 8.185
brasileiros até 31 anos foram entrevistados pela Clave Consultoria de Recursos
Humanos e o LAB SSJ, consultoria especializada em soluções de aprendizagem
corporativa, que queriam entender o que esses profissionais procuram na hora de
escolher uma empresa e o que os faz permanecer nela. O estudo, intitulado
“Atração e Retenção de Jovens”, mostrou que os fatores mais importantes para a
atração dessa mão de obra são a boa perspectiva na carreira futura (69,3%) e a
possibilidade de desenvolver novas habilidades (60%). O que retém esses jovens
são os desafios constantes e responsabilidades relevantes (39,1%) e a existência
de um gestor que os apoie e lhes dê autonomia para realizar o trabalho (31,1%).

 Hoje, é comum ver empresas oferecendo acompanhamento
profissional a pessoas de 25 anos. “Os dilemas foram antecipados”, explica a
consultora Adriana Marques, da Sociedade Brasileira de Coaching. “Quanto mais
possibilidades de carreiras, maior é a quantidade de dúvidas e menor o
comprometimento com a companhia.” Uma das marcas da Geração Milênio é não temer
as novas experiências profissionais. Estatisticamente, eles tendem a permanecer
em uma empresa por dois ou três anos, enquanto os Baby Boomers, seus pais,
ficavam entre cinco e sete anos, de acordo com a pesquisadora americana Peg
Streep, que irá lançar um livro sobre o tema em dezembro.

O engenheiro carioca Augusto Acioly, 29 anos, formado
há quatro, está em seu quarto emprego. Há três meses, conseguiu realizar o sonho
de viver no Exterior e foi morar em Milão, na Itália. Funcionário da
multinacional francesa Anotech Energy, ele presta consultoria a uma gigante
italiana do ramo petrolífero. Antes, trocou três vezes de patrão. Ficou seis
meses no primeiro emprego, depois passou dois anos em uma empresa de onde saiu
para ganhar três vezes mais. A experiência, porém, durou apenas oito meses. “Saí
porque o chefe não enxergava que poderíamos crescer juntos, como alguém que pode
agregar. Quando vi que não teria espaço para crescer, procurei outro lugar”,
diz. “Uma das mudanças possibilitou que eu adquirisse experiência em
gerenciamento, pois sempre havia atuado na parte técnica da profissão.” Como não
poderia deixar de ser, quase todas as oportunidades de trabalho de Acioly
surgiram via Linkedin, a rede social profissional.

Na pesquisa da Telefónica, temas como educação e
desigualdade social também estão em alta na cartilha de interesses da Geração
Milênio brasileira. Esses dois fatores foram citados como os que mais afetam o
País e receberam 24% dos votos, seguido de saúde, com 17%. Não surpreende,
então, que nas manifestações de junho – todas coordenadas pelas redes sociais –
as principais bandeiras fossem melhorias no ensino, na saúde e no transporte.
Muito antes dos protestos, a estudante catarinense Isadora Faber, 14 anos, já
denunciava a precariedade do sistema educacional público do País. No ano
passado, ela ganhou notoriedade ao criar a fanpage Diário de Classe, no Facebook,
na qual mostrava como funciona uma escola pública na visão de quem a frequenta.
Seus posts ecoaram pelo País e a colocaram no centro das atenções. “Se não fosse
a internet talvez eu não tivesse feito nada”, diz ela. Com a repercussão, a casa
da adolescente foi apedrejada e ela recebeu uma ameaça de morte. 

Isadora, porém, seguiu em frente e, hoje, é
referência para empresários, educadores e gestores públicos que frequentam as
palestras dela pelo País. No mês passado, a estudante catarinense lançou o site
de sua ONG que, entre outras propostas, servirá de canal de denúncias sobre a
situação de escolas de todo o Brasil. A postura de Isadora está alinhada com o
pensamento de 54% dos brasileiros ouvidos na pesquisa da Telefónica, para quem
melhorar o acesso e a qualidade da educação é uma maneira de fazer a diferença
no mundo. “A maioria dos jovens de hoje quer resolver questões sociais que, eles
acreditam, foram deixadas pelas gerações anteriores”, afirma o sociólogo Ronald
E. Riggio, professor de liderança e psicologia organizacional da Claremont
McKenna College, na Califórnia.

Da mesma forma, a questão ambiental tem um apelo
inédito para a juventude. Proteger o meio ambiente é citado por 45% dos
brasileiros como a maneira de fazer a diferença mundialmente e 70% acreditam que
a questão da mudança climática é muito urgente. O pernambucano Lucas Tiné, 21
anos, tornou-se ativista ambiental três anos atrás, em meio à discussão da
votação do novo Código Florestal. Depois de alguns debates via internet, ele e o
grupo que criou decidiram ir às ruas do Recife fazer coleta de lixo e educar a
população sobre a causa. “Percebi uma destruição do meio ambiente gigantesco em
minha cidade”, diz ele, que chegou a cursar jornalismo, mas hoje é flautista.
Tiné está presente em várias mídias sociais e lança mão delas para difundir suas
ideias. “As redes são a maior porta para o debate porque dão o maior e mais
rápido feedback atualmente”, acredita. “Meu trabalho de formiguinha pode se
converter em um trabalho do formigueiro todo muito mais rápido.” É com essa
crença que eles constroem a própria história e transformam o mundo.  


Fonte: Telefónica Global Millennial Survey: Global
Results


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