Folha de São Paulo, Fovest,terça-feira, 22 de agosto de 2006

Cientista social foca olhar no homem

Graduação exige muita leitura e é para quem
quer entender a sociedade e transformá-la

VINÍCIUS SEGALLA

Um curso para quem quer entender a sociedade em que vive e
transformá-la em algo melhor. Para quem deseja trabalhar com políticas
públicas, em órgãos governamentais ou em ONGs. Ou para quem quer seguir
carreira acadêmica na universidade, ou ainda dar aulas em escolas e faculdades.
Este é o curso de ciências sociais, que forma sociólogos, antropólogos ou
cientistas políticos.

A graduação já foi associada ao movimento estudantil e às lutas
políticas, mas isso foi mudando com o passar dos anos.

“Conforme voltamos no tempo, percebemos que o aluno de
ciências sociais buscava mais o curso como um instrumento de luta política. A
cada década que se avança, essa tendência diminui. Os alunos de hoje são
pragmáticos e buscam uma boa colocação profissional”, explica Amâncio
Jorge de Oliveira, professor do departamento de ciência política da FFLCH/ USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas).

Na USP, os dois primeiros anos do curso tratam do ciclo básico
da carreira. São quatro módulos de sociologia, antropologia e política. A carga
de leitura é alta, e direto na fonte. “Não usamos manuais ou resumos. Os
estudantes lêem as obras clássicas de Maquiavel, Marx, Rosseau,
Lévi-Strauss e assim por diante”, diz Oliveira.

Depois, são mais dois anos em que os alunos escolhem as
matérias que desejam, buscando a especialização em uma das três sub-áreas das ciências sociais. Política externa brasileira,
raças do Brasil e sociologia da violência são exemplos de disciplinas do curso.

Opções do mercado

O graduado em ciências sociais pode ir para a área pública,
prestando concursos para trabalhar em secretarias, ministérios e entidades
governamentais, onde irá participar da criação de programas sociais e de
desenvolvimento.

O campo de trabalho inclui os institutos de pesquisa, onde o
cientista social ajuda a formular levantamentos que desvendem conjunturas e
necessidades de grupos socioeconômicos ou populações. Na mesma área, há as
pesquisas de marketing, realizadas por institutos que tentam descobrir as
vontades dos consumidores. Além disso, existe a carreira acadêmica e a
docência.

A mestranda Bárbara Garcia Ribeiro, por exemplo, está no
caminho da pesquisa universitária. Ela ingressou na USP em 2000 e direcionou
seu curso para a sociologia. Agora, faz mestrado com a dissertação “A
Violência Doméstica Contra Mulheres das Classes Médias de São Paulo e a Sua
Relação com os Valores Sociais Presentes em Suas Famílias”.

“Fiz estágio em uma ONG de estudos feministas. Lá,
desenvolvi projetos sobre a violência contra a mulher no Brasil. Pude ver que
existe uma falha de pesquisa na violência contra a mulher de classe
média”, explica Bárbara, que recebe uma bolsa da Capes (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) de R$ 855. O dinheiro é
suficiente? “Consigo pagar minhas contas, mas vivo apertada.”

Bolsa

Além da Capes, é possível obter financiamento na Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), cuja bolsa é de R$
1.200. A tarefa não é fácil. “Da minha classe de 120
alunos, só três
conseguiram [a bolsa da Fapesp]”.

Enquanto estudava, Bárbara deu aulas de inglês para se
sustentar, estagiou na ONG e fez iniciação científica em dois núcleos da USP.
Seu objetivo é obter o mestrado, seguir pesquisando e começar a dar aulas.

Trilhando outro caminho, Maria Carolina Jordão, 23, fez
ciências sociais na USP, onde se formou no ano passado, com a faculdade de
direito na PUC, que termina neste ano. Seu objetivo é prestar concurso público,
de preferência para o Instituto Rio Branco, para ser diplomata. “Não tenho
vocação para a vida acadêmica. Fiz sociais porque é um curso que todos deveriam
fazer. Ele te dá consciência do mundo em que vive, permite que você possa se
posicionar politicamente”, afirma.

Para os futuros universitários, ela dá algumas dicas.
“Conheçam logo os professores e suas linhas de pesquisa. É importante
pegar bolsas de iniciação científica logo cedo, para ganhar intimidade e
conseguir o mestrado depois.”

Sociologia será
obrigatória no ensino médio

A partir de 2007, todas mais de
23.500 escolas de ensino médio do país terão aulas de filosofia e sociologia em
sua grade curricular. No dia 11 de agosto, o ministério da Educação homologou
decisão do CNE (Conselho Nacional de Educação)
determinando o ensino das duas disciplinas nas escolas públicas e privadas.

Para os
profissional
de ciências sociais, isso significa mais um grande mercado
que se abre.

Para dar aula no ensino médio, é
necessário fazer licenciatura, um curso pedagógico para formar professores.

Na USP, há um convênio entre a FFLCH e a Faculdade de Educação que garante a todos os
alunos recém-formados em ciências sociais uma vaga na licenciatura. São dois
anos aprendendo a ensinar.

De acordo com o Censo Escolar de
2005, há no Brasil 7.933.713 estudantes do ensino médio em 16.570 escolas
públicas e 1.097.589 em 6.991 instituições particulares.

O ensino de filosofia e de sociologia
já é obrigatório em 19 Estados, incluindo São Paulo. Todas as unidades da
federação têm até agosto de 2007 para implantar as disciplinas.

O MEC deve enviar ainda neste mês 121
mil exemplares do livro “Conhecimentos de Sociologia” a escolas e
secretarias de Educação. A obra traz conceitos, e recursos didáticos da
disciplina.


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