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Folha de São Paulo, SEGUNDA-FEIRA, 5 DE NOVEMBRO DE 2012 17H56

Burburinho nos bastidores

Lei que exige cotas de produção nacional na
TV por assinatura abre espaço para profissionais como roteiristas e produtores

FELIPE MAIA, FELIPE GUTIERREZ, DE SÃO PAULO

A Lei da TV por Assinatura, que estabelece cotas
de produção nacional nos canais, incluindo a obrigatoriedade de produção
independente, movimenta o mercado de trabalho nas produtoras.

A nova legislação, que começou a valer em
setembro, prevê que os canais de filmes, séries, animações e documentários
exibam três horas e 30 minutos por semana, no horário nobre, de conteúdo
audiovisual brasileiro.

A norma estabelece que essas cotas sejam
aplicadas de forma gradual, atingindo o máximo no ano que vem, mas já faz com
que o volume de trabalho e de vagas aumente. “O número de contratos fechados
cresceu. Não são só conversas ou sondagens, de fato estamos fechando mais
trabalhos do que nos anos anteriores”, destaca Giuliano Cedroni, sócio da
produtora Prodigo Films.

Camila Ferreira, 22, resolveu voltar ao Brasil
há três meses, depois de quatro anos estudando e trabalhando com produção de
programas de TV nos Estados Unidos, por causa da nova legislação. Ela considerou
que teria mais oportunidades no mercado nacional do que nas produtoras
americanas.

“Achei que era o momento certo para voltar e
estou me dando melhor. Tenho mais oportunidades porque há muitos projetos que
vão entrar em produção daqui para a frente”, conta.

Há dois meses, Ferreira foi contratada como
assistente de produção na BossaNovaFilms. “Meu trabalho é desde entrar em
contato com a equipe, com o elenco, até montar a ordem do dia e ir para o set
dar uma assistência geral.”

OS MAIS PROCURADOS

Nesse primeiro momento, a principal procura é
por pessoas que desenvolvam projetos de programas e os negociem com exibidores.
De acordo com produtoras, a corrida é, principalmente, para encontrar e para
formar bons roteiristas, que sejam capazes de atender a demanda.

“Roteirista é o que a gente precisa formar o
mais rápido possível. Temos pouca tradição de ficção fora das TVs abertas, que
ficam com os profissionais mais experientes. E você não desenvolve bons projetos
se não tiver roteiristas qualificados”, afirma Clélia Bessa, sócia da Raccord
Produções e professora da PUC-Rio.

Luiz Noronha, produtor-executivo da Conspiração,
diz que, em 2009, a equipe tinha só dois roteiristas. Hoje são 16 contratados e
oito freelancers acionados para projetos especiais. “O cinema é a arte do
diretor e a TV é a do roteirista e do produtor.”

O problema é que, de acordo com os empresários,
o país ainda forma poucas pessoas dessa área: a oferta de cursos especializados
é pequena e leva tempo até que as produtoras possam treinar profissionais
iniciantes.

“O trabalho de roteirista exige anos até que a
pessoa fique afiada”, opina Andrea Barata Ribeiro, sócia da O2.

Para os interessados em trabalhar na área, um
dos caminhos é investir em cursos livres de pós-graduações (veja lista nesta
página), que tendem a ganhar importância.

“Até hoje a educação formal não era tão
valorizada, mas, com a profissionalização e o crescimento do mercado, a
tendência é que isso mude. Mas a indicação, a experiência e o voluntarismo ainda
são importantes”, afirma André Mermelstein, professor da pós-graduação em gestão
de TV da FAAP.

EXIBIDOS

É aconselhável bater na porta das empresas e
mostrar projetos, mesmo que em fase inicial, e também entrar em contato com
profissionais que possam analisar o trabalho e fazer indicações.

“Tem que colar em pessoas que já atuam no
mercado e mostrar ideias. Não consigo ver outra maneira”, opina Edu Tibiriçá,
gestor da BossaNovaFilms.

A internet e o barateamento de equipamentos como
câmeras digitais facilitam o esforço de se exibir para o mercado. Ulisses
Oliveira, 39, o “Molusco”, trabalhava com publicidade quando foi descoberto, há
um ano, por uma produtora por causa de um vídeo que postou no YouTube, em que
conta histórias vestindo máscara mexicana.

“É uma banda de um homem só: faço o roteiro,
filmo, atuo e edito”, brinca. Ele foi contratado como roteirista e trabalha na
criação de séries como “Morando Sozinho”, exibida pelo Multishow.

“Meu chefe teve acesso aos vídeos e me chamou
para conversar. Eu disse para ele: “Eu sou publicitário, mas se você me enxerga
como roteirista eu encaro”““, conta.

Esse crescimento tende a fazer com que os
profissionais da área audiovisual focados em outros segmentos -por exemplo
publicidade e cinema- sejam atraídos para a televisão independente.

Alexandre Samori, 40, que trabalhava como
assistente de câmera e há três anos começou a atuar como diretor de fotografia,
está usando esse bom momento para ganhar experiência na função.

“O cinema é concorrido. Para ser diretor de
fotografia de um filme, há um percurso a percorrer, então você vai cavando
oportunidades e criando laços”, diz Samori, que trabalhou em ao menos quatro
atrações para a TV neste ano.

Ele atua como freelancer (autônomo), algo muito
comum na área, sendo contratado para projetos específicos. “É um mercado bem
seletivo, em que, em cada trabalho, você precisa garantir o próximo. As pessoas
que não funcionam não vão para a frente”, conta.

Samori destaca que a remuneração nesses
trabalhos é 50% menor em relação ao cinema. “A oferta de trabalho aumentou, mas
é difícil um bom cachê. Profissionais experientes não topariam fazer projetos
que estou fazendo.”

Cedroni, da Prodigo Films, afirma que as
produtoras recebem “muito pouco” para produzir séries para a TV. “Um episódio de
novela da Globo não sai por menos de R$ 250 mil e a tabela do mercado de séries
é de R$ 150 mil por capítulo. Mas, agora, depois da lei, os valores começaram a
melhorar.”

Para Rodrigo Terra, sócio da produtora
Sentimental eTal, os salários tendem a aumentar com a maior demanda pela
produção de programas. “Nesse momento, o mercado está definindo quanto custam os
programas, e os cachês vão acompanhar isso.”

GESTOR SENSÍVEL

Além de profissionais que saibam trabalhar com a
parte artística das produções, as produtoras vão precisar de pessoas com perfil
executivo, que ajudem a fazer com que as produções deem lucro.

“São funções que vão além das atividades de
produção: envolvem a preparação de planos de negócio, a negociação com os canais
e também o licenciamento de produtos com a marca da atração”, afirma Mauro
Garcia, diretor-executivo da Abpitv (Associação Brasileira de Produtoras
Independentes de TV).

Por isso, é possível trabalhar na área mesmo não
sendo formado nas carreiras relacionadas à comunicação e ao setor de
audiovisual.

Paulo Schmidt, sócio do Grupo INK, diz que esse
tipo de profissional, geralmente, é alguém que tem formação em cursos como
administração ou finanças e tem “sensibilidade artística”.

Guto Figueiredo, 33, é formado em administração
de empresas e atuou por seis anos em uma companhia de cartão de crédito, mas,
depois de uma “crise existencial”, foi trabalhar em uma produtora, como
assistente. Passou por várias funções na área de produção e hoje é
diretor-executivo da Dogs Can Fly.

“A produção é a base de tudo. Até para defender
um cronograma, um orçamento e o que dá e o que não dá para fazer em um roteiro.
Ter esse “know-how” ajuda a atuar na parte comercial”, diz.

Para os donos de produtoras, a tendência é que
esse bom momento do mercado de trabalho no setor se mantenha a longo prazo. Os
profissionais descartam que o crescimento seja uma bolha.

“O audiovisual cresce ano a ano: primeiro veio o
cinema, depois os documentários e, agora, a TV, com essa lei. Já era uma área
carente de profissionais. Acredito que esse crescimento seja duradouro”, aposta
Barata, da O2.

VEJA ONDE ESTUDAR

ROTEIRO

Roteiro
para Cinema e Televisão (pós-graduação)

Onde:
FAAP

Duração:
360 horas

Início:
abril de 2013


Informações: 0/xx/11/3662-7449



pos.secretaria@faap.br

Roteiro
Audiovisual (pós-graduação)


Onde: Centro Universitário Senac


Duração: 362 horas


Início: março de 2013



www.sp.senac.br/posgraduacao

Curso
Intensivo de Roteiro


Onde: Academia Internacional de Cinema


Duração: 30 horas


Início: janeiro de 2013



aicinema.com.br/aic-cursos


CENOGRAFIA E FIGURINOS

Curso de
especialização em cenografia e figurinos


Onde: Centro Universitário Belas Artes de São Paulo


Duração: 420 horas


Início: fevereiro de 2013




www.belasartes.br/pos-graduacao

DIREÇÃO
DE FOTOGRAFIA

Direção
de fotografia


Onde: Academia Internacional de Cinema


Duração: 105 horas



aicinema.com.br/aic-cursos

PRODUÇÃO
E GESTÃO

Produção
audiovisual – projeto e negócio (pós-graduação)


Onde: Centro Universitário Senac


Duração: 366 horas


Início: março de 2013



www.sp.senac.br/posgraduacao


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