Folha de São
Paulo, Empregos, domingo, 20 de abril de 2008


EM AÇÃO

Desgastante, ocupação exige paixão

Mercado de capitais fascina jovens que estejam
dispostos a trabalhar até 18 horas por dia

DIOGO BERCITO,
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ação é a palavra-chave de quem trabalha no mercado de
capitais -e não apenas pelos títulos negociados na Bolsa. Longas e exaustivas
jornadas com mudanças imprevisíveis a qualquer hora do dia (e da madrugada) são
commodities no dia-a-dia desses profissionais.

Mesmo assim, essa área seduz jovens na disputa por uma
carreira de sucesso meteórico.

Uma pesquisa realizada com 1.170 ex-alunos da FEA-USP
(Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São
Paulo) em 2006 aponta que um terço dos graduados escolheu trabalhar no setor
financeiro.

O motivo pela procura, avalia o responsável pela
pesquisa, Wagner Cassimiro, é a remuneração “bastante agressiva”.

“Não é possível agüentar a profissão só por dinheiro. É
fundamental ter paixão pelo que se faz”, pondera o administrador Douglas
Shibayama, 28.

Analista financeiro, Shibayama trabalha em Nova York
para um grupo de investimentos localizado em Wall Street -rua que é símbolo do
mercado de finanças no mundo inteiro.

Segundo ele, o dia-a-dia dinâmico é uma das razões para
continuar no emprego de mais de 12 horas diárias de trabalho.

“Minha jornada hoje é mais tranqüila do que quando eu
morava no Brasil”, argumenta. “Antes de me mudar para cá, era comum trabalhar
mais de 18 horas por dia. Deixava um saco de dormir no escritório.”

Embora com um expediente mais curto -de cerca de nove
horas diárias-, o estudante de economia Renato Motta, 25, concorda com Shibayama
ao afirmar que a profissão é desgastante. Contudo, não se deixa intimidar.

“É estressante, sim, mas nada com que eu não esteja
preparado para lidar”, diz Motta, que é supervisor de mesa de operações na
Título Corretora.

Dança da cadeira

Os lançamentos recordes de IPOs (oferta pública inicial
de ações), as fusões entre grandes empresas e a tendência de investidores de
renda fixa começarem a migrar para a Bolsa certamente beneficiam as carreiras do
mercado de capitais.

Os profissionais mais disputados, porém, são aqueles que
já atuam no setor, dificultando a entrada de novatos. “Não existe uma “dança da
cadeira “, pondera Danilo Castro, gerente da divisão de “banking e insurance” da
Page Personel.

Uma alternativa para entrar no mercado, segundo Castro,
é -para os que estão na universidade- apostar em programas de estágios e de
trainees.


Profissional vê nas telonas estigma de perfil da vida real


Figura central, corretor deve ser comunicativo e
buscar sempre o novo

COLABORAÇÃO
PARA A FOLHA

Nos cinemas, os corretores de ações já se viram
interpretados nos mais diversos papéis. Estiveram em “Wall Street, Poder e
Cobiça”, “Psicopata Americano”, “A Fogueira das Vaidades”, “O Eclipse”, “A
Fraude” e no recente “Um Bom Ano”.

O fator comum entre os personagens desses filmes é o
reforço que trouxeram ao estereótipo já consolidado de que esse profissional
trabalha demais, é apaixonado pelo poder e só tem olhos para o dinheiro.

A imagem não é de todo fantasiosa, diz o professor de
finanças José Roberto Securato: “Esses profissionais estão acostumados a dizer
“ganhei” ou “perdi”, e a variável é dinheiro”.

O contraponto é que os bancos e as corretoras estão
hoje preocupados com questões de sustentabilidade e governança.

“Mais importante do que ganhar dinheiro é a forma com
que se ganha”, diz Securato.


Comunicativos

Nos filmes, a figura central no mercado de capitais é
o corretor, responsável pela compra e pela venda de ações. Na vida real, para
exercer a função, é preciso ser aprovado em um exame qualificatório aplicado
pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que regulamenta o mercado de
capitais.

“É uma profissão cada vez mais definida e
profissionalizada”, afirma Homero Amaral, presidente da Ancor (Associação
Nacional das Corretoras).

Apesar de o diploma universitário não ser exigido
pela CVM, quem tem ensino superior completo -de preferência, em economia- sai na
frente.

Comunicação, nesse cargo, é essencial. “Não dá para
ser tímido nem retraído”, diz Iraiana Leonardi, 23, que trabalha na Intra
Corretora. “Temos de saber nos expressarmos, pois lidamos com as pessoas e com o
dinheiro delas.”

Leonardi conta que estreou como corretora por acaso.
Estudava direito e trabalhava na área de concessão de crédito quando lhe
sugeriram o ingresso no mercado financeiro -aceitou e transferiu sua graduação
para economia.

“Não é fácil. Ser corretor exige 110% do seu
empenho”, diz. “É importante ser uma pessoa que não se desliga, que não pára,
que sempre busca o novo.”

A procura incessante pelo novo é, para Frederico
Góes, 52, da Fator Corretora, uma das vantagens de seu trabalho. Formado em
psicologia, Góes aponta como positiva a falta de rotina da sua longa jornada de
trabalho -de 12 horas por dia. “Não há monotonia”.

(DB)

“A palavra
vale muito”, diz corretor

COLABORAÇÃO
PARA A FOLHA

Com o “homebroker”, ferramenta que permite ao
investidor comprar e vender ações, um tipo de corretor -o de pregão- encara o
desafio de disputar cada vez menos oportunidades de trabalho.

Diferentemente do corretor de mesa de operações, esse
profissional atua ao vivo, na Bolsa.

“Aqui, a palavra vale muito”, diz Amadeu Rodrigues,
40, da Fator Corretora. “Se você disse “eu vendo” e alguém disse “eu compro”, o
negócio está fechado”, comenta.

Uma das habilidades necessárias é ter ouvido apurado
para, no barulho do pregão, distinguir o que foi dito. “Dois viram dez”,
exemplifica Rodrigues.

Apesar da ameaça do fim do pregão, ele afirma que
quer permanecer no mercado financeiro. “Sei que não será fácil, mas estou pronto
para o esforço.”

BANCOS

Dentro de bancos, é possível atuar em departamentos como
controladoria, tecnologia da informação, apoio e segurança, controle e
avaliação de riscos
, gerência de conta corrente, de agência e de segmentos e
tesouraria


CORRETORAS

Na mesa de operações, onde a compra e a venda de
ações são realizadas, trabalham operadores, corretores e gerentes de mesa

No escritório, há demanda por gestores de investimento, analistas,
gerentes de risco e economistas


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