Portal Uol, https://educacao.uol.com.br/noticias/2019/11/28/as-profissoes-do-fim-do-mundo.htm, 28/11/2019
Brumadinho, óleo no Nordeste: cresce busca por “profissões do fim do mundo
Jéssica Maes – Colaboração para o UOL
Aumento do nível do mar, mais épocas de seca e chuvas muito concentradas, furacões e tempestades mais frequentes e intensas. As consequências das mudanças climáticas já estão acontecendo e devem se intensificar nos próximos anos, especialmente se medidas para reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa não forem tomadas. Assim, cresce também o mercado de trabalho para os profissionais que lidam com desastres ambientais.
De geólogos a psicólogos, não faltam carreiras possíveis para quem tem interesse em trabalhar com a prevenção, gerenciamento e recuperação do meio ambiente. “Embora essas situações culminem em quantidades surpreendentes de danos e perda de vidas, surge também uma nova urgência para salvar vidas em futuros desastres, com habilidades especializadas para atuar nessas situações”, diz a coordenadora de Carreiras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Isabela Albuquerque.
“A demanda por profissionais qualificados, com formação e especialização em áreas correlatas, incluindo gestão de emergências, socorro a desastres, segurança nacional e segurança pública, promete crescer nos próximos anos”, afirma Isabela. E mesmo atualmente essa demanda não é pequena.
Buscas rápidas por “ambiental” ou “sustentabilidade” no site de recrutamento Glassdoor, por exemplo, mostram que existem mais de 1.200 vagas abertas hoje no país. “Conforme as mudanças climáticas e sociais forem ocorrendo, é esperado que mais empresas precisem adotar novas práticas e busquem profissionais focados no meio ambiente e na sustentabilidade”, afirma Luciana Caletti, vice-presidente do do Glassdoor na América Latina.
Multiplicidade de carreiras
O leque é amplo quando se fala em profissões relacionadas a prevenir e buscar soluções para desastres ambientais. O Centro de Apoio Científico em Desastres (Cenacid) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), por exemplo, que atua em situações de emergência em todo o mundo, conta com uma rede de dezenas de cientistas que inclui engenheiros, biólogos, sociólogos, pedagogos e muitos outros.
“Praticamente todas as carreiras podem contribuir para a prevenção e redução das consequências dos desastres ambientais. Dependendo do tipo de desastre, algumas carreiras vão ser mais ativas. Em um desastre com óleo na região costeira, por exemplo, geólogos, oceanógrafo e biólogos vão ser bastante importantes para avaliar as consequências ambientais, assim como profissionais da saúde para avaliação dos riscos”, explica o diretor do Cenacid e membro da equipe para coordenação e avaliação de desastres da Organização das Nações Unidas (ONU), Renato Eugênio de Lima.
Segundo o professor, as carreiras mais comumente ativas nestas situações são as que se ocupam do meio físico, estudando seus fenômenos, e as que tratam das ciências da vida, que lidam com aqueles que são impactados pelos desastres. “Na prevenção e na resposta a desastres, a grande maioria das situações exige uma abordagem multi e interdisciplinar”, diz ele.
A presidente da consultoria socioambiental Synergia, que realiza ações de compensação, mitigação e minimização de impactos de empreendimentos, Maria Albuquerque, concorda e destaca que diferentes profissionais serão necessários em diferentes momentos de desastres. “Pensando no atendimento aos atingidos, o assistente social é fundamental no acolhimento e atendimento imediato aos atingidos. E do ponto de vista da reparação ambiental, engenheiros ambientais, geólogos, biólogos e geógrafos têm a visão territorial essencial nesse momento”.
Além da formação técnica, outras habilidades são grandes aliadas de quem quer trabalhar com o gerenciamento de desastres: comunicação, empatia, dedicação, trabalhar bem em equipe, e, obviamente, lidar bem com situações de crise. “A formação profissional e o ensino superior são muito importantes, mas não apenas eles”, destaca Olga Strietska-Ilina, membro do departamento de políticas de emprego da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Ela aponta que é preciso que haja investimentos governamentais para o aprimoramento e aperfeiçoamento de habilidades que são portáteis entre empregos. Essas ações já acontecem, explica a especialista, mas apenas de forma isolada. “O problema é que isso não é feito de forma sistemática o suficiente, não entra em discussão em ministérios e não se transforma em políticas públicas. Para atender ao volume da demanda, as ações precisam ser mais coordenadas e integradas”, diz ela.
“No futuro, pode haver a criação de muitos empregos de habilidades intermediárias. É preciso pensar não apenas em termos de habilidades técnicas, mas também em habilidades sociais aplicadas”, afirma Strietska-Ilina.
O relatório “Habilidades para um futuro mais verde”, divulgado neste ano pela OIT, garante que caso seja dada a resposta global necessária para diminuir as emissões de carbono, a transição para uma economia ambientalmente sustentável causará mudanças no mundo do trabalho. Estimativas do órgão apontam que 2% dos empregos em todo o mundo correriam risco com a transição para cenários de sustentabilidade energética ou de economia circular. No entanto, sendo fornecido o treinamento necessário, a estimativa para criação de novos empregos ultrapassa 100 milhões de vagas.
Conheça 10 profissões que lidam com desastres ambientais
Geologia
A geologia estuda a formação, mudanças e a composição da crosta terrestre e analisa fenômenos naturais e a sua influência na Terra. Geólogos podem se dedicar à topografia, paleontologia, mineralogia, por exemplo, ou a levantamentos geológicos de locais que abrigarão grandes obras, como estradas. Também podem ajudar na recuperação de áreas atingidas por desastres ambientais, como os relacionados à mineração.
Engenharia civil
A engenharia civil trata do projeto, gerenciamento e execução de obras, da análise do solo à definição das redes elétricas, visando pela segurança e estabilidade de construções. Além da construção civil, esses profissionais podem atuar em obras de infraestrutura e saneamento, ajudando na recuperação de áreas atingidas por desastres ambientais. Engenheiros civis também podem participar de concessões de licenciamento ambiental e gestão ambiental, podendo, assim, prevenir acidentes.
Agronomia
Agrônomos, ou engenheiros agrônomos, trabalham para melhorar a produtividade e qualidade de plantações e rebanhos. Acompanhando todo o manuseio do solo e da produção, seus conhecimentos de técnicas de cultivo e criação podem ser aplicados em qualquer etapa da cadeia produtiva. Além de poder atuar na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas (por exemplo, no mercado de biocombustíveis), esse profissional também pode ajudar na restauração de unidades produtivas e na realocação destas famílias atingidas por desastres.
Engenharia hídrica
A engenharia hídrica lida com os aspectos técnicos, sociais e ambientais da gestão de recursos hídricos. Os profissionais podem atuar, por exemplo, em obras de infraestrutura hidráulicas (como a construção de barragens), de irrigação, de tratamento de água e esgoto e geoprocessamento. Também podem trabalhar na preservação, recuperação e bom uso da água pela população e prevenir desastres ambientais.
Oceanografia
Oceanógrafos se dedicam a estudar características de oceanos, mares, lagos, rios e da zona costeira. Esses profissionais pesquisam a vida marinha, os aspectos e fenômenos físicos destes lugares e desenvolvem técnicas para exploração destes recursos. Em desastres que envolvem corpos de água, podem realizar coletas e análises para avaliar impactos físicos, químicos, biológicos e geológicos.
Ciências biológicas
A biologia estuda todas as formas de vida e as maneiras como se relacionam com o mundo. Os profissionais dessa área têm uma ampla área de atuação, incluindo a pesquisa e desenvolvimento relacionada a processos biológicos em empresas, laboratórios, consultorias e órgãos públicos de diferentes portes. Também encontram espaço na conservação ambiental, e podem agir em desastres fazendo o manejo da biodiversidade, políticas de saúde e biossegurança, vigilância sanitária, análises clínicas e ações de educação ambiental.
Engenharia de energia
O engenheiro de energia é capacitado para atuar em várias etapas da extração, geração, distribuição e aplicação de diferentes formas de energia. Ele pode atuar na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, desenvolvendo e otimizando fontes de energia renováveis e diminuindo o impacto da extração e do consumo de energia no planeta.
Engenharia florestal
É esta a engenharia que estuda a exploração sustentável de recursos naturais, analisando a dinâmica de ecossistemas e minimizando os impactos de atividades como o extrativismo. Esse profissional desenvolve, aplica e fiscaliza projetos de preservação e reflorestamento tanto em parques quanto em reservas legais. Em desastres, o engenheiro ambiental pode gerenciar a recuperação de regiões degradadas e também elaborar laudos e análises para a prevenção de acidentes.
Meteorologia
A meteorologia estuda a atmosfera terrestre (e os elementos que interagem com ela, como a poluição), variações climáticas e fenômenos naturais. Analisando dados de ocorrências como chuvas, massas de ar e e temperatura, o meteorologista consegue prever as condições climáticas. Esse trabalho é importante na prevenção de desastres ambientais – antecipando a chegada de uma grande tempestade, por exemplo, é possível evacuar a população e diminuir a perda de vidas humanas – e no planejamento de atividades de resgate e recuperação de áreas atingidas.
Fonte: Glassdoor (valores autodeclarados anonimamente)