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Folha de  São Paulo, Fovest, terça-feira, 14 de julho de 2009


JORNALISMO


Faculdades mudam para abranger novas mídias e se
adaptar ao mercado

PUC, Cásper Líbero e Mackenzie modificaram grades

JAMES CIMINO, DA REDAÇÃO

"Agora que não precisa mais de diploma, as pessoas começaram a pensar que
jornalismo não é mais profissão, é bico…", diz o aluno do 4º ano do curso de
jornalismo do Mackenzie Diego Estrella, 24.

O fim da exigência do diploma despertou um sentimento de frustração em
parte dos alunos. Mas a mudança acontece justamente no momento em que alguns dos
principais cursos se reciclam, procurando familiarizar o estudante com as novas
mídias e com a realidade do mercado de trabalho.

Pelo menos três cursos de São Paulo reformularam suas grades curriculares:
PUC, Mackenzie e Cásper Líbero.

Apesar de as mudanças ocorrerem em um momento-chave para a profissão,
coordenadores e professores afirmam que elas nada têm a ver com o fim da
exigência do diploma.

A PUC-SP pretende criar uma agência de notícias on-line até o final de
2010. A Cásper Líbero tornará obrigatório, já no primeiro ano, o uso de blogs e
até do Twitter. Já o Mackenzie reformulou o currículo todo. Criou disciplinas,
desmembrou outras, mudou nomenclaturas e reorganizou a carga horária.

"Não nos preocupamos muito com essa discussão de que a internet vai acabar
com os jornais. Preparamos nosso aluno para trabalhar com a base da informação,
que é texto, imagem e som, adaptados a todas as plataformas [TV, rádio, impresso
e internet]", diz Marcelo José Abreu Lopes, que coordenou a mudança no
Mackenzie.

As faculdades ainda não sabem que impacto o fim da exigência do diploma
terá na procura pelo curso.

O coordenador de jornalismo da ECA-USP, José Coelho Sobrinho, lembra que o
exercício da publicidade, por exemplo, não exige diploma. Mas mesmo assim o
curso está entre os mais concorridos na USP.

Segundo ele, uma eventual mudança no currículo pode acontecer apenas a
partir de maio de 2010, mas não por causa do fim da exigência. "Jornalismo não é
só técnica."

O coordenador do curso da PUC-SP, Marcos Crippa, também minimiza a
exigência do diploma, embora diga que só saberá os efeitos da decisão do STF no
próximo vestibular.

"Se fizéssemos alguma mudança só por causa da queda do diploma, seria
admitir que estávamos oferecendo um curso inadequado. O que pretendemos discutir
é o que isso implica para a sociedade e como formar um jornalista crítico e
transformador."

A coordenadora do curso de jornalismo da FMU, Marcia Furtado Avanza, conta
que alguns alunos perguntaram se poderão fazer pós-graduação, agora que "o
diploma não vale mais". "Acho importante esclarecer aos estudantes que o diploma
continua "valendo", só não é mais exigência para o exercício da profissão."

Na Cásper, o impacto da exigência ou não do diploma é "indiferente", diz o
coordenador Carlos Costa.

"Nossa escola de jornalismo foi criada em 1947, quando não havia exigência
do diploma."

Marina Coratto, 22, aluna de jornalismo do Mackenzie, concorda. "Acho que
vale a pena [fazer a faculdade de jornalismo], porque, ao contrário do que possa
parecer após a queda do diploma, o que aprendemos aqui não é descartável."


Curso ainda vale a pena, dizem profissionais

DA REDAÇÃO

Após a decisão do STF de
vetar a exigência do diploma, muitos vestibulandos estão em dúvida se ainda vale
a pena cursar jornalismo na faculdade.

O "Fovest" fez essa pergunta
a dois profissionais, um com diploma, outro sem. A resposta de ambos foi a
mesma: vale a pena.

Eugenio Bucci, professor da
ECA-USP, ex-diretor da Radiobras, com passagem pelos principais veículos do
país, se formou em jornalismo em 1982, depois fez direito.

Para ele, "o que não vale a
pena é fazer faculdade para ter um diploma com o mero objetivo de exercer a
profissão". Ele considera ainda que os cursos terão de melhorar. "Os bons cursos
vão se destacar, pelo simples fato de que são e serão necessários."

O escritor Humberto Werneck
tem 41 anos de jornalismo, mas se formou em direito. Também trabalhou nas
principais publicações brasileiras e acha bom chegar ao mercado com "o apoio que
um curso bem feito pode dar".

Mesmo assim, pondera que o
fim da reserva de mercado fará os cursos irem além da técnica, já que os alunos
"terão de concorrer com gente que chegará ao jornalismo por outras vias".

PRINCIPAIS MUDANÇAS NOS CURSOS

Mackenzie

– Desde o primeiro semestre de 2009, o currículo passou a valorizar mais as
linguagens (texto, imagem e som) e sua adequação às plataformas (impresso,
rádio, internet e TV), sem deixar de lado a formação humanística

– Disciplinas editoriais como "Produção da Notícia" foram desmembradas e
receberam nova terminologia, como "Pauta e Apuração" e "Redação e Edição"

– Outras foram organizadas de forma a seguir as editorias existentes nos
veículos de comunicação, como "Jornalismo Político", "Jornalismo Internacional",
"Jornalismo, Cidade e Cotidiano" etc.

– As disciplinas de rádio e TV mudam de nome e passam a ensinar o aluno a
produzir também videocasts e podcasts

– Foi incluída a disciplina de "Crossmedia e Netpublishing", que ensinará
os alunos a adaptar um conteúdo feito para o impresso para a internet, televisão
ou rádio, além de trabalhar com ferramentas como blogs e o Twitter.

– Haverá disciplinas que trabalham a linguagem do cinema e da música

– Disciplinas que antes eram optativas, como "Jornalismo Esportivo", passam
a ser obrigatórias

– As teorias também foram reorganizadas. Sociologia e filosofia serão
dividas entre moderna e clássica. Geografia vai trabalhar, além da geopolítica,
a geografia da cidade. Foram incluídas ainda disciplinas sobre meio ambiente e
políticas públicas

– A carga horária foi modificada. Aproveitando janelas na grade horária, as
2700 horas/aula de 50 minutos foram substituídas por 3600 horas/aula de 45
minutos. Isso não altera a duração do curso

Cásper Líbero

– Alunos terão de trabalhar com ferramentas como os blogs ou o Twitter, por
exemplo, desde o primeiro ano do curso

– A faculdade pretende lançar, no ano que vem, um curso de especialização
em jornalismo para estudantes formados em outras áreas e pretende discutir a
criação de um mestrado, ambos como opção a quem não quiser cursar jornalismo na
faculdade

PUC-SP

– Tem passado por modificações curriculares nos últimos três anos, que
prevê seis eixos de formação: humanística, profissional, processos
comunicacionais, monitoramento e orientação, processos experimentais e processos
laboratoriais

– Ênfase na internet e nas novas tecnologias, o que inclui a criação de uma
agência de notícias on-line até o fim de 2010, que disponibilizará conteúdos do
impresso, rádio e TV


Unesp quer ampliar curso para até 5 anos

Universidade espera novas
diretrizes do MEC, que saem neste ano, para reformular currículo

PATRÍCIA GOMES,DA REPORTAGEM LOCAL

A Unesp (Universidade
Estadual Paulista) quer aumentar o tempo da graduação em jornalismo de quatro
para quatro anos e meio ou cinco anos.

Essa alteração faz parte de
um conjunto de outras mudanças para reformulação do currículo, que são estudadas
pela instituição e serão apresentadas ao Conselho Universitário.

Para colocar as alterações em
prática, porém, a Unesp espera que o MEC divulgue suas novas diretrizes, o que
deve ocorrer ainda neste ano. Nesse caso, as mudanças já valeriam para os
ingressantes em 2010.

Em parte, a universidade já
se adiantou: desmembrou a comunicação social e fez do jornalismo um curso à
parte, o que será a principal orientação das novas diretrizes curriculares.

"Não somos mais um cachorro
com três cabeças", diz o professor Antonio Francisco Magnoni, vice-coordenador
do conselho do curso de jornalismo da Unesp, referindo-se aos cursos de
radialismo e relações públicas, também emancipados.

No novo currículo, afirma o
professor, o foco deve se voltar para o preparo de um profissional que seja apto
a entrar no mercado de trabalho.

"A tendência é que a
universidade ofereça estruturas laboratoriais de produção minimamente
compatíveis com o mercado", diz o vice-coordenador.

Todas as faculdades

Não é apenas a Unesp que deve
reformular suas estruturas. As novas diretrizes do MEC, uma vez aprovadas,
deverão ser seguidas por todas as faculdades de jornalismo do país.

As propostas, que têm até o
dia 19 de agosto para ser apresentadas ao MEC, foram elaboradas por uma comissão
de professores.

"Já está quase tudo pronto",
afirma o presidente da comissão, José Marques de Melo, professor emérito da USP.

Depois de apresentadas, as
novas diretrizes devem ser aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação e só
então podem entrar em vigor.

A principal alteração
proposta, adiantou o professor, será fazer do jornalismo um curso autônomo, como
aconteceu recentemente com cinema, que também era atrelado à comunicação social.

Outra proposta é a divisão do
curso em seis eixos curriculares completamente voltados ao jornalismo desde o
início da faculdade. Hoje, como a faculdade é de comunicação social, a
especificidade é bem menor.

O estágio supervisionado
voltaria a ser obrigatório para conseguir o diploma. O aluno deverá cumprir 200
horas em empresas ou na própria faculdade. São sugeridas 300 horas de atividades
complementares voltadas ao jornalismo.

A comissão propõe ainda que o
trabalho de conclusão de curso individual seja obrigatório.

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