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AGÊNCIA BRASIL – 14/07/2014 – BRASÍLIA, DF

Cineastas chamam a atenção para seleção de
filmes e planejamento das aulas

MARIANA TOKARNIA

Nova lei
pretende levar o cinema brasileiro para todas as escolas. Agora, elas terão que
exibir mensalmente pelo menos duas horas de filmes produzidos no Brasil. Para
cineastas e especialistas, a exibição obrigatória vai ajudar a escoar a produção
nacional, além de formar plateia. Será necessário, no entanto, cuidado na
seleção dos filmes e no planejamento das aulas.

`Há pelo menos
duas formas de o cinema entrar na sala de aula: uma, a mais danosa para a
sociedade brasileira, quando entra como substituto do professor ou como simples
dispositivo para compensar buraco na ausência do professor. A outra é o cinema
como espécie de mediação para que os alunos comecem a entender o mundo. Aí está
a grande potência, até mesmo política`, explica a professora e pesquisadora
Ramayana Lira – integrante do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de
Estudos de Cinema e Audiovisual.

Ramayana
explica que existe uma especificidade na linguagem audiovisual, que não se trata
apenas do conteúdo mostrado no filme, mas também da estética e de outros
elementos. Para trabalhar as produções por completo, os professores devem ser
capacitados. Segundo ela, é importante a participação dos pesquisadores em
cinema nesse processo, além do Poder Público e dos próprios produtores, que
terão mais uma canal de divulgação das obras.

`Deve haver uma
preocupação com os filmes adequados a determinadas faixas etárias, se os filmes
funcionam interdisciplinarmente ou só em uma disciplina. A mesma discussão que
existe para a escolha dos livros didáticos deverá ocorrer com os filmes`,
defende.

Para o
professor da Universidade de São Paulo (USP) Marciel Consani, a exibição dos
filmes em todas as escolas do país será `uma tarefa desafiadora`. Não há um
hábito de ir ao cinema para ver filme brasileiro`, diz ele, que é especialista
em educomunicação. `A escola é uma plataforma interessante para criar esse
hábito. Mas isso tem que ser feito da maneira correta, amparada
metodologicamente, para que não se consiga o contrário, traumatizar os jovens
com filmes maçantes e desinteressantes.`

Um filme,
segundo Consani, é um produto indivisível que deve ser analisado como obra
completa. A exibição de trechos de filmes para que se dê tempo de analisá-los em
um a aula pode ser algo danoso. A sugestão para tempos menores é que os
professores escolham média e curta-metragens. Outra preocupação é não usar como
verdade filmes que contenham erros históricos, por se tratarem de adaptações.

Nas salas de
cinema, os filmes brasileiros têm ganhado espaço e público. Segundo o Informe de
Acompanhamento do Mercado do primeiro trimestre de 2014 da Agência Nacional do
Cinema (Ancine), no período, foram vendidos 35,8 milhões de ingressos. O público
para filmes brasileiros aumentou em 15,9% em relação aos três primeiros meses de
2013, enquanto os estrangeiros tiveram uma redução de 0,6%. Apesar disso, as
produções estrangeiras ainda detêm a maior parte da audiência (79,6% dos
ingressos).

`O maior
gargalo do cinema brasileiro é a distribuição. Fabricamos, fazemos filmes, mas
eles não chegam às salas, ficamos a ver navios`, diz o diretor de cinema Cláudio
Assis. Seus longa-metragens Amarelo Manga (2002), Baixio das Bestas (2006) e
Febre do Rato (2011) foram premiados em festivais de cinema nacionais e
internacionais e todos receberam o título de melhor filme por um ou mais júri.
As produções, no entanto, chegaram a poucas salas de cinema no Brasil.

`Nas escolas
vamos ter a possibilidade de contribuir culturalmente para a formação social, a
possibilidade de educar a criança para um olhar sobre a realidade brasileira,
sobre o cinema brasileiro. O Brasil precisa de formação de plateia`, analisa
Assis.

O informe da
Ancine mostra que foram 17 estreias de filmes brasileiros no primeiro trimestre
nas salas de cinema e apenas cinco tiveram mais de 100 mil espectadores. Segundo
o vice-presidente da Associação Paulista dos Cineastas, Sérgio Rosizenblit, a
maior parte da produção não é exibida no cinema. Para se ter ideia, apenas em
São Paulo estão sendo produzidas 100 obras.

Rosizenblit diz que existem grupos de
trabalho discutindo formas de escoar melhor a produção e que um diálogo mais
próximo com as escolas poderá entrar em pauta. Com o cumprimento da lei, o
cinema brasileiro chegará a mais de 190 mil escolas em todo o país, segundo o
Censo Escolar de 2013. O número é bem maior que o de salas, que, de acordo com a
Ancine, são 2.738 no Brasil. `As escolas são essenciais. Vão multiplicar os
espaços de exibição.


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