Folha de São Paulo, Mundo, QUARTA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2012
MATIAS SPEKTOR
Educação de diplomatas
Se o Instituto Rio Branco aspira a ser uma
escola de formação profissional, vai precisar se adaptar
O Instituto Rio Branco, a academia onde são
treinados os diplomatas brasileiros, é um dos principais celeiros de talento
jovem no país.
Em dois anos de curso, os recém-ingressados
assistem a aulas e palestras, estudam idiomas e criam redes de relacionamento.
Aprendem a se vestir, falar e pensar de acordo com o cânone diplomático
nacional.
No passado, a escola facilitou a coesão e a
disciplina que caracterizam nossa política externa.
Mas agora o modelo educacional do Instituto Rio
Branco está obsoleto e corre risco de ficar irrelevante. O problema, que não é
deste governo, arrasta-se há anos, apesar do bom trabalho da atual direção.
Com exceção dos excelentes cursos de idiomas, a
proposta didática é talhada para um mundo que não existe mais.
Os alunos assistem a um maçante ciclo de
palestras avulsas que raramente leva a uma reflexão sobre a condução da política
externa.
Nos cursos regulares, não há coordenação de
conteúdos. Muitas vezes repetem-se temas vistos à exaustão para o concurso de
ingresso.
Em encontros com diplomatas antigos, os jovens
ouvem casos inspiradores do passado e são iniciados no mundo da diplomacia. Mas
o tom é de celebração dos supostos sucessos de outrora, sem reflexão crítica a
respeito dos erros e percalços mais comuns.
O modelo é problemático porque os diplomatas
brasileiros de hoje requerem habilidades que seus colegas mais antigos podiam
ignorar.
Enquanto as gerações mais antigas defenderam um
país fraco com uma diplomacia de pequenos passos, os mais jovens trabalham para
um país relativamente influente que paga custos altos quando se omite.
Enquanto os mais antigos foram porta-vozes de
uma sociedade autoritária e injusta, a nova geração representa uma democracia de
massas que se reorienta em direção à classe média.
As novas coordenadas do Brasil contemporâneo têm
impacto sobre o perfil da educação de diplomatas.
Se o Instituto Rio Branco aspira a ser uma
escola de formação profissional, precisará se adaptar.
Treinará seus quadros para lidar com a imprensa,
as novas mídias e o público em geral. Deverá qualificá-los em métodos de análise
de conjuntura e cenários prospectivos, técnicas de oratória e negociação, novos
processos de gestão financeira do setor público e cerimonial.
Para além de novas técnicas, o instituto
precisará combater o provincianismo.
Não há nada de errado em aprender a recitar as
tradicionais teses de defesa do comportamento brasileiro no mundo.
Mas é cada vez mais urgente dar insumos para que
os jovens diplomatas possam lidar com argumentos contrários, com fatos que
subvertem as convicções mais arraigadas e com as ambiguidades inerentes à
política internacional.
Como se trata de profissionais inteligentes e
talentosos, é possível para eles ter ideias contraditórias na cabeça e, mesmo
assim, tomar posição.
Em Brasília, quase todos sabem que é necessário
mudar. Resta saber quem terá coragem de fazê-lo.
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