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REVISTA ISTO É:
Comportamento



26/9/2007

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De olho no amanhã


A profissão de
futurista já existe. É ensinada em sala de aula, com direito até a diploma

CLAUDIA JORDÃO

Ela é capaz de
enxergar 50 anos à frente, está sempre pensando e falando sobre o futuro e vê o
mundo por um prisma diferente. Enganase quem acha que Rosa Alegria é algum tipo
de vidente auxiliada por cartas de tarô ou bola de cristal. Pelo contrário, seu
ofício tem base científica. Graduada em letras pela Universidade de São Paulo
(USP), Rosa, 50 anos, é mestre em estudos do futuro pela Universidade de
Houston, nos Estados Unidos. Formada em 2002, é a única futurista brasileira.

Rosa analisa o
presente, aponta tendências e antecipa acontecimentos com base em informações
sociais, demográficas, econômicas, tecnológicas, ambientais e de governo.
Aprendeu a enxergar bem longe – diferente dos economistas, por exemplo, que
costumam fazer previsões para até três anos. “É preciso deixar de olhar no
retrovisor e acender o farol de milha”, diz ela.

Um futurista
presta consultoria para empresas privadas e instituições públicas. Nos Estados
Unidos, órgãos como a Nasa e empresas como Coca-Cola e IBM recorrem a esses
profissionais. Rosa já estudou casos de gigantes como Pão de Açúcar, Phillips e
C&A – todos através de uma consultoria de varejo. Essas empresas querem saber
tendências de consumo nos próximos anos. “Para inovar, é preciso ‘ver’ as
oportunidades e os problemas que estão por vir antes de todos”, diz Rosa. No
futuro, diz ela, seremos uma sociedade ecologicamente correta. “As pessoas serão
superconscientes com a preservação do meio ambiente”, aposta. “Vão querer saber
se tal algodão é transgênico, se seu cultivo envolve mão-deobra escrava ou
infantil, onde é fabricado, como é transportado, etc.”


O futurismo é uma
carreira nova. A Universidade de Houston foi a primeira a oferecer mestrado em
1974

e há apenas outras quatro universidades no mundo com o curso na grade. Ela
recorda os olhares de estranheza no campus. “Éramos (os alunos de Estudos do
Futuro) os loucos da universidade. Deviam pensar: ‘Por que perdem tempo pensando
no futuro com tanta coisa para resolver no presente?’”, diz Rosa. Hoje, a
consultora acredita que as pessoas estão mais informadas sobre seu trabalho e
mais interessadas em pensar no futuro. “No ensino fundamental as crianças têm
aulas de história, mas não são encorajadas a pensar o país que querem viver”,
diz ela. “Para melhorar, temos que nos preparar para o futuro.”



PARA SER FUTURISTA


Só há cinco
escolas no mundo que formam mestres em estudos do futuro

-University of
Houston e University of Hawaii, nos Estados Unidos, University of Swinburne, na
Austrália, Turku School of Economics, na Finlândia, e Conservatoire Nacional des
Arts et Métiers

-O currículo traz
matérias como sociologia, economia e estatística direcionadas para as
transformações.

LENA CASTELLÓN

Dono de belezas famosas no mundo todo, o Brasil luta
para conquistar uma fatia maior do mercado global de turismo. No ranking
internacional, a posição é modesta diante de seu potencial: é o 36o destino mais
procurado do planeta. A verdade é que a vocação turística brasileira tardou a
aparecer e precisou de ajuda estrangeira e de um acontecimento extraordinário –
o estabelecimento da família real no Rio de Janeiro. É isso o que revela o
historiador Haroldo Leitão Camargo, pesquisador da Universidade de Campinas
(Unicamp), no recém-lançado Uma pré-história do turismo no Brasil (ed.
Aleph). No livro, o despertar da sensibilidade da sociedade a nossas paisagens e
atrativos é analisado do período colonial até o reinado de dom Pedro II. Mas o
foco está nas recreações e lazeres aristocráticos surgidos a partir da chegada
da comitiva de dona Maria I, a rainha de Portugal, e do príncipe regente dom
João VI, em 1808.

Sensibilidade é um elemento importante para o
desenvolvimento do conceito de turismo. Ao menos em um de seus aspectos. Diz o
dicionário Aurélio que turismo se aplica a viagem ou excursão feita por
prazer. Como ressalta Camargo, o prazer estava distante dos passageiros dos
primeiros transcursos oceânicos entre o velho continente e o Brasil. Do
descobrimento até meados do século XIX, as viagens em navios eram longas,
extremamente desconfortáveis e repletas de sofrimentos a bordo, inclusive para a
nobreza. Consta que a princesa Leopoldina, apesar do luxo que a cercou, teve de
enfrentar sede, calor, suor, água com gosto pútrido e uma praga de pulgas.

Não é à toa, portanto, que os portugueses que vinham se
estabelecer no Brasil não prestavam maior atenção às belezas locais. Estavam
amortizados pela penosa travessia e se preparavam para a dura realidade: muito
trabalho, a falta de produtos com os quais estavam habituados na Europa e preços
altos dos itens importados. Foram os demais estrangeiros (ingleses, alemães e
franceses) que descreveram com entusiasmo o panorama, mesmo depois da estafante
jornada. O primeiro atrativo para os viajantes era a Baía de Guanabara, a
nossa porta de entrada.
O alemão Martius não economiza elogios em seu Viagem
pelo Brasil, de 1823: "Impossível exprimir os sentimentos que dominam o
observador enquanto seus olhos contemplam o cenário. Tenho visitado muitos
lugares famosos pela beleza e magnificiência, mas nenhum me deixou na mente
igual impressão." Os relatos dos estrangeiros mostram que não havia viagens
prazerosas por mar, rio ou terra, mas que já se podia notar a existência da
sensibilidade turística. "A importância dos estrangeiros é decisiva. A produção
de literatura de viagens é responsável direta pelo valor que se conferiu aos
atrativos", explica Camargo.

Há mais atrativos que ganharam a atenção dos viajantes
estrangeiros e também da população: o Jardim Botânico, o Passeio Público (jardim
murado ainda existente na Lapa) e a Floresta da Tijuca. Mas a mera existência
de paisagens bonitas não implica o surgimento da atividade turística. Para isso,
é necessária a oferta de um conjunto de serviços capazes de atrair e atender
viajantes.
O que era quase inexistente antes da vinda dos monarcas. Daí a
razão de a família real ter propiciado as bases do que lançaria o turismo no
Brasil anos depois. Os deslocamentos de dom João VI pelos arredores do Rio
mobilizavam inúmeros fornecedores de munição, bebidas, coches e animais de
montaria. Os locais para onde ele e seu séquito se dirigiam com freqüência se
consagravam como sítios turísticos potenciais. "Os hábitos da monarquia e da
corte, inclusive após a Independência, eram modelos imitados socialmente",
salienta o historiador. Um dos costumes reais era a vilegiatura, ou seja, o
veraneio por um lugar mais fresco e longe do burburinho do centro. Outro era a
busca por estâncias de águas termais. E ainda havia o jogo. Criado em 1845, o
Cassino Fluminense era uma espécie de clube de elite que contava com a presença
assídua do imperador. Grandes bailes foram organizados ali, porém ele era
sustentado pelos associados. Não era uma empresa com finalidade lucrativa.
Segundo Camargo, turismo, de fato, nasceu somente no século XIX, a partir dos
anos 20, e se delineou no período Vargas. Mas isso é outra história, que ele
também planeja escrever.


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