O Estado de
São Paulo, 22
de janeiro de 2012 | 3h 09
EM
BELO HORIZONTE, BIOTECNOLOGIA BUSCA O CAMINHO DO LUCRO
Empresas em incubadora na
capital mineira tentam levar para o mercado o resultado de anos de
pesquisa nos
laboratórios das universidades
RENATO CRUZ / TEXTOS,
FOTOS, ENVIADO ESPECIAL , BELO HORIZONTE, RECIFE – O Estado de S.Paulo
O Brasil descarta 4
bilhões
de litros de soro de leite por ano. Usada em vários produtos
de nutrição
clínica e esportiva, a proteína de soro de leite,
um derivado do produto
descartado, não é produzida no País.
Tudo o que é consumido localmente é
importado.
Criada em 2006 por
três
pesquisadores e uma professora da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG),
a Edetec desenvolveu uma tecnologia para a
fabricação dessa proteína, e ainda
sem o sabor amargo que costuma caracterizar o produto importado.
“Estamos
negociando parceria com um laticínio”, conta
Wendel Afonso, um dos
fundadores da Edetec.
A empresa conseguiu um
investimento de R$ 1,5 milhão do Criatec, fundo do Banco
Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e busca um
montante parecido de um
laticínio, para colocar a fábrica para funcionar.
Os sócios de Afonso são os
pesquisadores Carlos Lopes Junior e Viviane Silva e a professora
Marialice
Silvestre.
A tecnologia usada pela
Edetec tem como base mais de 30 anos de pesquisas da professora
Marialice. A
empresa licenciou uma patente da universidade. A “whey protein” dos
suplementos alimentares para quem faz fisiculturismo é a
proteína do soro do
leite. Na área de nutrição
clínica, essa proteína é usada na
fabricação de
leite PKU (sigla em inglês da doença
genética fenilcetonúria). Quem tem
fenilcetonúria não pode comer alimentos ricos em
fenilalanina (como carnes,
leite e ovos), pois sua ingestão acaba causando danos ao
cérebro do doente. Para
evitar isso, o leite PKU substitui o leite comum.
A Edetec é uma das
empresas
da incubadora Habitat, gerida pela Biominas Brasil. Criada em 1997, a
Habitat
tem uma infraestrutura preparada para receber empresas de
biotecnologia. Um dos
grandes desafios para empresas dessa área é ter
suas instalações homologadas
pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), processo que pode levar
alguns anos. Como a incubadora já tem
instalações preparadas, é mais
fácil
começar a trabalhar.
A Habitat ocupa um terreno
de 9 mil metros quadrados, com 3 mil metros quadrados de
área construída, em
Belo Horizonte. Ela tem 34 salas para abrigar as empresas, um
laboratório de
uso compartilhado, uma central de lavagem e
esterilização e duas câmaras frias,
além de auditório e salas de reunião.
A incubadora já apoiou 36 empresas, que,
juntas, faturaram R$ 115 milhões durante o
período de incubação e R$ 477
milhões depois de graduadas. Atualmente, tem 17 empresas
incubadas.
“Estamos preparando um novo edital para este ano”, diz Ana Paula
Santos, coordenadora da Habitat.
Outra incubada da Habitat
é
a In Vitro Cells, fundada pelo professor de toxicologia Carlos Tagliati
e pela
professora de bioquímica Miriam Marins Chaves, da UFMG. A
empresa faz testes in
vitro (que não são feitos em seres vivos) de
remédios e de cosméticos. Assim
como a Edetec, a In Vitro Cells recebeu um investimento do fundo
Criatec.
“A empresa de biotecnologia depende de
subvenção”, disse Tagliati.
“Ela começa a se sustentar depois de cinco anos de
existência”,
aponta Miriam. A empresa começou a ser criada em 2007,
quando foi elaborado o
plano de negócios.
Ao lado de São
Paulo, Minas
Gerais é o Estado que mais concentra empresas de
biotecnologia, segundo estudo
da Biominas Brasil e da PwC. O polo mineiro nasceu em 1975 com a
criação da
Biobrás, em Montes Claros, pelo professor Marcos Luiz dos
Mares Guia, da UFMG.
Em 2000, a empresa recebeu a primeira patente internacional de
insulina, uma
das quatro que existem no mundo. A Biobrás chegou a ser a
quarta maior fabricante
mundial de insulina sintética, antes de ser vendida para a
dinamarquesa Novo
Nordisk, em 2002.
Computadores. Belo
Horizonte também é um polo de engenharia e
computação. As empresas de busca
Miner e Akwan surgiram na UFMG. A primeira foi comprada pelo UOL e a
segunda
pelo Google, transformando-se no centro de pesquisas da gigante
americana na
América Latina (ver abaixo).
A Inova UFMG tem atualmente
11 empresas, entre incubadas e pré-incubadas. “Queremos
atrair empresas
com potencial de se tornar destaque nacional e internacional”, afirma
Hani
Camille Yehia, coordenador da incubadora. Uma delas, a Isofitos,
é da área de
biotecnologia, e desenvolve um inibidor da
multiplicação do vírus da dengue.
Mas a maior parte é do setor de tecnologia da
informação e energia.
No sul de Minas Gerais,
está localizado um outro polo tecnológico. A
cidade de Santa Rita do Sapucaí
também é conhecida como Vale da
Eletrônica. O polo se formou ao redor do
Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel).
Sua origem remonta à década de
1930. A embaixatriz Luzia Rennó Moreira, conhecida como
Sinhá Moreira,
acompanhou o início do processo de
industrialização da sociedade japonesa
naqueles anos. De volta a Santa Rita e inspirada pelo que conheceu em
países da
Ásia e da Europa, Sinhá Moreira criou, em 1959, a
Escola Técnica de Eletrônica
Francisco Moreira da Costa, pioneira na América Latina.
Para dar continuidade
à
formação dos alunos da escola técnica,
foram fundados o Inatel, com o primeiro
curso superior de telecomunicações no Brasil, e a
Faculdade de Administração e
Informática, em 1971. Na segunda metade da década
de 70, surgiram as primeiras
empresas de tecnologia da região. Em 2011, a japonesa
Hitachi Kokusai comprou o
controle da Linear, fabricante de transmissores de TV e maior empresa
do Vale
da Eletrônica, com cerca de 320 funcionários.
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