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UOL EDUCAÇÃO – 23/03/2015 – SÃO PAULO, SP

Da periferia de SP, blogueiro do UOL passa em duas universidades nos EUA

IZAQBELLE MUNDIM

`Passamos no MIT!`,
assim Gustavo Torres da Silva, 17, dirigiu-se aos amigos do Capão Redondo,
bairro da periferia da zona sul de São Paulo, nas redes sociais no último
domingo (15), quando recebeu a confirmação de que havia sido admitido no
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. Ele, que tem
um blog no UOL Educação, já havia recebido a resposta positiva em dezembro da
também norte-americana Universidade Stanford, para cursar engenharia física.

`Deixei muito claro no
meu application [carta de admissão] que eu vinha de condições que não tinham
tantas oportunidades, mas que fiz o máximo para aproveitar as poucas que tive
para crescer e acho que isso chamou a atenção`, diz Gustavo, que ainda não
decidiu em qual universidade vai estudar e aguarda até o fim de março a resposta
de outras 10 instituições, dentre elas Harvard, Columbia, Duke, Cornell e
Pennsylvania.

Ele ainda não recebeu a
resposta oficial da Universidade de Columbia, mas foi convidado a conhecer a
instituição com todas as despesas pagas. Ele pretende fazer engenharia elétrica
e computação e tem até 1º de maio para se decidir.

Segundo Gustavo, o
complexo processo seletivo para as universidades americanas incluiu algumas
provas, redações sobre temas como `o que importa para você e por quê?`, uma
triagem de histórico escolar, cartas de recomendação, lista de conquistas
acadêmicas e atividades extra-curriculares.

`Eles querem saber se o
aluno é interessante para a faculdade, então vão olhar para toda a história dele
para saber se tem feito a diferença nos ambientes por onde passa`, diz.

No Brasil, passou na
Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e na UFSCar (Universidade
Federal de São Carlos).

Inspiração

Filho de um técnico em
elétrica e de uma cuidadora de idosos, Gustavo afirma ter sido influenciado
pelos pais a estudar.

`Liam gibis para mim e
quando comecei a escola me davam muita atenção, perguntavam sobre as atividades,
viam minhas provas e fizeram com que estudar se tornasse algo que eu gostava`,
diz.

Para chegar onde quase
está, Gustavo também cita a importância da ex-professora Andreia Tulon, que
notou o bom desempenho do estudante em uma olimpíada de matemática quando era
aluno da 6ª série da Escola Estadual Miguel Munhoz Filho, no Capão. `Ela
identificou o meu potencial e me inscreveu no processo seletivo para o Ismart
[Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos]`, conta.

O instituto, que apoia
estudantes de baixa renda e oferece bolsas de estudo em colégios particulares de
excelência de São Paulo e do Rio de Janeiro, concedeu a Gustavo uma bolsa no
Colégio Santo Américo, onde fez um curso de transição da escola pública para a
particular, estudou o ensino médio e conseguiu uma bolsa para estudar inglês.

Maratona

Gustavo intensificou os
estudos nos últimos meses do 3º ano do ensino médio. De agosto a novembro do ano
passado, acordava às 5h da manhã para ir para a escola, estudava por aplicativos
de celular no ônibus e ficava na escola das 8h às 18h, estudando nos intervalos.

`Quando eu chegava em
casa, estudava até de madrugada para acordar às 5h de novo`, diz.

Apesar da rotina,
Gustavo diz que pratica esportes, encontra os amigos e se dedica ao DSJ
(Descobrindo o Sonho Jovem), projeto social fundado por ele e outro estudante do
Ismart que também mora no Capão Redondo. `A gente que é de periferia muitas
vezes não valoriza o potencial que tem. A ideia do projeto é incentivar outros
jovens do Capão a sonhar mais`, diz.

Sonhos maiores

E o nome do projeto
resume para ele a dica mais fundamental para alçar voos tão altos. `O mais
importante é parar para reconhecer o que é importante para si. As faculdades lá
fora querem descobrir se você tem alguma paixão, se você se envolve em algo e
quer fazer a diferença no mundo`, diz. `Na pior das hipóteses, se a pessoa não
conseguir passar na faculdade que sonhou, pelo menos vai ter investido tempo em
uma coisa que realmente gosta e que faz sentido para ela`.

Gustavo viaja em agosto
deste ano, e já projeta planos ainda maiores. `Quero criar uma empresa de
tecnologia que possa melhorar a vida das pessoas e ter um impacto social muito
grande`, diz ele, que pretende voltar para o Brasil para concretizar o sonho.


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