Folha de São Paulo, Especial, terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Ciência tenta alongar a vida
NA ODISSEIA PARA PROLONGAR A
EXISTÊNCIA HUMANA, PESQUISAS TENTAM IMPEDIR QUE AS CÉLULAS ENVELHEÇAM
OLÍVIA FLORÊNCIA,
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A ciência tem investigado
processos de envelhecimento celular não somente para eliminar rostos enrugados
ou cabelos brancos, mas também para possibilitar às pessoas a escolha de
envelhecer melhor, sem sofrimento com doenças degenerativas.
Alguns cientistas acreditam que
podem encontrar a chave para a imortalidade humana através de estudos dos
processos celulares que levam ao envelhecimento. É o caso de Aubrey de Grey,
doutor pela Universidade de Cambridge (Reino Unido).
Em 2009, ele criou uma fundação na
Califórnia (Estados Unidos) para se dedicar exclusivamente aos estudos do
envelhecimento, a Sens -sigla para "estratégias para engenharia do
envelhecimento negligenciado".
Suas pesquisas apresentam uma
proposta tecnológica contra o envelhecimento: "Reparar o dano acumulado causado
pelo próprio corpo em seu funcionamento pode ser bem mais fácil que prevenir o
dano".
Em entrevista à Folha, ele disse que, na sua opinião, o envelhecimento é apenas
uma doença para a qual ainda não encontramos cura.
Alguns duvidam de sua sanidade e
em 2005 a "Technology Review", publicação do MIT (Instituto de Tecnologia de
Massachusetts), nos Estados Unidos, ofereceu US$ 20 mil a qualquer biólogo que
conseguisse demonstrar que a tese de Aubrey de Grey estava "tão errada que nem
precisava ser debatida".
Ninguém ganhou o prêmio até hoje,
sete anos depois.
Alexandre Busse, geriatra do
Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, diz que o biomédico está distante da
realidade. "Nem nós, nem qualquer ser vivo está perto de reverter os processos
de envelhecimento. Ainda que possamos reverter todos os processos celulares,
provavelmente nosso corpo ainda continuaria envelhecendo por motivos que
desconhecemos."
O médico também afirma que, mesmo
que tenhamos redisposição genética para viver muito, viver bem é o mais
importante.
Sociabilização, convivência com
pessoas de bom humor e prática de exercícios físicos são boas técnicas para
atrasar o envelhecimento com eficácia científica, segundo o médico.
VIVER 150 ANOS
Já Sonia Arrison, 39, pesquisadora
sênior do PRI (Pacific Research Institute, Califórnia) sobre o impacto de novas
tecnologias na vida humana e autora do livro "100 plus" (Mais de 100), lançado
em 2011 nos EUA e ainda sem tradução no Brasil, tem uma proposta mais modesta
que a de Aubrey de Grey.
Ela acredita que a pessoa que
viverá 150 anos já nasceu.
Em entrevista à Folha, Arrison disse que não tirou essa hipótese do nada.
"Olhando para áreas como
engenharia de tecidos -em que já é possível criar em laboratório órgãos
humanos-, terapia genética e medicina personalizada, fica claro que
continuaremos a aumentar nossa expectativa de vida."
A biologista molecular da
Universidade de São Paulo, Eugênia Costanzi, acredita que Arrison está certa.
"O indivíduo de 150 anos já nasceu
mesmo. Se a ciência continuar nesse ritmo, as crianças terão esse novo arsenal
de drogas biológicas, biofármicos, engenharia genética, células-tronco,
transplante celular, terapia gênica", afirma a professora.
Leia, ao lado, sobre outras
pesquisas científicas que buscam desvendar os processos do envelhecimento humano
e, assim, prolongar ao máximo nossa existência.
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