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O Estado de São Paulo, Domingo, 3 agosto de 2008


ECONOMIA &
NEGÓCIOS

 

           
Bolsa,
um lugar para gente de sangue-frio


 


Novatos se dão bem no
início, mas o mercado vira e exige paciência

 

Dias antes de o Brasil
obter o grau de investimento, em abril, o gerente de vendas Rodrigo Werner, de
31 anos, estreou na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O começo não
poderia ter sido mais promissor. Na mesma semana, as ações do clube de
investimentos que Werner formou com 11 amigos se valorizaram 9%. Esse desempenho
empolgou os membros do clube, todos iniciantes no mercado de capitais.

 

Mas a confiança durou
pouco. Em junho, a ameaça de desaceleração do crescimento mundial – que já
sacudia bolsas ao redor do mundo – começou a mexer também com a bolsa
brasileira. O Índice Bovespa (Ibovespa), que mede o desempenho das ações mais
negociadas, caiu 10% naquele mês. No ano, acumula queda de 9,79%.

 

“Na primeira semana de
queda acentuada, muitos me ligaram preocupados, querendo sair”, conta Werner,
que é o gestor do clube. As ações operadas pelo grupo caíram cerca de 20% desde
abril. Ele teve de ser paciente. Responsável por incentivar os amigos, teve de
explicar que a melhor coisa a fazer era manter a aplicação. “Mais: tive de
convencê-los a continuar aportando mensalmente. Para eles, parecia piada.”

 

Acabou convencendo os
colegas, tão novatos quanto ele, mas menos conscientes dos altos e baixos do
mercado. “Ninguém gosta de perder dinheiro. Mas a bolsa é investimento de longo
prazo.”

 

Manter o sangue-frio
na perda também foi a opção do engenheiro Júlio de Siqueira Neto, de 34 anos. Há
quatro anos aplicando na bolsa, o investidor de Recife acredita que o período
atual é o pior que já enfrentou. Mesmo assim, optou por não resgatar a
aplicação. Ao contrário, continuou adquirindo ações, mas, em vez de R$ 3 mil
mensais, tem aplicado metade disso.

 

Para neutralizar as
perdas, além de reduzir o aporte mensal, Siqueira passou a assumir a posição de
“vendido” em dólar nos mercados futuros da Bolsa de Mercadorias & Futuros
(BM&F). Ao apostar na alta do real, o investidor conseguiu amenizar as perdas na
bolsa. Ao menos até agora.

 

“Com esse capital,
remunero um pedaço da minha carteira de ações e compenso as perdas”, explica o
engenheiro, que tem 60% de seu patrimônio aplicado nos papéis. Ele também não
mexeu no fundo de ações que mantém para o filho de 2 anos. “Estou tranqüilo em
relação à estratégia que tracei para esse investimento. Não devo sair da bolsa
tão cedo.”

 

A filosofia de
Siqueira e de Werner é cada vez menos rara entre os investidores pessoa física
brasileiros. “Antes, era comum o comportamento do investidor apavorado. Ele está
mais consciente hoje”, diz Théo Rodrigues, diretor-geral do Instituto Nacional
de Investidores (INI).

 

A entidade, criada há
quatro anos, promove cursos para pessoas que aplicam em ações. No ano passado,
quando a Bovespa viveu uma enxurrada de aberturas de capital (IPOs) – foram 64
no total – e fechou com valorização de 43,6%, esses investidores dobraram sua
participação nas negociações.

 

Atualmente, respondem
por 24,42% do volume negociado na bolsa. Os investidores institucionais
representam 26,29%.

 

Para Rodrigues, o
amadurecimento desse investidor decorre, principalmente, da quantidade de
informação sobre o mercado. “O processo de educação está crescendo e há
informação farta e gratuita sobre o tema”, acredita. Para o diretor-geral, os
momentos de oscilação são até positivos para esses iniciantes. “É a hora de
aprender que a queda pode ser uma oportunidade de fazer posições.”

 

O engenheiro de
telecomunicações Paulo Simões, no mercado de ações desde 2004, foi mais
cauteloso. No início do ano, preocupado com o agravamento da crise hipotecária
nos Estados Unidos, resolveu vender todos seus papéis. Segundo ele, a perda até
então era de 10%. “Acho que foi a decisão correta naquele momento”, diz Simões,
que tinha todo o patrimônio aplicado nesse investimento.

 

Em seguida, passou a
comprar, mês a mês, ações de empresas que haviam desvalorizado. “Agora é a hora
de comprar”, diz o engenheiro, de 39 anos. Ele investiu nos papéis da Petrobrás,
da Vale e de companhias do setor de metalurgia. Com a estratégia, Simões passou
a manter apenas 20% do patrimônio na bolsa.

 

O restante do dinheiro
está dividido em fundos DI e títulos públicos.


“Continuo um entusiasta do mercado de ações”, garante.


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