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Revista Época, 06/02/2009 – 13:58 – Atualizado em 09/02/2009 –
15:34


Boneca Barbie chega aos 50 linda, rica e mutante

O que
está por trás da longevidade da Barbie, a mais famosa boneca do mundo

Francine Lima



SUPERMODELO


Ela já foi acusada de ser exageradamente loira, magra, sensual e consumista. Já
suportou críticas a seu estilo de vida e ao suposto mau exemplo que dava às
crianças. Apesar dos abalos, ela continua por cima, desbancando concorrentes
mais novas e driblando inúmeras ameaças a seu reinado. Barbie, a boneca mais
famosa e bem-sucedida do mundo, ainda desfila sua improvável boa forma aos 50
anos, comemorados no próximo dia 9 de março, firme como o brinquedo mais popular
entre as meninas. Como se explica que a mesma boneca que encantou
pré-adolescentes antes da revolução sexual no Ocidente continue fascinando as
garotas de hoje?

A
Barbie foi a primeira boneca com cara e corpo de adulta a virar brinquedo de
criança e mudou para sempre o imaginário infantil. Antes de ela ser lançada nos
Estados Unidos, nos anos 50, as donas de casa compravam para suas filhas
bonecas-bebê ou manequins de porcelana, quando não confeccionavam elas mesmas
bonecas de meia. Para a época, ela foi estrondosamente inovadora. Mas hoje, num
mundo em que a criança já nasce inserida no universo digital e encontra nas
lojas uma infinidade de opções artesanais e tecnológicas, a boneca oferece quase
nenhuma novidade. O que explica que ela mantenha seu fascínio e capture a
imaginação das meninas quando os outros brinquedos com meio século de idade já
estão no museu?

A
grande sacada da Mattel, a empresa que a lançou e até hoje é dona da marca, foi
ter transformado seu principal produto em personagem. Coleção após coleção, a
boneca traz consigo um mundo próprio, feito não só de roupas e acessórios em
miniatura. Barbie tem amizades e relacionamentos amorosos que vão e vêm e até
viram notícia de jornal.


Ela parece gozar de uma espécie de vida própria, que inclui atividades
profissionais, brincadeiras, fantasia, sonhos de consumo e realizações que
espelham (e moldam) aquelas que as meninas almejam para si. É uma mulher
fictícia que já esteve na vanguarda do comportamento, quando as mulheres de
verdade ainda não trabalhavam nem tinham carreiras. E ainda há o glamour.

A
imagem da Barbie é cuidadosamente estudada para representar o sucesso. Tudo
nela, da aparência aos papéis sociais que assume, é uma cópia do que são e do
que fazem as celebridades do mundo real. “A forma do corpo dela é o reflexo do
imaginário mundial”, diz João Matta, professor de marketing infantil da Escola
Superior de Propaganda e Marketing e ex-funcionário da Mattel brasileira. Como
qualquer celebridade real, ela acompanha as tendências e as preferências de seu
público.


Assim como a cantora Madonna, que também chegou aos 50 anos em ótima forma,
Barbie se reinventou muitas vezes para resistir ao tempo. Ela passou até por
retoques na silhueta e no rosto para se adequar aos padrões modernos de beleza.
A boneca alcançou tamanho grau de importância na indústria de celebridades que
em 2002 deixou sua marca na Calçada da Fama, em Hollywood. Brincar de Barbie é
como ter uma passarela dentro de casa. Rever as Barbies lançadas ano a ano
nessas cinco décadas é como folhear uma coleção de Vogues. As mudanças do mundo
estão refletidas, harmoniosamente, na boneca e na revista de moda.

As
mil e uma faces da Barbie foram previstas pela mulher real que a inventou nos
anos 50: Ruth Handler, mãe das crianças Barbara e Ken. Ao observar que sua filha
não gostava muito das bonecas-bebê e adorava aquelas de papel que trocavam de
roupa, teve a genial ideia de lançar uma boneca adulta feita de vinil. A ideia
tomou forma concreta (e sensual) inspirada na personagem de quadrinhos de um
jornal alemão, que era vendida como bibelô para homens em tabacarias.


Para surpresa dos vendedores de brinquedos e das mães da época, Ruth acertou na
mosca, e as crianças avançaram sobre a novidade. A Mattel, fundada por Ruth e
seu marido, foi a primeira fabricante de brinquedos a se dirigir diretamente às
crianças nas propagandas de TV, aproveitando os intervalos do programa da
Disney. A partir dali, as mães perderam parte do poder de decisão sobre o
consumo das filhas. “Barbie é o objeto-guia da transformação do brinquedo e,
portanto, da transformação da infância no século XX”, diz o sociólogo francês
Gilles Brougère.

É
natural que uma figura feminina com tanto poder cause inveja. Outras bonecas
surgiram depois no rastro da Barbie, algumas condenadas ao esquecimento, outras
muito competentes ao rivalizar com a rainha. A brasileira Susi, lançada em 1966
pela Estrela, já era a boneca preferida das pré-adolescentes muito antes de a
líder americana começar a ser importada pelas lojas daqui, em 1982. A Susi foi
muito bem, com seu corpinho de adolescente e seu jeito de menina, até 1985,
quando a Mattel, parceira de longa data da Estrela, fez pressão para fortalecer
sua marca no Brasil. Susi saiu de cena para deixar a americana aparecer. A
jogada deu tão certo que a Mattel deu um tapinha nas costas da Estrela em 1998 e
assumiu os negócios no Brasil. Na América do Norte e na Europa, quem mais
balançou as pernas da Barbie foi a Bratz, uma boneca que veste roupas do dia a
dia das adolescentes, tem olhos grandes como os dos mangás e consegue parar de
pé, façanha impossível para a loira de pés miúdos e seios avantajados, que a
põem em permanente desequilíbrio. “As novas consumidoras gostam que as bonecas
se pareçam mais com desenhos animados do que com mulheres de verdade, porque não
sentem necessidade de imitar a vida real”, disse a ÉPOCA a jornalista Fara
Warner, autora de Power of the Purse (O poder da Bolsa, ainda sem tradução para
o português), que fala sobre a adaptação das empresas ao poder de consumo
feminino.


Acontece que essa consumidora também não parou no tempo. O que a indústria se
desdobra para desvendar é o que querem as meninas de hoje. Especialistas
observam que elas estão amadurecendo mais cedo e com isso abandonam antes os
brinquedos que as gerações anteriores curtiram por mais tempo. “O tempo do
brincar diminuiu”, afirma a pedagoga Maria Ângela Barbato Carneiro, que tem
pesquisas sobre o tema pela PUC de São Paulo. Se, décadas atrás, quem dublava a
Barbie e montava cenários para ela eram garotas de até 12 anos, agora são as de
3 a 6 que pedem às mães que comprem o último modelo.

As
mais velhas se sentem crescidas demais para brincar de boneca e preferem a
tecnologia. As mais novas, por sua vez, gostam de bonecas mais fantasiosas, como
fadas e princesas, que elas veem nos DVDs. Muitas nem brincam com as bonecas,
apenas colecionam. “Houve uma perda da capacidade de brincar criativamente”, diz
a psicoterapeuta Silvia Petrilli, do Instituto Sedes Sapientiae, de São Paulo.
De uns anos para cá, a Mattel passou a investir em filmes da Barbie e produtos
derivados das histórias de fadas. Ao terminar o filme, a criança imediatamente
quer comprar a personagem. É um estímulo de consumo direto que já não tem
relação com o modelo de fantasia feminista da Barbie original.

A
boneca perdeu conteúdo simbólico. As novas Barbies contrastam com aquela
profissional e moderna que tornou o produto célebre. Para sobreviver, o produto
infantilizou-se, perdeu personalidade, deixou de ser um reflexo das mulheres de
carne, osso e sucesso. Será esse seu futuro inexorável? Não necessariamente.
“São produtos diferentes para idades e personalidades diferentes”, diz Isabel
Cristina Patrão, gerente de marketing da área de produtos femininos da Mattel no
Brasil.

Os
50 anos da estrela serão comemorados mundialmente, com a pompa que lhe cabe. No
dia 14, a Semana de Moda de Nova York contará com um desfile de roupas
inspiradas na Barbie, criadas por 50 estilistas, entre eles os da grife
brasileira de biquínis Rosa Chá. A partir de 10 de março, uma exposição com
cerca de 500 Barbies estará no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo. A Mattel
promete ainda diversas ações envolvendo moda e beleza. Barbie lida bem com o
passar do tempo, mas não deixa o passado para trás.


Sempre antenada com a moda

O que
está por trás da longevidade da Barbie, a mais famosa boneca do mundo

Francine Lima



1959



A Primeira


Já com cintura finíssima, seios definidos e longas pernas, vestia maiô
zebrado e óculos de gatinha. As sobrancelhas arqueadas e o olhar de lado
davam um ar de pinup



1962



Bubble-Cut


O penteado à Jacqueline Kennedy, com cabelo mais curto, acompanhava
tailleurs chiques e casacos dignos de primeira-dama



1971



Live Action


As jovens hippies e o colorido das roupas inspiraram esta boneca, que tinha
punhos, cotovelos, joelhos e tornozelos flexíveis



1980



Negra


A primeira Barbie negra fez sua estreia em 1980. Ela tinha roupa brilhante e
a cintura flexível para dançar na discoteca



1998



Mundo Jovem


O rosto mais delicado, com um sorriso suave, foi o mais usado entre 1999 e
2005. Nessa fase, tinha amigas de várias partes do mundo que expressavam os
valores dos jovens



2008



Butterfly


Barbie sai da realidade e entra no mundo da fantasia, no cinema e no
universo virtual. O filme


Barbie Butterfly
,
de 2008, é um dos vários sucessos de uma série de animações para crianças

 

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