Revista Ensino Superior

Revista Ensino Superior, Edição 91, abril
06

Desistência em
alta

A falta de identificação com o curso escolhido é
um dos motivos que levam alguns universitários a abandoná-los

Dúvidas, incertezas e a falta de informação são sentimentos
que geralmente tomam conta da vida de um jovem tanto na hora de definir o seu
futuro profissional quanto no decorrer da graduação escolhida. As expectativas
nessa fase da vida, em alguns casos, têm muito de interferência dos pais, que
influenciam os filhos na hora de optar por essa ou aquela profissão. Muitas
vezes, o que deveria ser apenas orientação, se transforma em pressão. Aliado a
isso, a falta de maturidade pode fazer com que o jovem fique indeciso e sofra
desilusões por escolher uma profissão que nada tem a ver com as suas aptidões.
Nesse caso, a falta de identificação com o curso é peça fundamental para a
desistência.

Segundo o especialista em educação de adolescentes, Marcos
Ueda, a escolha profissional é uma das mais difíceis etapas da vida do ser
humano. “É o momento em que iniciamos a construção daquilo que planejamos para
nós. Isso, claro, sem levar em conta os obstáculos e as decepções que podem
surgir durante toda a trajetória de vida”, comenta. O próprio Ueda serve de
exemplo. Ele sempre acreditou que a engenharia fosse a profissão dos seus
sonhos, mas abandonou a idéia no quarto ano do curso por não se identificar com
as disciplinas e nem com o ambiente educativo. Hoje, graduado em Comunicação
Social e com várias especializações no exterior, é formador de professores em
língua estrangeira para toda a América Latina. Graças a essa bagagem
profissional adquirida ao longo da sua carreira, Ueda passou a orientar os
jovens no processo da escolha profissional. O especialista destaca alguns      
tópicos e processos que podem ajudar os jovens na escolha profissional.
“Pergunte a si mesmo se está preparado para a universidade e também para o curso
que será a base para que você exerça a sua profissão”, diz. Diante disso, é
fundamental conhecer aonde se quer estudar. “Realize visitas a instituições de
ensino que ofereçam o curso desejado para conhecer a estrutura curricular
aplicada e também os profissionais que ministram disciplinas”, completa. Ueda
diz também que é sempre válido procurar conhecer e conversar com pessoas que
trabalham na área desejada. Afinal, ali estará o ambiente de trabalho e
cotidiano que jovem virá a conviver após a graduação. Por fim, mais uma dica: o
jovem deve usar a Internet a fim de todo o tipo de informação sobre a carreira
escolhida.

Do erro ao acerto – A fisioterapeuta Daniella Xavier da
Silveira Dias Garrote, de 33 anos, realizou três tentativas em universidades e
áreas diferentes no período de nove anos até chegar a sua profissão. Desde
adolescente, gostava muito de biologia, mexer com plantas e de assuntos ligados
à ecologia. Essas preferências fizeram com que Daniella, aos 22 anos,
concorresse a uma vaga para o curso superior de Engenharia Florestal. “Apesar
dos dois primeiros anos serem muito básicos, não me dei conta que o curso tinha
muitas matérias na área de exatas. Mesmo assim, fiz o terceiro ano, para
verificar como as disciplinas eram voltadas para o curso de engenharia. Percebi
que não tinha nada a ver com o que eu imaginava e desisti.”

Ela não havia se identificado com os cálculos, por isso,
resolveu mudar a carreira.       Saiu das ciências exatas e prestou vestibular
para Direito. “Fiquei 2 anos cursando Direito e também percebi que a área não
tinha nada a ver comigo”, comenta. Daniella fala que nunca recorreu a um teste
vocacional para saber, de fato, quais eram as suas aptidões. Finalmente, optou
por um outro caminho, a área de fisioterapia, tendo concluído o curso há dois
anos. “Desde o primeiro ano fiquei apaixonada pelas matérias.” A falta de
conhecimento da estrutura curricular também levou a webdesigner Tânia Crepaldi,
de 40 anos, a desistir logo no primeiro ano do curso de Engenharia Elétrica.
“Desde pequena, vivia consertando aparelhos domésticos em casa. Um fio que
precisasse trocar ou até alguma peça interna que necessitasse de ajuste, eu
conseguia arrumar”, lembra. Foram essas as habilidades que a levaram, aos 17
anos, a ter certeza de a escolha era a mais apropriada para o seu futuro
profissional. Enganou-se. No fim do primeiro ano, mostrava-se descontente,
irritada com as disciplinas e o ambiente universitário. No ano seguinte, foi em
busca da área que poderia atender suas expectativas. “Sabia que matemática era o
meu forte. Inclusive, realizei testes vocacionais que indicaram a matéria como a
minha principal vocação”, comenta Tânia. No início do ano seguinte decidiu
concorrer ao vestibular para os cursos de Comércio Exterior e Matemática com
ênfase em Processamento de Dados. Passou nas duas e optou pela segunda, para
poder também trabalhar com programação, uma outra aptidão. Concluindo o curso,
atuou como analista de sistemas e há 3 anos é webdesigner.

 


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