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Folha de São
Paulo, Ilustrada, sábado, 14 de junho de 2008


Crítica/"História da Imprensa no
Brasil"


Com análises e relatos, obra traça panorama da
imprensa

Livro, com estrutura cronológica, tem virtudes e
vícios de seu objeto de estudo

OSCAR PILAGALLO,
ESPECIAL PARA A FOLHA

"História da Imprensa no Brasil" tem várias virtudes e
alguns vícios de seu objeto de estudo.

Os vícios não chegam a comprometer. Como os jornais, o
livro apreende os fatos de forma fragmentada, aliás, a mesma limitação que as
organizadoras, Ana Luiza Martins e Tania Regina de Luca, apontam em outras obras
do gênero. No livro, no entanto, a perspectiva de caleidoscópio é estranha à sua
natureza.

O problema é agravado pela discrepância de formatos. Nos
11 textos, há depoimentos, análises e relatos factuais, em prejuízo da unidade.
Fosse uma coletânea, esse aspecto seria irrelevante. Mas o livro tem estrutura
cronológica e pretende ser abrangente.

E é sobre esse ponto que cabe a maior ressalva. Editado
por ocasião dos 200 anos da imprensa no Brasil -o primeiro jornal brasileiro, o
"Correio Braziliense", surge em junho de 1808-, a obra se debruça sobre uma
história que já foi contada.

Nelson Werneck Sodré, citado na introdução, tem um
importante trabalho homônimo que cobre o mesmo período, até meados do século
passado, de um ponto de vista nacionalista. Um novo livro teria, portanto, que
justificar sua existência: ou elaborar um contraponto, ou ir além.

"História da Imprensa do Brasil" não oferece uma visão
distinta para o período mais remoto desses dois séculos. E tem lacunas, como a
falta de análise do papel da imprensa em 1964, tema apenas mencionado nos textos
sobre Carlos Lacerda e sobre a imprensa alternativa.

Assim, o livro vale sobretudo pelos textos que vão além
do ponto em que Sodré parou. Thomaz Souto Corrêa, vice-presidente do conselho
editorial da Abril, traça um panorama das revistas como negócio.

Flávio Aguiar, ex-editor do "Movimento", escreve sobre a
imprensa alternativa como projeto de esquerda. O pluralismo areja a obra, e aí
está parte da virtude.

No texto que fecha o volume, Cláudio Camargo aborda o
comportamento de parte da mídia em relação ao governo Lula. O jornalista e
sociólogo identifica um hiato entre a cobertura da imprensa, que em alguns casos
chegou a incriminar sem provas, e a percepção majoritária dos eleitores,
favorável ao presidente. Para Camargo, a imprensa acabou "pregando no deserto".

Blogs

O autor também reflete sobre o impacto das novas mídias,
como os blogs. Apesar do barulho que fazem, diz ele, os blogs têm importância
limitada por se dirigirem a um público com opinião formada.

Camargo compara a situação no Brasil com a da Espanha,
onde as comunidades on-line foram as grandes responsáveis pela eleição do premiê
socialista Zapatero.

A comparação não é impertinente, mas precisaria ser
redimensionada. Lá, a imprensa encampou a versão politicamente interessada de
Aznar, premiê conservador, de que o atentado a bomba na estação de Atocha em
2004 fora obra do grupo basco ETA. No Brasil, a imprensa não
cometeu erro tão grave.




OSCAR PILAGALLO

é jornalista e autor de "A História do Brasil no Século 20" (em cinco volumes,
pela Publifolha).

Categorias: Jornalismo

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