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UOL EDUCAÇÃO – 05/04/2016 – SÃO PAULO, SP

Aposentada se forma em serviço social aos 68: `Quero ajudar as pessoas`

JÉSSICA NASCIMENTO

Aos 68 anos, a
aposentada Maria Madalena Silva acaba de se formar em serviço social. Mãe de
dois filhos, ela não deixou a idade e nem os cabelos brancos atrapalharem o
sonho de conquistar um diploma de ensino superior. Segundo a moradora de Santa
Maria (DF), a motivação surgiu após trabalhar em uma clínica de reabilitação
como cozinheira, onde anos depois voltou como estagiária. `Só quero ajudar as
pessoas`, diz.

Maria iniciou os estudos
na zona rural de Patos de Minas. Entrou na escola com sete anos e ficou apenas
até os 11. Não havia professores na região. Mudou-se para Brasília aos 22 e
trabalhou como empregada doméstica. Nos poucos momentos de lazer, os livros eram
sua companhia. `Apesar das dificuldades morando no interior, sempre fui a melhor
leitora da classe`, lembra.

Com duas filhas
pequenas, a mulher teve que adiar o sonho de concluir os estudos. Trabalhou 14
anos como comerciante em um shopping de Brasília. Anos depois, foi cozinheira em
uma clínica de reabilitação A motivação para estudar serviço social surgiu ali,
já que a maioria dos pacientes, segundo ela, não sabiam dos direitos que
possuíam.

`O Ministério Público
tem conhecimento sobre todas as pessoas que estão internadas. Os pacientes e até
mesmo os familiares muitas vezes não sabem que o Estado tem obrigação de
ajudá-los. O assistente social tem esse dever, sabe? De repassar o conhecimento
e pode ajudar e informar as pessoas`, diz a idosa.

Durante 20 anos, Maria
trabalhou na cozinha da clínica. Em 2011, ela se aposentou. No mesmo ano,
concluiu o ensino médio e prestou vestibular em uma faculdade particular de
Taguatinga. Toda a mensalidade foi paga com o dinheiro da aposentadoria.

`Pagava R$ 280. Consegui
desconto de 50%. Sempre ia para as aulas de carona ou ônibus, toda sexta-feira à
noite e sábado de manhã. Era um curso semipresencial. Tive muitas dificuldades
para fazer os trabalhos que eram pela internet, não tinha muita aptidão com o
computador`, conta.

Apesar das dificuldades,
a aposentada estudou durante quatro anos. Segundo ela, a ajuda da família e das
amigas de curso foi essencial. `Era muito complicado postar os trabalhos. Porém,
sempre tive apoio de todo mundo. Durante a faculdade, comprei muitos livros.
Sempre tentei me aperfeiçoar.`

Após alguns semestres de
curso, a idosa retornou a clínica de reabilitação. O trabalho foi um convite da
diretora do local. `Voltar lá foi bom. As pessoas ficaram felizes também. Acho
que não imaginavam. Na clínica, pude aprender tudo na prática, entender melhor o
curso. Foi lá que descobri que queria ser assistente social para o resto da
vida.`

Próximos sonhos

O diploma veio no dia 14
de março. Vestida de beca, a idosa relembra da data, que segundo ela, foi um dos
mais felizes ao longo dos seus 68 anos. Os próximos passos são encontrar uma
vaga no mercado de trabalho e começar uma pós-graduação.

`A colação de grau foi
um sonho. Me senti feliz, realizada e nas nuvens. Ainda tenho esperança de poder
contribuir com a sociedade, entende? Sou grata a Deus e as pessoas que me
ajudaram.`

Maria é motivo de
orgulho para toda a família. Emocionada, a filha Fernanda Queiroz, 44, diz que a
mãe sempre foi motivo de inspiração para todos.

`A minha mãe apesar de
ter demorado a concluir os estudos, sempre leu muito. Lembro-me dela lendo `O
diário de Anne Frank`, uma ex-empregada doméstica com esse poder da leitura. É
emocionante, inspirador. Não foi fácil a luta, os anos de estudo. Entretanto,
valeu a pena. É isso que importa.`


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