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Folha de São Paulo, Empregos, domingo, 10 de junho de 2012

Economia verde já emprega milhões

Setor de energia renovável é um dos que mais
contratam; cerca de 890 mil trabalham na área de biocombustíveis

LUCIANO FELTRIN,
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com a Rio+20, conferência da ONU (Organização
das Nações Unidas) sobre desenvolvimento sustentável que começa nesta quarta, o
Brasil reforça que convive, cada vez mais de perto, com desafios e oportunidades
típicos de uma economia em plena transição e à procura de um modelo sustentável.

A face mais visível dessa etapa de mudanças
aparece no mercado -não somente o brasileiro. Segundo dados recentes divulgados
pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), metade da força de trabalho
global -um exército de cerca de 1,5 bilhão de pessoas- será afetada pela
economia verde.

Nas contas da Iniciativa Verde, ONG que reúne
especialistas da ONU e da OIT, a passagem para uma economia sustentável pode
gerar até 60 milhões de vagas no mercado mundial ao longo dos próximos 20 anos.

BENEFICIADOS

Parte considerável das oportunidades surgirá em
países de economias emergentes. Hoje, mais de 3 milhões de brasileiros têm
empregos verdes, o equivalente a 7% do total de trabalhadores com carteira
assinada no país. Cerca de 890 mil estão na área de biocombustíveis, no setor de
energia renovável.

A OIT projeta que oito setores econômicos
deverão ser os maiores beneficiados: agricultura, silvicultura, pesca, energia,
indústria manufatureira, reciclagem, construção e transporte.

Isso não significa que os chamados empregos
verdes serão limitados a essa área.

No Brasil, segundo especialistas, as
oportunidades estarão espalhadas por todos os ramos, inclusive o financeiro.

"Um dos grandes desafios do momento é integrar o
relatório financeiro, hoje o principal indicador de saúde de uma empresa, ao de
sustentabilidade", afirma Mariana Grossi, presidente-executiva do CEBDS
(Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável).

Contabilistas, auditores, advogados e
especialistas em relações com investidores puxam a fila entre as carreiras mais
promissoras em um futuro que deve ser desenhado com menos impacto ambiental.

Outra figura cujo passe está valorizado nessa
seara do emprego sustentável é o gestor ambiental. Um profissional da área ganha
cerca de

R$ 15 mil. Para se especializar, é preciso
cursar uma pós-graduação.

"Essa é uma carreira com oportunidades para
diversos profissionais, já que o gestor ambiental pode ser alguém com formações
diversas, desde que esteja disposto a trabalhar com as demandas sustentáveis",
explica Sandra Quinteiro, consultora do Instituto EcoSocial.

10 Profissões Sustentáveis

Conheça ps cargos, as
perspectivas e os salários mais promissores da economia verde, saiba onde
estudar e veja as dicas de quem já chegou lá

1) ADVOGADO AMBIENTAL

Especialista deve ir além do jurídico

Advogados devem ser muito beneficiados pela economia
verde.

Por conta das complexas regras municipais e estaduais
de prevenção à contaminação do solo, os especialistas ganham espaço e campo de
trabalho nas empresas.

Outra área na qual os profissionais têm sido
requisitados é a de fusões e aquisições. São contratados para analisar possíveis
riscos de passivos ambientais e multas aos quais a empresa compradora pode estar
sujeita ao adquirir outra. Operações desse tipo, chamadas de auditorias
ambientais, exigem noções além das jurídicas.

"É preciso conhecer bem as particularidades da
empresa atendida e seu setor de atuação, além de estudar temas como geologia,
pois, ao defender seu cliente perante os órgãos ambientais, o advogado vai estar
frente a frente com profissionais especializados", explica Renata Campetti
Amaral, 34, advogada da área no escritório Trench, Rossi e Watanabe.

O que faz: analisa riscos e prepara contratos com
cláusulas ambientais

Perspectivas: com mais leis ambientais, a tendência é
que advogados tornem-se consultores em temas da área

Salário aproximado: R$
15 mil

Onde estudar: Fundação
Getulio Vargas,
www.direitogv.com.br,
e Universidade de São Paulo,
www.direito.usp.br

2) ESPECIALISTA EM
ENERGIAS RENOVÁVEIS

Hora de se preparar para as oportunidades do
futuro

O estudante João Druzian, 22, diz que escolheu cursar
engenharia mecânica com especialização em energias renováveis e tecnologia não
poluente para fazer mais com menos -e não sobrecarregar a natureza.

Aluno do quinto ano, ele faz estágio na consultoria
Smarttech. "Não vai faltar trabalho. Acompanho as discussões sobre a
popularização do carro elétrico e o uso de combustíveis sustentáveis na aviação
comercial."

Para Carlos Carneiro, coordenador do curso da
Universidade Anhembi Morumbi, muitos projetos ligados à energia limpa serão
estimulados pelo governo. "O papel da universidade é preparar os futuros
engenheiros para quando essas oportunidades surgirem."

O que faz: desenvolve projetos de uso de energia
renovável de fontes não finitas, como solar e eólica

Perspectivas: falta mão de obra, apesar do aumento da
demanda por matrizes energéticas limpas

Salário aproximado: R$
8.000

Onde estudar: Universidade
Anhembi Morumbi,
http://portal.anhembi.br

3) DIRETOR DE RELAÇÕES
COM INVESTIDORES

É preciso transmitir o conceito

Tão importante quanto praticar sustentabilidade
dentro de casa é ter capacidade de transmitir esse conceito a clientes,
fornecedores, imprensa e investidores.

Com a economia verde consolidando-se em diversos
setores do mercado mundial, essas atividades ficarão concentradas nos
profissionais de RI (relações com investidores).

Presentes na vida de empresas com ações na bolsa ou
daquelas que pretendem receber investimentos de fundos que compram fatias de
"startups" para vitaminá-las, os profissionais de RI devem estar entre os mais
requisitados pelo mercado.

"Esse especialista começa a puxar a fila entre os
mais procurados pelas empresas", diz Carlos Rossin, diretor da consultoria PwC
Brasil (Pricewaterhouse Coopers).

"Não basta contar com um profissional que ajude a
desenvolver a sustentabilidade internamente. O RI é o mais indicado para levar a
sustentabilidade do muro para fora, fazendo a interface entre a empresa e o
mundo", diz.

O que faz: traduz as práticas de sustentabilidade da
empresa para o público externo (investidores, imprensa, fornecedores e clientes)

Perspectivas: é um profissional fundamental nas
organizações

Salário aproximado: R$
10 mil

Onde estudar: Fipecafi
(Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), 
www.fipecafi.org

4) CONTABILISTA

Relatórios devem incluir sustentabilidade

A contabilidade vem passando por uma revolução para
se adaptar aos novos tempos, afirmam especialistas.

"O contador que não incluir sustentabilidade na
medição do desempenho de uma empresa não tem futuro", diz Roberto Gonzalez,
professor da Trevisan Escola de Negócios.

"A Rio+20 buscará entender e usar a economia para
inserir a sustentabilidade na vida empresarial. Isso só será possível quando os
relatórios financeiros e contábeis forem integrados aos de sustentabilidade",
diz José Roberto Kassai, professor da Fipecafi.

O resultado pode ser percebido na mudança do perfil
de quem se interessa por ciências contábeis. Profissionais de outras áreas estão
migrando para aproveitar as oportunidades.

É o caso de Carlos Lessa Brandão, 52. Formado em
engenharia civil, o profissional tem MBA em finanças e trabalhou em ONGs nos
últimos oito anos. Ele estuda formas de integrar esses relatórios nas
corporações. "Estou em plena fase de transição profissional", diz.

O que faz: prepara e analisa balanços e números das
empresas

Perspectivas: falta mão de obra qualificada

Salário aproximado: R$
10 mil

Onde estudar: Fipecafi
e Trevisan Escola de Negócios,
www.trevisan.edu.br

5) COORDENADOR DE
TRATAMENTO DE ÁGUA

Legislação abre espaço para cargo

Esse profissional monitora e coordena o processo de
tratamento dos resíduos industriais ou residenciais até que a água escoada para
rios tenha níveis de poluição aceitos pela legislação local.

"Por ser uma atividade que requer conhecimento
técnico e a responsabilidade de comandar equipes, a remuneração desse
profissional é atraente e chega a R$ 10 mil", afirma Rafael Meneses,
sócio-gerente do escritório carioca da consultoria de recrutamento Asap.

O que faz: coordena o tratamento da eliminação de
resíduos da água

Perspectivas: a legislação sobre o tema é cada vez
mais exigente e aumenta a procura por mão de obra qualificada nas estações

Salário aproximado: R$
10 mil

Onde estudar: Senai
(Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), 
www.senai.fieb.org.br

6) TÉCNICO EM MEIO
AMBIENTE

Pequena empresa amplia mercado

Braço direito do gestor, caracteriza-se por ser capaz
de realizar múltiplas funções.

O técnico deve estar preparado para colocar em
prática projetos, fazer estudos técnicos e até mesmo análises em laboratórios.

"A atuação é vasta e promissora, principalmente
porque sua demanda cresce à medida em que pequenas e médias empresas despertam
para a necessidade de desenvolver práticas sustentáveis", diz Emília Miyamaru,
professora do curso de formação de tecnólogos em meio ambiente do Senac (Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial).

O que faz: colabora para o planejamento e a prática
de projetos ambientais, orientados pelo gestor

Perspectivas: os técnicos são demandados por pequenas
e médias empresas, que começam a acordar para a sustentabilidade

Salário aproximado: R$
3.000

Onde estudar: Senac
São Paulo, 
www.sp.senac.br

7) GESTOR DE
SUSTENTABILIDADE

Políticas ambientais devem ser traçadas por
especialistas

Com o conceito de sustentabilidade em alta, é
necessário buscar gestores com conhecimentos sobre o tema.

Eles são responsáveis por alinhar a estratégia de
negócio com as políticas de desenvolvimento sustentável.

"A boa remuneração e a satisfação pessoal de estar
contribuindo com o meio ambiente tem atraído profissionais de outras áreas", diz
Christianne Canavero, 37, diretora de sustentabilidade da Dow América Latina.
Empresas com ações na bolsa e multinacionais estão entre as que já possuem
políticas estruturadas de gestão sustentável. Recentemente, a Unilever
estabeleceu metas agressivas: dobrar de tamanho, reduzindo pela metade o impacto
ambiental causado pela fabricação dos produtos.

O que faz: estabelece políticas relativas ao tema.

Perspectivas: são importantes para a estrutura de
sustentabilidade

Salário aproximado: R$
15 mil

Onde estudar: Fundação
Instituto de Administração,
www.fia.com.br;
Insper, 
www.insper.edu.br,
e Instituto Mauá de Tecnologia, 
www.maua.br

8) DESIGNER DE PRODUTOS
SUSTENTÁVEIS

Produtos verdes vão criar vagas

O ecodesign promete ser muito mais do que um modismo
passageiro.

O profissional da área tem a missão de desenhar e
planejar embalagens e produtos para durarem mais, com menores custos para a
natureza e para o consumidor.

Para Roberto de Aguiar Peixoto, pró-reitor acadêmico
do Instituto Mauá de Tecnologia, o especialista em ecodesign é um exemplo de
carreira do futuro, pois coloca em prática a visão multidisciplinar para aplicar
a sustentabilidade no setor produtivo.

Na universidade, o aluno tem aulas sobre temas da
engenharia para adquirir conhecimentos técnicos e viabilizar projetos.

O que faz: planeja embalagens e produtos com
matéria-prima sustentável

Perspectivas: grandes empresas têm programas
agressivos de redução de impactos do descarte

Salário aproximado: R$
5.000

Onde estudar: Instituto
Mauá de Tecnologia, 
www.maua.br

9) ENGENHEIRO AMBIENTAL
E SANITÁRIO

Norma para os resíduos impulsiona carreira na área

Além da tendência mundial de elaboração de projetos
verdes, as leis ambientais também impulsionam as carreiras sustentáveis. É o
caso da Política Nacional de Resíduos Sólidos, promulgada em 2010, que exige
estratégias municipais para o lixo.

A norma, combinada à intensa atividade da construção
civil, tem ampliado a demanda por profissionais que estudam temas como o solo.

Outro campo que se abre para especialistas na área é
o empreendedorismo.

"Nenhum outro profissional é tão bem preparado para
transformar lixo em oportunidades de ganhar dinheiro. Ele une conhecimento à
consciência ambiental", diz Rubens Chagas, professor do Centro Universitário
Senac.

Na engenharia ambiental, a atividade que mais atrai
Vitor Alexandre, 25, aluno do 1º semestre da Anhembi Morumbi, é a ligada ao
reaproveitamento de materiais de construção. "Sobras de tijolo, cimento e
plástico podem render mais do que casinhas de cachorro recicladas", diz.

O que faz: fiscaliza e orienta terrenos e obras para
verificar riscos de poluição

Perspectivas: boas, pois a legislação ambiental
amplia o campo de trabalho

Salário aproximado: R$
8.000

Onde estudar: Universidade
Anhembi Morumbi

10) URBANISTA

Como reduzir a agressão aos centros urbanos

Algumas profissões tradicionais, como a de urbanista,
foram repaginadas e ganharam espaço por serem capazes de aplicar a
sustentabilidade ao desenvolvimento das cidades.

"É necessário pensar a infraestrutura urbana como
algo capaz de agregar a sustentabilidade", diz Claudio Bernardes, presidente do
Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de
Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo).

O que faz: estuda e desenvolve formas de construção e
ocupação do espaço urbano menos agressivas ao meio ambiente

Perspectivas: é crescente o número de obras e
construções que adotam princípios verdes

Salário aproximado: R$
8.000

Onde estudar: Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da USP, 
www.usp.br/fau,
e Universidade Secovi,
www.universidadesecovi.com.br

Categorias: Economia

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