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Folha de São Paulo, Saúde+Ciência, sábado, 12 de maio de 2012

Alvo de disputas, acupuntura tem eficácia duvidosa

Fisioterapeutas,
psicólogos e farmacêuticos continuam praticando a técnica, apesar de decisão
judicial há um mês

Profissionais que não são
médicos brigam por direito na Justiça; uso só tem apoio científico no caso de
dor e náusea

MARIANA
VERSOLATO, GIULIANA MIRANDA,

DE SÃO PAULO,

REINALDO JOSÉ LOPES,
EDITOR DE
“CIÊNCIA+SAÚDE”

Um mês após a decisão do Tribunal Federal Regional da
1ª Região, segundo a qual profissionais como fisioterapeutas, psicólogos e
farmacêuticos não poderiam praticar a acupuntura, pouca coisa mudou na prática.

Os conselhos de fisioterapia, farmácia e psicologia
afirmam que os profissionais que têm a especialização necessária podem continuar
praticando a acupuntura, contrariando a ação movida pelo CFM (Conselho Federal
de Medicina) Para o conselho, a acupuntura é um ato reservado aos médicos.

"A atividade não tem regulamentação no Brasil que
diga que ela é exclusiva de uma ou de outra classe de profissionais", afirma
Humberto Verona, presidente do Conselho Federal de Psicologia.

"A profissão evolui, novas práticas surgem, e a lei
não impede o conselho de incorporar novas atividades ao trabalho do psicólogo",
afirma.

Verona diz ainda que o conselho entrou com um recurso
contra a decisão no Tribunal Federal Regional da 1ª Região e no Supremo Tribunal
Federal.

José Luís Maldonado, assessor técnico do Conselho
Federal de Farmácia, disse que os farmacêuticos também podem continuar
praticando a atividade, já que a entidade entrou com um agravo de instrumento.

DÚVIDAS CIENTÍFICAS

A técnica, apesar de disputada, tem poucas evidências
científicas a seu favor.

As mais recentes meta-análises (estudos estatísticos
que avaliam a confiabilidade de várias outras pesquisas) sugerem que apenas
certos tipos de dor -em geral crônica- e náusea podem ser tratadas pela
acupuntura com eficácia parecida ou superior à de terapias covencionais.

Mesmo nesses casos, "a evidência não é muito forte, e
não dá para saber se há grande parcela de efeito placebo", disse àFolha
 Edzard
Ernst, da Universidade de Exeter (Reino Unido).

"Isso quer dizer que precisamos de mais estudos, mas
idealmente eles não deveriam ser feitos por entusiastas da acupuntura", afirma
Ernst.

Parece haver alguma diferença entre o uso de agulhas
nos "pontos" tradicionais da acupuntura e em partes aleatórias da pele. "Mas ela
é limitada", diz Klaus Linde, da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha.
Pontos "falsos" também produziram efeitos em vários estudos.

Já para o médico acupunturista Hong Pai, do Centro de
Dor do Hospital das Clínicas da USP, a eficácia da prática já está comprovada.

"Antes da acupuntura ser liberada como especialidade
médica reconhecida no Brasil, houve uma avaliação profunda, que levou em conta
muitos aspectos e resultados científicos", diz ele.

Para ele, a execução correta da técnica exige
conhecimentos profundos de anatomia, bem como noções básicas de diferentes
especialidades, como neurologia, reumatologia e clínica geral. Por isso, diz, a
restrição da atividade aos médicos é acertada.


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