Folha de São Paulo, Especial, domingo, 17
de setembro de 2006

ENERGIA: Setor
é imprescindível para crescimento econômico

Petróleo, eletricidade e gás natural
são alguns dos campos mais promissores no Brasil

De um lado, televisores, geladeiras, microondas, computadores,
aparelhos de DVD e outras bugigangas
eletroeletrônicas cada vez mais acessíveis. De outro, a expansão das cidades e
a necessidade de novos e mais eficientes meios de transporte. Não é à toa que a
demanda por profissionais na área de energia se torna cada vez maior.

São pessoas que trabalham em usinas nucleares, plataformas de
petróleo, gasodutos, estações de transmissão e usinas hidroelétricas. Também
gerenciam e supervisionam projetos e podem auxiliar na venda de equipamentos.
Há ainda os que trabalham em laboratórios e em campos de testes, desenvolvendo
novas energias, mais baratas e menos poluentes.

“Energia é infra-estrutura, e só se tem crescimento se
houver infra-estrutura”, diz Yara Maria Botti Oliveira, coordenadora do curso de engenharia
elétrica do Mackenzie. Então o crescimento da oferta de energia tem de ser pelo
menos igual ao da economia nacional.

De acordo com a Aneel (Agencia
Nacional de Energia Elétrica), o setor cresce 4,5% ao ano e, para que esse
crescimento se sustente, será necessário o investimento de R$ 6 bilhões a 7
bilhões por ano a médio prazo. Também será necessário
aumentar a quantidade de profissionais especializados, que, de acordo com
Oliveira, podem não ser suficientes para preencher todas as vagas futuras.

Segundo ela, a crise de energia que afetou o país entre 2001 e
2002 serviu para deixar a área em alerta, mas a reação pode não ter sido
suficiente. “Hoje há uma preocupação de que a demanda do setor seja maior
do que a oferta de profissionais.”

Além de afetar o futuro econômico do país, a falta de
engenheiros eletricistas pode acabar afetando também a preservação do ambiente.
Isso porque a maioria das energias renováveis, apesar de
serem geradas a partir de diversas fontes, acabam sendo transformadas em eletricidade

antes de chegar ao consumidor final. A energia gerada a partir da água, do sol
e do vento tem de ser convertida em eletricidade para, só então, ser armazenada
ou distribuída. Até o carro movido a hidrogênio usa um motor elétrico.

Quem pretende atuar na área de exploração de gás natural,
petróleo e seus derivados também deve encontrar facilidades no mercado. De
acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo),
entre 2000 e 2005, a produção nacional de petróleo e gás natural cresceu cerca
de 30% e, em maio deste ano, o país alcançou a auto-suficiência petrolífera.

Para o coordenador do curso de tecnologia em processamento de
petróleo e gás natural da Universidade Gama Filho, Sérgio Paulo de Melo Bendelá, 60, o fantasma da escassez do combustível não faz
parte da realidade brasileira. Segundo ele, as reservas nacionais são
suficientes para empregar mão-de-obra qualificada ao menos pelos próximos 20
anos e, assim como no caso da eletricidade, existem vagas. “Hoje, há um
grande número de profissionais estrangeiros trabalhando no Brasil, porque nós
somos carentes de mão-de-obra especializada.” (TC)

Combustível gerado por fonte
limpa é alternativa a petróleo

Biomassa e eletricidade absorvem
mais mão-de-obra entre renováveis

A queima de combustíveis fósseis, segundo os pesquisadores, é o
principal causador do aquecimento global. Uma das principais armas contra esse
fenômeno é a substituição dos combustíveis que liberam carbono por outros, que
emitam menos poluentes e provenham de fonte renovável.

Algumas dessas fontes estão só começando a ser
exploradas
no Brasil -como o vento e a luz do sol- e são chamadas de
energias alternativas. Outras já são amplamente utilizadas -como a água que
move as hidrelétricas- e, apesar de renováveis, são consideradas tradicionais.

De acordo com o coordenador do Núcleo Interdisciplinar de
Planejamento Energético da Unicamp, Enio Peres da Silva, 50, a maior expansão
na área de energias renováveis no Brasil está relacionada ao uso da biomassa,
ou seja, à geração de energia a partir de plantas.

O mais famoso dos biocombustíveis é o
álcool, que já tem um papel relevante no cenário energético brasileiro. O biodiesel, que pode ser extraído da soja ou da mamona,
apenas começa a ser introduzido no mercado, mas também se expande.

Segundo Silva, a vantagem dos dois combustíveis em relação ao
petróleo é que parte do carbono liberado por sua combustão é
novamente capturado
durante o crescimento da planta. Ainda segundo o
professor da Unicamp, a energia obtida a partir da quebra do hidrogênio também
poderá ser um bom campo de trabalho no futuro.

A tecnologia consiste em transformar diversos materiais em
hidrogênio e depois utilizar o elemento como fonte de eletricidade para um
motor elétrico, por exemplo. O hidrogênio pode ser extraído do álcool, do biodiesel e até mesmo do petróleo, com a vantagem de ter o
dobro da eficiência energética -um carro que roda dez quilômetros com um litro
de álcool rodaria 20 quilômetros, caso fosse movido a hidrogênio.

Profissões

Como boa parte das energias renováveis chega ao consumidor
final na forma de eletricidade, os engenheiros eletricistas são bastante
requisitados na área.

Existem ainda os engenheiros civis, hidráulicos e mecânicos,
que projetam e supervisionam obras, turbinas e motores, e os físicos e
químicos, que trabalham nos laboratórios de pesquisa.

Na área da biomassa, também se fazem necessários profissionais
que atuam diretamente nas plantações, como o agrônomo, o engenheiro florestal e
o biólogo. (TC)

AN
× clique aqui e fale conosco pelo whatsapp