Folha
de São Paulo, Empregos,
domingo, 10 de julho de 2011
CONCURSOS
Área
jurídica não preenche vagas
Falta
de preparação de candidatos é
responsável por deficit de aprovados, dizem especialistas
DÉBORA
ZANELATO ,
COLABORAÇÃO
PARA A FOLHA
Embora
os concursos para ingressar nas magistraturas
estadual e federal ou no Ministério Público sejam
cada vez mais concorridos,
nem todas as vagas são preenchidas.
Mais
de 11 mil candidatos tentaram uma das 150 vagas abertas
pelo concurso do TJ-SP (Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo) em 2010 -90
foram aprovados.
Na
última seleção finalizada do
Ministério Público Federal,
em 2007, 83 procuradores preencheram as 148 vagas. A mais recente
está em
andamento e oferece 114 postos -há 9.505 inscritos.
“As
vagas não são ocupadas porque não se
encontram
candidatos profundamente preparados”, diz Marcelo Nobre, conselheiro do
CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
“Os
candidatos ainda são cobrados para decorar
leis”, indica o desembargador e presidente do concurso em andamento do
TJ-SP José Renato Nalini. A seleção
atual tem 17.852 inscritos para 193 vagas
para o cargo de juiz.
Segundo
especialistas consultados pela Folha,
o ensino superior de má
qualidade é um dos responsáveis pelo deficit de
aprovados. Os processos de
seleção mais recentes começam a
incluir ainda mais conteúdo. Entre as
alterações está a exigência
de questões relacionadas à
formação humanística,
como psicologia e filosofia.
Na
avaliação de Roberto Bacellar, juiz e
diretor-presidente
da Escola Nacional da Magistratura, com a
ampliação do conteúdo das provas,
“é possível escolher um profissional mais humano”.
Nos
concursos para procurador e promotor, em que as vagas
também não são plenamente preenchidas,
as novas disciplinas não são exigidas.
Mas,
segundo especialistas, a tendência é que as
próximas
seleções valorizem cada vez mais
questões dessa área de conhecimento.
“Não
querem mais aqueles que só decorem leis mas
também os que saibam
refletir”, diz Álvaro Azevedo Gonzaga, professor da PUC-SP
(Pontifícia
Universidade Católica).
DESÂNIMO
Mas
as mudanças foram desanimadoras para candidatos como
Paulo Duric, 40.
“O
juiz tem que ser excelente em direito, não
necessariamente em psicologia.”
Em
2007, atuando como advogado, Duric decidiu retomar o
sonho da magistratura quando encontrou um ex-estagiário que
virara juiz.
“Aquilo me motivou.”
Das
seis vezes em que tentou, foi aprovado na primeira fase
em cinco delas.
“Se
o concurso atual continuasse na mesma linha dos
anteriores, talvez eu tivesse mais chances”, diz ele, que
não se inscreveu
para a seleção em andamento, mas afirma continuar
estudando.
Candidatos
vencem reprovações sucessivas
COLABORAÇÃO
PARA A FOLHA
Estudar
por até dez horas
por dia parece muito, mas é rotina para quem deseja ser
aprovado em concurso
para a área jurídica. Tentar concursos em
diversos Estados e durante anos
também.
Erica
de Sousa, 33, juíza
em Ibitinga (347 km de São Paulo), prestou cinco vezes
concursos de São Paulo,
além dos estaduais do Rio de Janeiro, do Mato Grosso e do
Distrito Federal
entre 2002 e 2007.
Por
dois anos, estudou dez
horas diariamente. “Ao final, eu não havia passado nenhuma
vez, em nenhuma
fase”, diz ela, acrescentando: “mas, se você desiste, tem que
começar
do zero depois”.
Não
ser aprovado, no
entanto, também é importante, considera Luiz
Flávio Gomes, fundador da rede de
ensino LFG. Segundo o jurista, o insucesso nas tentativas é
reconhecido pela
banca.
“No
resultado da prova
oral, costumam elogiar o candidato que tentou diversas vezes. Percebem
que é
alguém persistente, que deseja mesmo seguir aquela
profissão.”
Mas
suportar a pressão pode
ser desgastante. Em 2005, depois de estudar por quatro anos e
não ser aprovado
em concursos, Thelmo Filho, 33, desistiu. “Você acha que
não é capaz. As
pessoas falam para tentar outra coisa.”
Seguiu
carreira acadêmica
e, em 2010, após concluir mestrado, aderiu a um curso por
correspondência.
Em
junho do ano passado,
tentou a vaga de procurador do município em Ibitinga. Foi
aprovado em primeiro
lugar.
O
próximo passo, conta ele,
é passar no concurso de procurador da República.
Para
isso, mantém a rotina
de estudos de seis horas diárias, conciliadas ao trabalho
como procurador e
como professor universitário.
ERROS
DOS
CANDIDATOS
1 Deixar
de
ler o edital
O
documento traz o conteúdo
exigido e as etapas
2 Falhar
no
entendimento da questão
O
candidato marca a
primeira alternativa que julga correta sem analisar as demais
3 Negligenciar
fases
Focar
só a primeira etapa
4 Desestabilizar
durante a prova oral
O
candidato tenta mostrar
mais do que realmente sabe
Fontes:
especialistas
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