Folha de São Paulo, Fovest,
terça-feira, 11 de julho de 2006

 

Biomedicina
tem 29 habilitações

Profissional de bastidores pode trabalhar com reprodução
humana, pesquisa e análises

SIMONE
HARNIK

Tem sempre alguém que conhece, em primeira mão, o diagnóstico
de uma doença ou o resultado de um exame. É esse mesmo profissional que sabe,
antes do casal, se uma fertilização in vitro vai
trazer o tão esperado bebê. Nos bastidores, praticamente sem contato com o
público, o biomédico é o grande responsável pela qualidade dos laboratórios e
dos resultados de análises clínicas.

Para Françoise Elia Mizrahi, 30,
a
carreira é simplesmente apaixonante. Isso porque ela
se encontrou na embriologia, uma das habilitações profissionais possíveis.

A biomédica direcionou os estágios para a área e, hoje, mantém,
com outras duas biomédicas e cerca de 30 médicos, o Projeto Beta
-um
centro de medicina reprodutiva que já prestou atendimento a mais de
mil casais em um ano e meio.

“Eu me realizo quando vejo o resultado positivo e sei o
quanto é importante para o casal”, conta Françoise, que já tem dois
filhos.

Ela também mostra o outro lado do trabalho: “Quem quer
estrelato esqueça”. É que a atuação do biomédico, apesar de ampla, fica
restrita aos aspectos técnicos, como toda a preparação e escolha de
equipamentos do laboratório ou os procedimentos de análise do material colhido.
Não é esse profissional, no entanto, que vai dar a notícia de uma gravidez.
Quem tem essa obrigação é o próprio médico.

Muitas vezes, o campo de trabalho se confunde com o de biólogos
ou farmacêuticos, já que a pesquisa e a docência são duas das atividades da
carreira. Mas, para o vice-presidente do Conselho Regional de Biomedicina da 1ª
Região (que inclui São Paulo), Wilson de Almeida Siqueira, há mais
possibilidades para o biomédico. “O profissional da biomedicina pode ter
seu próprio laboratório, pode assinar os laudos”, diz.

Além disso, ele aponta que a carreira é versátil, já que tem 29
tipos de habilitação, como análises clínicas, bioquímica, saúde pública,
radiologia, embriologia, entre outras. “O principal atrativo é que o
profissional pode exercer qualquer uma dessas habilitações e, se no meio do
caminho optar por outra, basta que faça um curso em uma entidade
credenciada.”

Precisão

Uma das áreas com grande absorção de profissionais é a de
análises clínicas, em que qualquer erro afeta muito a vida das pessoas: imagine
as conseqüências de um resultado equivocado de um teste de HIV.

Foi a essa habilitação que Carmen Paz
Oplustil, 43, se dedicou. Hoje, ela coordena uma
equipe de 170 biomédicos, biólogos e farmacêuticos na parte de medicina
diagnóstica do Fleury. “O mais estimulante é conseguir trabalhar com as
várias patologias diferentes”, diz.

A escolha do curso, entretanto, não foi tão consciente. A
principal motivação de Carmen era trabalhar com saúde.
“Sabia que ia ser pesquisadora, provavelmente daria aulas. Então trabalhei
com análises clínicas no Hospital das Clínicas e acumulei bagagem na
área.”

O conhecimento acumulado mais alguns cursos sobre liderança a
levaram à gerência da equipe. “Existe espaço para quem tem esse perfil mas também para quem quer trabalhar como cientista para
aperfeiçoar as técnicas. Precisa ser curioso e ter vontade de aprender”,
afirma.

NA INTERNET – Veja as habilitações e normas da profissão www.cfbiomedicina.org.br

Exatas são maioria no
primeiro ano

DA REPORTAGEM LOCAL

Quem escolher a graduação vai precisar de calma até cursar as
disciplinas de biologia e saúde. É que o primeiro ano costuma ser carregado de
exatas.

“Os alunos não gostam muito do primeiro ano, mas logo o
curso fica voltado para bioquímica, fisiologia, biologia molecular,
anatomia”, diz Jacqueline Luz, coordenadora do curso de ciências
biológicas – modalidade médica da Unifesp.

Lá, o foco do curso é a pesquisa e a docência. De acordo com
dados de 1993, os últimos disponíveis, 45% dos graduados estavam ligados a
universidades ou faculdades, 11% a institutos de pesquisa. Apenas 4% foram para
a indústria e 8%, para laboratórios de análises clínicas. “Hoje, eu diria
que o percentual de formados fora das universidades aumentou.”

Até o quinto semestre, o curso é bastante teórico. Apenas no
sexto é que o aluno pode se dedicar a um projeto de estágio. Mas, no último
ano, o estudante tem de desenvolver uma pesquisa para obter o diploma e a
habilitação profissional. “Aqui, é possível sair com duas habilitações,
uma em análises clínicas e outra relacionada à pesquisa que realizar.”


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