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Folha de São Paulo, Ciência + Saúde, SÁBADO, 1 DE JUNHO DE 2013

Duplicação da Tamoios revela sítio arqueológico

Escavações no Vale do Paraíba acham vestígios
da presença de índios aratus

Pesquisadores estimam que as peças de
cerâmica e pedra encontradas tenham cerca de 600 anos

RICARDO HIARCOLABORAÇÃO
PARA A FOLHA, EM CARAGUATATUBA

Escavações feitas durante a obra de duplicação
da rodovia dos Tamoios, no Vale do Paraíba (SP), revelaram vestígios da presença
de índios de tradição cultural aratu, que habitaram o país entre os séculos 10 e
14.

São milhares de peças de cerâmica –como
fragmentos de potes, tigelas e urnas funerárias– e ferramentas de pedra
lascada, espalhadas por uma área de 5.000 m2 na altura do km 28 da estrada, em
Paraibuna (124 km de SP).

Pela quantidade de material encontrado, em um
ponto que era cortado pelo rio Paraíba do Sul –desviado para a construção da
usina de Paraibuna–, supõe-se que havia uma grande aldeia no local, com
centenas de pessoas.

Para a equipe envolvida nos trabalhos, a
descoberta ajuda a montar o quebra-cabeça da ocupação humana nesta região de São
Paulo, onde a tradição tupi-guarani sempre foi mais comum.

"A descoberta confirma a presença dos aratus no
Vale do Paraíba e a importância do Paraíba do Sul para a população ao longo das
gerações", diz o arqueólogo Wagner Bornal, contratado pela Dersa (estatal de
estradas de São Paulo) para o trabalho.

Até então, havia apenas dois outros sítios com
vestígios dos aratus na região: em Santa Branca (95 km de SP) e em Caçapava (116
km de SP).

Ceramistas e agricultores, os aratus viveram
antes da colonização portuguesa, sobretudo no Nordeste. Não há consenso sobre o
que levou ao desaparecimento de sua cultura –a hipótese mais provável é que
eles tenham se mesclado com outras etnias.

Os primeiros estudos que identificaram essa
cultura foram publicados no final da década de 1960.

Considerada "mãe" da arqueologia amazônica,
Betty Meggers (1921-2012), e o marido, Clifford Evans (1920-1981), encontraram
24 sítios aratus no Recôncavo Baiano.

Hoje há registro de vestígios dessa cultura no
Nordeste e nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo, onde o
sítio Tamoios 1 é o mais recente.

Os índios dessa tradição viviam nas imediações
de cursos de água perenes. Cultivavam milho, feijão, mandioca e amendoim. Também
trabalhavam o algodão. A cerâmica produzida por eles era alisada, sem traços
decorativos.

Também usavam grandes potes como urnas
funerárias, material encontrado em abundância no sítio na Tamoios –muitas peças
praticamente na superfície, sob apenas 40 cm de terra.

O local está fechado para pesquisas. Os
arqueólogos querem transformá-lo em sítio-escola para visitas monitoradas,
proposta que ainda será analisada.

"O sítio tem um potencial informativo e
científico, pois ajuda a completar uma lacuna sobre a ocupação do Vale do
Paraíba", afirma Bornal.

Segundo a Dersa, o sítio não sofrerá impacto das
obras da Tamoios. A descoberta foi reconhecida pelo Iphan (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e o material será catalogado e
disponibilizado ao público.


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