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Folha de São Paulo, Mundo, segunda-feira, 02 de abril de 2012

Brasil manda diplomata estudar chinês

De olho na ascensão do gigante asiático,
Itamaraty cria um programa para familiarizar seu quadro com o idioma

No ano passado, país foi o destino de 17,2%
das exportações brasileiras; corrente de comércio não para de aumentar

FLÁVIA FOREQUE,
DE BRASÍLIA

De olho na ascensão da China, o Itamaraty criou
um programa para estimular seus diplomatas a estudar mandarim, idioma do país.

Em fevereiro, cinco recém-formados no Instituto
Rio Branco viajaram para Pequim para estudar o idioma durante seis meses numa
universidade da capital.

O projeto-piloto é uma parceria entre a pasta e
o Hanban, escritório vinculado ao Ministério da Educação da China para a difusão
do idioma no exterior.

"Relacionar-se com a China hoje é o grande
desafio. Precisamos ter maior capacidade de análise e compreensão [do país]",
afirma Sérgio Barreiros, diretor-adjunto do instituto.

Os números da balança comercial reforçam o
discurso: nos últimos dez anos, a corrente de comércio (importações e
exportações) do Brasil cresceu pouco mais de quatro vezes. Com a China, pouco
menos de 24 vezes.

Em 2011, o gigante asiático foi o destino de
17,2% das exportações brasileiras, que totalizaram U$ 256 bilhões.

Diante desse cenário, fica clara a necessidade
de "captar as sutilezas da comunicação" com a China, como disse Barreiros. O
chanceler brasileiro, Antonio Patriota, foi um dos entusiastas do programa -o
próprio ministro tem aulas particulares de mandarim.

Na China, os jovens diplomatas têm 20 horas
semanais de aulas sobre escrita, leitura, compreensão oral e auditiva do idioma.

Durante o curso, os servidores não assumem
nenhuma função na embaixada brasileira -a única tarefa é aprender chinês.

"Eles são bem exigentes. Cobram muita
disciplina, dedicação e a quantidade de matéria todo dia é muito grande", afirma
Pedro Henrique Barbosa, um dos diplomatas selecionados.

Filho de imigrantes chineses, o secretário
Johnny Wu ressalta a experiência cultural da viagem. "Coisas simples como criar
um cachorro ou ir a um hospital local constituem experiências únicas."

Para o diplomata Pedro Luiz Nascimento, outra
vantagem é o acesso a informações em fontes primárias, sem a necessidade de
recorrer a traduções -no momento, os diplomatas estão no nível intermediário.

Todos foram selecionados entre os melhores
alunos do curso de chinês dado no Rio Branco. Além de aulas obrigatórias de
inglês, francês e espanhol, os diplomatas precisam escolher uma das três
"línguas exóticas" ofertadas: chinês, árabe ou russo.

Chen Jiaing, diretor do Instituto Confúcio em
Brasília, reconhece que a missão de aprender a língua não é fácil.

"Cada caractere chinês tem quatro tons e tem que
ser pronunciado com o tom exato, senão dificulta o entendimento. Pior ainda
[para os estrangeiros] é escrever."

País asiático é tema de livros do Itamaraty

DE BRASÍLIA


A atenção especial à China e aos países que compõem os Brics (grupo formado por
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) é percebida nos livros da Fundação
Alexandre de Gusmão, vinculada ao Ministério das Relações Exteriores.


De acordo com levantamento feito pela Folha no "Diário Oficial da União",
dos 172 títulos publicados pela entidade no ano passado, 28 (16,2%) têm a China
como tema principal.


O percentual sobe para 23,2% se considerados os livros que tratam do bloco.


"A Ascensão Chinesa e as Matérias-Primas", "Brasil-China: Desafios e
Oportunidades" e "Brasil e China, Sócios ou Rivais?" são algumas das obras
editadas pela fundação em 2011.


Apenas a América do Sul recebeu mais atenção que o gigante asiático, com 42
livros dedicados à região.


A fundação tem o objetivo de promover estudos sobre relações internacionais e
divulgar a política externa do Brasil. Os livros são doados a bibliotecas e
universidades ou vendidos a preço de custo.


Os títulos são resultado de pesquisas e estudos de especialistas ou de
conselheiros do Itamaraty.

Categorias: Diplomacia

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