Folha de São
Paulo, Especial, domingo, 22 de junho de 2008
ENGENHARIA
Energia alimenta campo de
trabalho para engenheiros
Crescimento econômico fomenta a demanda, mas ainda
faltam profissionais qualificados
GIOVANNY
GEROLLA, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A demanda crescente por novas tecnologias no setor
energético abre bons campos para o engenheiro que se especializa em assuntos tão
diversos quanto a bioquímica da cana-de-açúcar e o impacto ambiental de uma
usina hidrelétrica.
Alguns temas são tão complexos que pedem uma equipe de
diferentes especialistas. Para extrair petróleo de águas profundas, por exemplo,
reúnem-se um engenheiro mecânico, um civil, outro de materiais, um de minas e,
talvez, um especialista em eletrônicos.
Já quem aposta no biodiesel produzido do bagaço da
cana-de-açúcar -o engenheiro químico- deve ser bom conhecedor de bioquímica, dos
microorganismos e de seus processos enzimáticos.
Quando se fala em construir hidrelétricas, as obras só
são aprovadas após sinal positivo do engenheiro ambiental, que deve ter know-how
para prever impactos aos recursos naturais e até humanos.
O novo profissional das engenharias é o típico curioso
por vários ramos das ciências. "As diversas engenharias se misturam", avalia
Ericksson Almendra, diretor da Escola Politécnica da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro). "Tem que conhecer um pouco de todas e, principalmente, ter
uma base sólida em física e matemática", completa.
Sem destacar uma área mais promissora, ele acredita que
a de materiais, a de metalurgia e a ambiental tenham bom futuro no mercado.
Qualificação
Gigante do setor, a Petrobras está de olho em
engenheiros de minas e químicos, além dos especializados nas áreas de construção
civil, ambiente, engenharia naval e segurança.
"Estimando-se que para cada US$ 1 milhão investido
cria-se um posto de trabalho para engenheiro, ela precisará de 200 mil novos
politécnicos, segundo previsões para os próximos anos", calcula José Roberto
Cardoso, vice-diretor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo).
A empresa não revela quantos profissionais recrutará,
mas estima que até 2012 deve contratar quase 5.000 engenheiros. "O número se
atualiza quando novas jazidas são descobertas", explica Mariangela Mundim,
gerente de planejamento de RH da empresa.
Para ficar com uma das novas vagas das companhias do
setor, será preciso se atualizar com as áreas alimentadas pelo crescimento
econômico. "Em pesquisa com grandes empresas, ficou evidente o gargalo na
mão-de-obra qualificada como uma razão para não investirem em pesquisa e
desenvolvimento", diz Sergio Queiroz, professor do departamento de política
científica e tecnológica do Instituto de Geociências da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas).
VOCÊ
SABIA?
Não chega a 8% o percentual de engenheiros entre os
graduandos brasileiros, segundo José Roberto Cardoso, vice-diretor da Escola
Politécnica da USP (Universidade de São Paulo); na China, mais de 20% dos que se
formam a cada ano estudaram engenharia
Automatização "verde"
O engenheiro elétrico Edison Russo, 48, começou a
flertar com a a área agrícola há alguns anos por considerá-la promissora. Ele
tem uma empresa de serviços de automação industrial e, após concluir mestrado em
engenharia agrícola e automação na Unicamp, foi convidado a trabalhar no
desenvolvimento de sistemas de automação para usinas de biodiesel
ONDE A
CARREIRA COMEÇOU
Os primeiros engenheiros chegaram ao país por volta de
1792, com a missão de ensinar ciências, matemática e artilharia aos oficiais de
artilharia. Como havia necessidade de defender o território com fortificações,
d. Luiz de Castro, vice-rei do Brasil, criou, naquele ano, a Real Academia de
Artilharia, Fortificação e Desenho, no Rio de Janeiro. Em 1810, ela virou a
Academia Real Militar. Ao longo do século 19, passou por denominações diversas,
até se tornar Escola Politécnica em 1874, separada do Ministério do Exército e
voltada à formação de civis. Hoje, é parte da UFRJ (Universidade Federal do Rio
de Janeiro).
TRANSPORTES
Procuram-se especialistas em
ferrovias e em portos
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O mercado está acelerando em diversas vertentes do
setor de transporte. "Com investimentos de US$ 20 bilhões, calculamos demanda
por 20 mil engenheiros. A indústria automobilística criará outros 2.000 postos
de trabalho", diz José Roberto Cardoso, vice-diretor da Escola Politécnica da
USP (Universidade de São Paulo).
Serão oportunidades em obras de infra-estrutura em
transportes públicos e rodovias. A Vale, por exemplo, sente falta de
especialistas em engenharias ferroviária e portuária.
"Oferecemos cursos para os novos contratados ou
treinamentos para os que já estão aqui", diz Tatiana Matos, coordenadora do
Centro de Educação Profissional da Valer (universidade corporativa da Vale).
"Nos últimos cinco anos, contratamos de 200 a 300
profissionais por ano e dispomos de parcerias para desenvolver e aperfeiçoar os
contratados", declara Sidney Lage, gerente do programa de especialização em
engenharia da Embraer. (GG)
NANOTECNOLOGIA
Investigação atômica ganha
incentivo para fazer pesquisa
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A nanotecnologia, usada para manipular a matéria em
escala molecular ou até atômica, pode ser boa opção de pesquisa para engenheiros
de todas as áreas. "Para utilizá-la ou desenvolvê-la, profissionais devem ter
formação ampla e forte base científica", diz José d Albuquerque e Castro,
professor do Instituto de Física da UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro).
A amplitude desse mercado se explica pela abrangência
das nanotecnologias em diversas etapas da produção -é usada para desenvolver
materiais, equipamentos e processos.
"Ela trará novos dispositivos elétricos e mecânicos,
materiais, terapias, processos de remediação ambiental, lubrificantes, tecidos e
até padrões meteorológicos", lista Castro.
A pesquisa é incentivada por projetos governamentais
como o Centro Binacional de Nanotecnologia, entre Brasil e Argentina. "O que me
preocupa é que a nanotecnologia ainda está restrita ao ambiente acadêmico", diz
Cardoso, da USP. (GG)
MINAS
Gigantes do setor de extração
"garimpam" profissionais
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O setor de extração mineral também garimpa
engenheiros -os de minas. É o caso da Vale, hoje a segunda maior mineradora do
mundo.
"Nossa demanda maior é por engenheiros de minas,
porque há pouquíssimos formados no mercado", confirma Tatiana Matos,
coordenadora do Centro de Educação Profissional da Valer, universidade
corporativa da companhia.
"Esses profissionais, além dos engenheiros químicos,
são os que se voltam para a área de pesquisa dentro da empresa, porque estão
mais envolvidos com processos e trabalham para gerar inovações tecnológicas",
aponta Matos.
Na Petrobras, as descobertas de jazidas impulsionam a
procura por especialistas nas áreas de minas e de química. "O crescimento é
vertiginoso", avalia Mariangela Mundim, gerente de planejamento de RH. A empresa
nacional hoje tem 9.000 engenheiros, dos quais 3.000 lidam diretamente com
petróleo e seu processamento.
(GG)
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