Folha de São Paulo, Empregos, domingo, 26 de novembro de 2006
Historiador mira futuro profissional
Além da sala de aula, consultorias,
instituições de pesquisa e museus são áreas de atuação
CLAYTON BUENO
Descobrir novidades escondidas em coisas antigas. Essa é a
função dos historiadores dedicados à pesquisa, um trabalho
de detetive feito por uma classe associada à docência.
Apesar da fama, a sala de aula é só um dos redutos onde o
historiador pode exercer a função. Museus, instituições de pesquisa ou empresas
de consultoria também são opções para quem deseja diversificar suas atividades
ou não quer mais dar aulas.
Foi o que fez a historiadora Flávia Borges, 48. Após lecionar
por 11 anos, ela fundou, com dois amigos, a Tempo e Memória, consultoria de
pesquisa institucional e arquivo.
Borges conta que, quando criou a empresa, em 1988, levou um ano
até conseguir seu primeiro cliente. “Ninguém conhecia o nosso
trabalho”, diz. “A gente fazia papéis de secretária e assessor de
imprensa.”
Para sobreviver ao primeiro ano, ela contou com a ajuda do pai,
que lhe emprestou o escritório e a linha telefônica. Hoje tem cerca de 30
funcionários, entre historiadores e arquivistas. “Valeu a pena”,
resume.
Museu e educação
Uma vertente que tem crescido nos museus desde o início da
década é o setor educativo, área responsável por tornar o conteúdo do acervo
mais acessível ao público e por enriquecer a visita -uma das formas de atuar em
um museu sem perder o gosto pelo ensino.
Esse foi o caminho seguido pela historiadora Denise Peixoto,
40, que trabalha no Museu Paulista da USP desde 2001. Ela foi contratada para
implantar o setor educativo na instituição. “No primeiro momento, eu
estava sozinha”, lembra. Hoje, a equipe conta com um total de nove
pessoas.
O setor é responsável por dar cursos para professores que
queiram saber mais sobre o acervo antes de levar seus alunos para uma visita.
Além disso, também produz os folhetos da instituição e redige boa parte dos
textos que acompanham os itens do acervo.
Para Peixoto, o museu é um espaço multidisciplinar:
“Revelar esse universo ao professor e ao pesquisador é fascinante”.
Regulamentação
Apesar de toda a tradição, a profissão de historiador ainda não
é regulamentada. O projeto de lei do deputado Jovair
Arantes (PTB-GO), de julho de 2006, está, desde agosto, aguardando parecer da
Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. Em junho de 2004,
outro projeto semelhante havia sido apresentado, mas nem chegou a ser votado.
Para a presidente da Anpuh
(Associação Nacional de História), Eni de Mesquita Samara, a regulamentação ampliará o universo de trabalho do
historiador, que poderia atuar em setores hoje ocupados também por outros
profissionais.
“O guia de museu, por exemplo, poderia ser um historiador.
Teria uma bagagem maior e muito mais a contribuir. E são nichos preenchidos por
gente que não é da área”, defende.
O deputado Arantes ressalta que é preciso haver mais pressão
por parte dos historiadores para que a regulamentação seja desengavetada.
Segundo ele, não é possível prever o andamento ou o sucesso do projeto.
“Se a gente vai conseguir [a aprovação da proposição], é uma situação
diferente”, diz.
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