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Folha de São Paulo, domingo, 08 de março de 2009

Em busca
de apoio, Lula cria 35 embaixadas desde 2003

Objetivo é conquistar votos em disputas por representação em organismos
internacionais

Discurso oficial, porém, é o de que mais embaixadas facilitam uma
atmosfera dinâmica que propicia a negociação e o comércio

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com a retórica da busca por maior visibilidade nas relações internacionais,
o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou 35 embaixadas desde
2003, a maioria na África.

Segundo o Itamaraty, a forte presença no exterior sinaliza o desejo do país
de "jogar um jogo mais graúdo" no comércio e nos organismos internacionais.

Como comparação, cita a Rússia, que tem população e PIB (Produto Interno
Bruto) menores do que os do Brasil, mas tem 145 embaixadas, 101 consulados e 14
missões em organismos internacionais. O problema dessa comparação é que a
estrutura russa é, em boa parte, herança dos tempos do expansionismo soviético.
De todo modo, o Brasil tem 203 representações no exterior, aí incluídas 111
embaixadas. O número de diplomatas também tem crescido. Eram cerca de mil
diplomatas em 1995 e, hoje, são 1.401, 734 deles servindo no Brasil e 667 no
exterior.

À Folha o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) disse que "a
criação de embaixadas, ou representações, cria uma atmosfera dinâmica que
propicia negociação e comércio", mas reconheceu que há outros aspectos
envolvidos. Um é o político, pela maior inserção brasileira e conquista de votos
em organismos internacionais. Outro é o de segurança, já que a presença de
países mais desenvolvidos serviria como fator inibidor, por exemplo, da expansão
do narcotráfico em países da América Central e do Caribe.

De fato, as trocas comerciais em parte dos países que receberam
embaixadores brasileiros nos últimos seis anos aumentaram, em comparação com
2008, principalmente na África. Em São Tomé e Príncipe, por exemplo, a corrente
de comércio saltou de US$ 388 mil em 2003 a US$ 1,2 milhão.

Mas nem todos os países confirmam a lógica exposta pelo Itamaraty. Das 35
nações que receberam embaixadas, não há, por exemplo, corrente de comércio em
duas delas. Em outros nove países, as trocas comerciais diminuíram em 2008,
comparado com o ano de criação das embaixadas.

Em fevereiro, Lula anunciou a criação de cinco postos, dos quais quatro no
Caribe, todos ilhas de pequeno porte que, juntas, somam menos de 350 mil
habitantes e que tiveram comércio de US$ 13,6 milhões com o Brasil no ano
passado. Para estar presente nas quatro nações do Caribe, o Itamaraty diz que o
Brasil desembolsará US$ 1,8 milhão em 2009, excluindo salário dos diplomatas.

O Brasil diz que a região é estratégica, por dispor de acordos de
livre-comércio com os EUA. Especialistas em comércio exterior são menos
generosos. Dizem que estas vantagens podem ser obtidas em nações da América
Central, onde o Brasil já conta com representação.

Apesar do argumento do comércio, o governo Lula não esconde que a expansão
de seu corpo diplomático pelo exterior obedece a uma lógica política, que tem na
ambição por uma vaga de membro permanente no Conselho de Segurança das Nações
Unidas um de seus principais sustentáculos.

O Brasil, nos últimos anos, tentou emplacar representantes em organizações
mundiais, e obteve ao menos duas derrotas expressivas: no caso da disputa para a
direção geral da Organização Mundial do Comércio, onde o candidato era o
embaixador Seixas Correia, e no da presidência do Banco Interamericano de
Desenvolvimento, com o ex-ministro João Sayad como candidato.

Categorias: Diplomacia

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