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Folha de São Paulo, Opinião, segunda-feira, 17 de setembro de
2012

JORGE
ANDRÉ AVANCINI

Futebol não tem de ser só paixão

Há bons exemplos -São Paulo, Inter, Santos-
mas a discussão sobre profissionalizar os times, tirando velhos cartolas, é
muito restrita. Seguimos provincianos

Na primeira metade dos anos 90, a Sociedade
Esportiva Palmeiras e a multinacional italiana Parmalat foram responsáveis pela
popularização de uma expressão até então pouco ou nada conhecida pelo universo
esportivo brasileiro: clube-
empresa.

Naquela época, as instituições esportivas, em
especial os clubes de futebol, careciam do mínimo de organização administrativa.
Contudo, a cogestão Palmeiras-Parmalat, como se tornou conhecida, criou um novo
e promissor cenário para os anos vindouros. Nascia, em termos práticos, uma
bem-sucedida iniciativa de transformação do reduto de velhos cartolas em uma
corporação, ainda que embrionária e com características muito peculiares.

Mais de 20 anos depois, e o Brasil ainda discute
a real viabilidade -e interesse- de profissionalização do futebol. Há
discussões, mas geralmente restritas a pequenos grupos.

Há quem diga que o esporte mais querido dos
brasileiros jamais deixará de ser provinciano, em termos administrativos,
comandado por torcedores apaixonados dispostos a colocar carreira e 
família em
segundo plano apenas pelo amor incondicional que sentem pela instituição, mesmo
que para isso não sejam remunerados.

Por outro lado, o grupo dos defensores da
profissionalização dos clubes de futebol parece crescer. Essas pessoas têm uma
linha central de raciocínio simples: se a empresa para quem trabalhome
remunera por isso, por que um clube de futebol não deve fazer o mesmo com seus
colaboradores? O futuro dos clubes de futebol passa, invariavelmente, pela
profissionalização de sua estrutura administrativa.

Esse processo leva a conquistas esportivas e
administrativas, e não há argumento que prove o contrário. Em Porto Alegre, o
Sport Club Internacional, por exemplo, conquistou seus principais títulos
-Mundial da Fifa e Libertadores da América, ambos em 2006- somente três anos
após o início da profissionalização de sua gestão. O time faturou ainda o
bicampeonato da Libertadores e voltou ao Mundial em 2010.

O Internacional está fora do eixo econômico
Rio-São Paulo. Ainda assim, é um dos três times de futebol com maior faturamento
no país -contando com uma torcida que, embora tão ou mais apaixonada que
qualquer outra, representa cerca de 20% da massa flamenguista, considerada a
maior do Brasil.

A construção de times vitoriosos e a criação de
clubes modernos, com estruturas funcionais, passa pelo rearranjo da organização
administrativa da entidade. Um leva ao outro, e eis que se estabelece um ciclo
virtuoso.

Foi assim, por exemplo, que o São Paulo se
tornou um dos times mais vencedores do Brasil nos últimos 20 anos -e a sua
gestão virou referência inclusive para rivais- e a marca Santos Futebol Clube
ressurgiu com tamanha força desde a década passada. O clube conseguiu até manter
no Brasil aquele que é hoje o principal jogador em atividade no país, o atacante
Neymar.

Definitivamente, isso não é mera coincidência.
Como escreveu o executivo espanhol Ferran Soriano, responsável pela
reestruturação do Barcelona 
entre 2003
e 2008 e hoje no Manchester City, da Inglaterra, "a bola não entra por acaso".

O peso da paixão não pode ser maior do que a
racionalidade e o profissionalismo da gestão.

JORGE ANDRÉ AVANCINI, 57, é diretor-executivo de marketing do
Sport Club Internacional e professor da Escola Superior de Propaganda e
Marketing do Rio Grande do Sul (ESPM-RS)


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