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O Estado de São Paulo, ponto edu, Terça-feira, 25 de
agosto de 2009


Da aula para o
pregão


Crise
não assusta estudantes interessados em investir na bolsa, para ganhar dinheiro
ou só por aprendizado

Ana Bizzotto – Especial para O Estado de S. Paulo,
ANTONIO MILENA/AE

SÃO PAULO – A crise financeira pode ter assustado muito
investidor, mas a Bolsa de Valores exerce uma atração irresistível para um
público ansioso por ganhar dinheiro e, acima de tudo, aprender: os
universitários. Das 521.555 pessoas que investiram na BM&FBovespa em julho, mais
de 33 mil têm entre 16 e 25 anos. Além de cursos gratuitos, a instituição tem um
simulador de ações online, ferramenta que ajuda a entender o mercado, com 403
mil “investidores” inscritos. “Os universitários são maioria”, diz a gerente dos
programas de popularização da BM&FBovespa, Patricia Quadros.

 

Aluno
de Economia do Mackenzie, Fernando Santos, de 20 anos, recorreu ao simulador
para aprender mais sobre ações – ele começou a investir aos 16, aplicando uma
herança de família. “Li em três dias um manual de 200 páginas sobre o mercado.
Me cadastrei no site de um banco, comecei a comprar e já no primeiro dia rendeu
4%. Passava o recreio na biblioteca da escola checando cotações.” O cadastro
chegou a ser bloqueado quando o banco descobriu que ele tinha menos de 18 anos.
“Me emancipei para continuar investindo.”

 

Aos
17 anos, Santos fez um curso sobre bolsa da XP Educação, braço da corretora XP.
Hoje é operador da própria XP. “O ambiente é de tensão diária, se você não lida
bem com pressão não dá conta. Quem trabalha aqui é acelerado por natureza.”

 

Como
40% de seus alunos são universitários, a corretora criou o programa XP
Universidade, que inclui parcerias com empresas juniores. Para o diretor da XP
Educação, Gabriel Leal, aprender a investir é importante não só para alunos de
Economia ou Administração. “Todos os estudantes vão ter renda e despesas e
precisam saber controlar finanças.”

 

A
Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima) dá desconto
de 50% para estudantes nos seus cursos – no semestre passado, 45% dos
matriculados eram universitários. “Não voltamos à demanda anterior à crise, mas
estamos bem próximos”, diz Patricia Guedes, assessora de Educação.

 

Aluna
da Andima, Daiane Pereira, de 23, virou operadora em junho. Recém-formada em
Administração pelo Ibmec-RJ, ela diz já ter aprendido a falar em dois telefones
ao mesmo tempo e a lidar com o fato de ser a única mulher entre 60 homens. Mas
ainda não investiu por conta própria. “Se o dinheiro é seu, dá medo.”

 

Ao
contrário de Daiane, o aluno de Administração da USP Vinícius Dias, de 25, ficou
atraído pela chance de ganhar dinheiro rápido. Usou simuladores e, aos 21 anos,
começou a investir, até em derivativos, operações de alto risco. Chegou a perder
50% do que aplicou com recursos de parentes e amigos. “Depois recuperei, mas
parei de investir dinheiro dos outros e percebi que precisava ser mais
profissional.”

 

O
estágio num banco de investimentos proporcionou a Dias o conhecimento que
buscava. “Continuo a investir de maneira amadora, mas usando o que aprendi no
banco. Só a experiência te faz entender a dinâmica da bolsa.”

 

Para
aproximar colegas do mercado, estudantes da Faculdade de Economia e
Administração da USP criaram em 2007 a Liga do Mercado Financeiro, com apoio da
universidade e de empresas. Em 2008, a Liga fez uma pesquisa com 14 instituições
financeiras sobre conhecimentos desejáveis para quem quer entrar no setor.
Depois, montou um curso gratuito para alunos da FEA.

 

Para
o diretor de Relacionamento da Liga, Frederico Amaral, de 23, quem faz o curso
passa a entender melhor o universo profissional. “E o mercado também percebe
melhor o que é ensinado na academia.” Aluno do 3º ano de Economia, ele pondera
que o mercado financeiro vai além da bolsa. “Ela é um sinal mais evidente de
como está a economia real, mas há outras áreas. Eu mesmo quero ser financista,
mas não tenho perfil de operador.”


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