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01/08/2017

Maioria dos diplomas em educação física são da licenciatura, mas procura
pelo bacharelado tem crescido mais; veja o raio-x


Em 2015, 21.013 pessoas se formaram na licenciatura, enquanto 14.019 pegaram o
diploma do bacharelado.

Por Ana Carolina Moreno, G1


Uma das carreiras mais procuradas pelos candidatos do Sistema de Seleção
Unificada (Sisu), a educação física está em alta. Em 2015, 35 mil estudantes se
formaram na graduação, segundo dados do Censo da Educação Superior. A maioria
(79%) estudou em universidades e faculdades particulares e 60% optaram pelo
diploma em licenciatura.


Embora maioria, os licenciados em educação física estão perdendo espaço para os
bacharéis: em 2010, essa proporção era de 71% do total de formados. O número
total de novos licenciados caiu 10,5% no mesmo período, enquanto o de formados
em educação física na área de saúde (o bacharelado) aumentou 47,6%.


Em 2015, 21.013 pessoas se formaram na licenciatura, enquanto 14.019 pegaram o
diploma do bacharelado. Essa diferença, em 2010, era significativamente maior. É
possível, porém, que um mesmo estudante obtenha os dois diplomas, e tenha o que
é conhecido na área como a graduação plena (veja
abaixo)
:


Educação física:
bacharelado ou licenciatura?

Veja a evolução no
número de formados nas duas áreas da graduação*

Número de pessoas que
concluíram o
curso9.4989.49823.48623.48611.49911.49922.76422.76412.67512.67521.61121.61110.96210.96218.30718.30711.85811.85818.34718.34714.01914.01921.01321.0132010
(BAC)2010 (LIC)2011 (BAC)2011 (LIC)2012 (BAC)2012 (LIC)2013 (BAC)2013 (LIC)2014
(BAC)2014 (LIC)2015 (BAC)2015 (LIC)05k10k15k20k25k

Fonte: Inep/Censo da Educação Superior (*”BAC” significa
“bacharelado”, e “LIC” significa “licenciatura)


Há cerca de dez anos, a formação sofreu reformas no Conselho Nacional de
Educação (CNE), que regulamentou as modalidades de graduação de licenciatura e
bacharelado. A primeira, que responde até hoje pela maior parte dos estudantes
que recebem o diploma todos os anos, permite que o profissional atue na área de
educação, como professor de educação física no ensino básico (na educação
infantil, no ensino fundamental e médio).



“Tradicionalmente, a formação da educação física se deu principalmente pela
licenciatura. A ascensão do bacharelado foi maior na última década, nos últimos
15 anos, após as últimas diretrizes de 2004” (Roberto Pereira Furtado, professor
da Universidade Federal de Goiás, UFG)


Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com dados do Caged,
o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho e
Emprego, mostrou que, entre janeiro de 2009 e dezembro de 2012, foram abertos
6.848 novos postos de trabalho de nível superior para profissionais de educação
física. Foi a 11ª profissão com o maior número de novas vagas no período.


Segundo o professor Roberto Furtado, existe uma discussão sobre o que é melhor
para a formação do profissional, e também mudanças no mercado de trabalho, como
a “grande expansão das academias de ginástica”, mas, também, a “legitimação da
educação física no campo da saúde”, com a carreira ganhando espaço e relevância
entre as atividades inseridas no Sistema Único de Saúde (SUS). Nos dois casos,
as vagas para profissionais da educação física não exigem formação em
licenciatura.


“Entre os cursos mais antigos, tradicionais, a maioria das instituições tinham
licenciatura e algumas abriram bacharelado. Outras ficaram só com licenciatura.
Essa expansão [dos cursos de bacharelado] se dá principalmente pelas faculdades
privadas. Elas acompanham mais a demanda do mercado, de forma mais rápida. O
interesse do mercado prevalece bem mais”, diz Furtado.


Valorização do professor


O equilíbrio entre as duas modalidades da graduação em educação física também é
afetado pelas mudanças dentro do campo da licenciatura e a falta de valorização
dos professores, afirma o professor. “Em todas as áreas, não só na educação
física, tem muitas vagas que não são preenchidas por licenciados, existe a vaga
e não tem o professor, porque a formação de professor no Brasil é bastante
precária, não existe um estímulo para a carreira, o jovem não quer ser professor
em geral.”


A falta de valorização dos professores foi um dos três motivos que pesaram na
balança de Matheus Carbonieri, de 21 anos, na hora em que ele decidiu que área
da carreira gostaria de seguir. Atualmente no quarto ano da graduação na
Universidade de São Paulo (USP), o jovem de Santo André, na Região Metropolitana
da cidade, pensou em seguir a docência, carreira de alguns membros de sua
família, e descobriu que tem gosto e talento para lidar com as crianças.



“Eu era meio indeciso entre bacharelado em esporte e licenciatura, minha família
tem professores e eu sempre gostei muito. Quando eu cresci eu vi que eu sei e
que eu gosto de trabalhar com criança. Depois vi que gostava, mas não no âmbito
na escola, e sim no âmbito da competição, e aí eu optei por esporte.” (Matheus
Carbonieri)


Com o diploma de bacharelado em esporte, Matheus poderá atuar nas áreas de
esporte de alto rendimento, equipes de competição e iniciação esportiva, entre
outras. Na USP, todos os estudantes cursam um “ciclo básico” durante dois anos,
onde estudam a parte teórica comum, como mecânica e anatomia. Depois, eles optam
por uma habilitação. Além do bacharelado no esporte, há o bacharelado em
educação física, que permite trabalhar em academias, e a licenciatura. O
estudante afirma que, se quiser, pode reingressar na graduação na USP e cursar
os créditos específicos das outras áreas para pegar um novo diploma.


Por enquanto, porém, o jovem se diz satisfeito com a escola. Como é atleta do
circuito profissional de squash, ele pretende, enquanto continuar jogando em
alto nível, atuar no treinamento de atletas do mesmo esporte e, ao se aposentar
como atleta, seu plano é trabalhar com iniciação esportiva. “Aí não sei a
modalidade, mas se for possível trabalhar no squash seria o ideal.”


Grade curricular


A grade curricular das duas graduações, porém, não é muito diferente. Na
Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, a primeira metade dos cursos tem a
mesma oferta de disciplinas. A partir do quinto semestre, cada um começa a
seguir uma linha própria: enquanto na licenciatura há disciplinas voltadas à
estrutura do ensino básico (educação física na educação infantil e no ensino
fundamental, por exemplo), no bacharelado as disciplinas apresentam uma
perspectiva mais genérica, como educação física na primeira infância, na
adolescência e na terceira idade, entre outras.


Há ainda um enfoque diferenciado na licenciatura, onde os estudantes fazem
disciplinas de metodologia, didática e política e organização da educação. Já no
bacharelado, há disciplinas voltadas diretamente a aspectos da saúde e doenças
crônico-degenerativas. Na licenciatura, é preciso fazer um trabalho de conclusão
de curso para se formar, enquanto no bacharelado os alunos têm três semestres
para preparar uma monografia.


O currículo da parte comum, porém, abrange uma série de temas e exige
conhecimentos das áreas de ciências humanas e da natureza. De acordo com as
diretrizes do CNE, de 2004, a estrutura todos os cursos de educação física no
Brasil deve contemplar cinco eixos:


·        



Formação ampliada:
 relação
ser humano-sociedade; biologia do corpo humano; produção do conhecimento
científico e tecnológico


·        



Formação específica:
 dimensões
culturais do movimento humano, técnico-instrumental e didático-pedagógica


·        



Núcleos temáticos de aprofundamento:
 prevenção,
promoção, proteção e reabilitação da saúde, da formação cultural, da educação e
reeducação motora, do rendimento físico-esportivo, do lazer, da gestão de
empreendimentos relacionados às atividades físicas, recreativas e esportivas
(até 20% da carga horária total do curso, a critério da instituição)


·        



Teoria-prática:
 prática
como componente curricular, estágio profissional curricular supervisionado e
atividades complementares


·        



Licenciatura: 
dimensões
biológicas, sociais, culturais, didático-pedagógicas, técnico-instrumentais do
movimento humano


Cada instituição tem autonomia para escolher a ordem em que os conteúdos são
dispostos na grade curricular. Mas, segundo Luciana Venâncio, professora do
Instituto de Educação Física e Esportes da UFC, todos os cursos precisam
contemplar uma formação ampla dos profissionais.


“As disciplinas do currículo de formação em educação física (licenciatura e
bacharelado) dialogam com saberes de diferentes áreas do conhecimento com o
objetivo de articular quatro dinâmicas específicas: da Cultura, do Movimento, do
Corpo e do Ambiente.” Ela afirma que, atualmente, há disciplinas que buscam
articular conhecimentos em práticas integrativas, “que envolvem estudos e
reflexões de antropologia e filosofia para compreender questões corporais do
organismo humano no mundo contemporâneo”.

 

 


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