Nova pagina 2

O Estado de São Paulo, 11 Outubro 2015 | 03h 00

Estudo mapeia 214 espécies de abelhas

FÁBIO DE CASTRO – O ESTADO DE S. PAULO



Levantamento do Funbio e do Ministério do Meio Ambiente constata que, para a
polinização, diversidade importa mais que quantidade


SÃO PAULO – No maior
levantamento da diversidade de abelhas já feito até hoje no Brasil, cientistas
coletaram 16 mil exemplares de 214 espécies diferentes, a fim de mapear o papel
desses insetos na polinização da vegetação natural e das plantações. Além de
descobrir nove espécies até agora desconhecidas no País, estudos comprovaram que
a presença das abelhas aumenta consideravelmente a produtividade das culturas
agrícolas. Eles constataram também que, para a polinização, a diversidade de
espécies é mais importante que a quantidade de abelhas.


Concluído recentemente,
o projeto Polinizadores do Brasil faz parte de um programa de pesquisas global,
iniciativa da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)
e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), coordenado no País
pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e pelo Ministério do Meio
Ambiente, com participação de pesquisadores de 18 instituições. “Muita gente
pensa que a abelha só produz mel.


Uma pesquisa de opinião
incluída no projeto mostrou que 75% dos brasileiros desconhecem o papel delas na
polinização. Abelhas são responsáveis por polinizar mais de 50% das plantas das
florestas tropicais, 80% das do cerrado e 73% de todas as culturas agrícolas do
mundo”, disse a coordenadora do projeto, Vanina Mattos, do Funbio.


Segundo Vanina, a abelha
mais abundante, a Apis mellifera, é justamente a única das 214 espécies que não
tem origem no País. Híbrida de abelhas da Europa e da África, tornou-se tão
comum que quase ninguém se dá conta da diversidade de abelhas nativas no Brasil.
“O projeto mostra que, embora a Apis mellifera também tenha um importante papel
na polinização, há muitas outras fazendo esse serviço essencial. Mais que isso:
é justamente essa diversidade de espécies que garante culturas produtivas”,
explicou.


Diversos experimentos
realizados ao longo dos cinco anos do projeto mostraram que as abelhas de fato
aumentam bastante a produtividade de culturas como algodão, tomate, melão,
castanha, canola, maçã e caju. “Algumas plantas podem ser polinizadas pelo vento
e por outros animais, mas são muito mais produtivas quando há abelhas. Certas
culturas, como o maracujá, a maçã e o melão, simplesmente não existiriam sem
abelhas”, disse.


O impacto da polinização
na qualidade dos alimentos também é claro, mesmo em plantas como o tomateiro,
capazes de autopolinização. “É visível. Se houver abelhas na área, o tomate fica
bem maior e mais bonito, com um impacto direto na economia.”


A bióloga Carmen Pires,
da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, liderou os experimentos do
projeto sobre a polinização do algodoeiro na Paraíba, em Mato Grosso e Goiás. Os
resultados mostram que as flores de algodão, quando são polinizadas por abelhas,
apresentam um aumento de 12% a 16% no peso da fibra e um incremento de 17% de
sementes por fruto. “O algodão pode se autopolinizar. Mas, com as abelhas
levando pólen de uma flor para outra, a eficiência é muito maior, produzindo
muito mais sementes. Como a fibra do algodão cresce em torno da semente, quanto
mais sementes, maior a produtividade.”



Diversidade.
 Mais
ainda que a presença de abelhas, a diversidade das espécies é a chave para o
incremento da produtividade. Um dos experimentos mostrou que em uma fazenda com
quatro espécies de abelhas distribuídas em torno da plantação, a produção
aumenta em média 27% em comparação às plantações sem abelhas. “O aumento da
produtividade foi verificado em áreas de pequenos e grandes produtores. Esse
resultado se repetiu nas sete culturas estudadas pelo projeto. Nos algodoeiros,
verificamos também que o número de espécies cai drasticamente em plantações onde
há uso intenso de inseticidas e distantes das matas nativas”, afirmou Carmen.


1 comentário

Os comentários estão fechados.

× clique aqui e fale conosco pelo whatsapp