Portal G1,
http://g1.globo.com/educacao/guia-de-carreiras/noticia/n-de-habitantes-por-medico-no-norte-e-quase-3-vezes-o-do-sudeste-veja-o-raio-x-da-carreira.ghtml, 20/07/2017
Nº de habitantes por médico no Norte é quase 3 vezes o do Sudeste; veja o
raio-x da carreira
Em julho de 2017, o Brasil tinha mais de 440 mil médicos com registro ativo no
Conselho Federal de Medicina. Segundo a Associação Nacional de Médicos
Residentes, porém, vagas de emprego são muito mais difíceis nas capitais e
grandes centros.
Por Ana Carolina Moreno, G1
Quem pensa em fazer o vestibular com interesse em seguir a carreira de medicina
vai se deparar com o seguinte cenário: um país com um número crescente de
médicos, mas uma distribuição ainda desigual entre as regiões. Atualmente, o
Brasil tem mais de 440 mil médicos em atividade e uma população estimada em 207
milhões de pessoas, segundo dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) e
projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para julho
de 2017. Isso representa uma média nacional de 470 habitantes por médico
registrado.
Mas a situação varia de estado para estado. Enquanto no Distrito Federal essa
média é de 254 habitantes por médico, no Maranhão ela sobe para 1.382.
Considerando as regiões brasileiras, o Sudeste é onde há uma concentração maior
de médicos em relação à população local. São 353 habitantes por médico. Já a
Região Norte apresenta o pior índice: 953 habitantes por médico (veja
mais no mapa abaixo, elaborado pelo G1 com base nos números do CFM e do IBGE):
Marcus Villander, de 28 anos, é formado em medicina pela Universidade de
Pernambuco (UPE) e tem residência em clínica médica. Atualmente, ele trabalha em
dois hospitais no Recife – um público e um privado –, e explica que, no Brasil,
os médicos estão mal distribuídos. “Há uma superlotação de médicos nas capitais
e pouco povoamento de médicos nos interiores”, explicou ele, afirmando que,
entre os formandos mais recentes, é cada vez mais difícil encontrar emprego na
área nas capitais.
“Porque os salários não são atrativos e a estrutura não é atrativa”, afirmou
Villander, que também é vice-presidente da Associação Nacional de Médicos
Residentes (ANMR). De acordo com o clínico, nas cidades interioranas há poucas
opções de educação e lazer, o que acaba afugentando os médicos e suas famílias.
Além disso, ele explica que os contratos de trabalho são precários e raramente
há plano de carreira. Essa situação também começa a se reproduzir cada vez mais
nos grandes centros, de acordo com ele. Villander explica que mantém três
contratos com os dois hospitais onde trabalha: durante a semana, ele passa as
manhãs em um hospital e as tardes em outros. Mas, às quartas e sábados, dá
plantão em um dos hospitais, em um contrato separado. Já aos domingos ele
precisa fazer visitas aos pacientes internados.
Mais médicas mulheres
Segundo dados da pesquisa Demografia Médica no Brasil, publicada pelo CFM em
2015, o Brasil viu seu número de médicos crescer quase oito vezes desde a década
de 1970. Só entre 2000 e 2014, o crescimento no número de registros médicos (o
resultado do número de novos médicos menos o número de médicos que deixaram de
ter registros ativos) foi de em média 10 mil por ano.
Neste período, uma tendência na carreira de medicina apontada pelos dados foi o
aumento gradual da participação das mulheres.
Considerando o número de médicos em 2015, nota-se que, enquanto entre os médicos
mais velhos (com mais de 60 anos) as mulheres só representam um quarto do total,
entre os profissionais de medicina mais jovens (com menos de 40 anos), as
mulheres já representam a maioria (compare
no gráfico abaixo):
Igualdade de gênero na
carreira médica
Mulheres são grande
minoria entre os médicos com mais de 60 anos, mas já são maioria entre a geração
mais jovem
Nº de profissionais (por
sexo e faixa etária)81.54081.54079.64479.64420.32920.32964.96764.967MÉDICAS (até
40 anos)MÉDICOS (até 40 anos)MÉDICAS (mais de 60 anos)MÉDICOS (mais de 60
anos)0100k25k50k75k
Fonte: Demografia Médica no Brasil 2015 (CFM)
Mais vagas em medicina
O estudo diz ainda que o Brasil contava com 257 escolas médicas em 2015, sendo
que 69 delas (ou 27% do total) foram criadas depois de 2010. Este crescimento é
um resultado do programa Mais Médicos, que, segundo o governo federal, criou
5.300 vagas de medicina, a maior parte em instituições privadas (veja
abaixo):
Novas vagas de graduação
em medicina
Desde 2013, o Mais
Médicos criou 5.306 vagas em cursos de medicina, sendo 68% delas em faculdades
particulares
Vagas em universidades
públicas: 1.690Vagas em instituições privadas: 3.616
Fonte: Programa Mais
Médicos
Residências mais concorridas
A expansão das vagas em medicina, principalmente a partir de 2013, foi uma
resposta do governo federal à falta de médicos para suprir a demanda da
população brasileira. Um dos efeitos que esse aumento deve provocar, segundo a
Associação Nacional de Médicos Residentes (ANMR), é uma maior concorrência para
as vagas oferecidas na residência. Enquanto o número de formados todos os anos
aumenta, o de vagas em residências médicas se mantém em entre 15 mil e 20 mil
todos os anos.
As residências médicas são um tipo de especialização, ou seja, dão ao formado o
diploma de pós-graduação lato
sensu. Porém, elas funcionam em um regime especial: todos os
programas de residência médica no país são regulamentados da mesma forma, e
todos os residentes recebem a mesma bolsa pela carga horária de 60 horas
semanais.
O valor da bolsa foi reajustado pela última vez no início de 2016. O aumento foi
de 11%, para R$ 3.300, mas só foi obtido depois de 21 dias de greve nacional dos
residentes, segundo explicou ao G1 Marcus
Villander, vice-presidente da ANMR.
“Veja a dimensão da coisa: você é um médico, formado depois de seis anos de
faculdade, a faculdade mais longa do país. E depois disso você vai ter que
trabalhar 60 horas semanais para ganhar R$ 3.300.”
(Marcus Villander, vice-presidente da ANMR)
Atualmente, Villander explica que há 56 programas diferentes de residência
médica, que vão desde as áreas mais clássicas, como cardiologia, oftalmologia e
neurocirurgia, a outras mais recentes, como acupuntura e homeopatia. Porém, nem
todas permitem o acesso direto: em alguns casos, o médico precisa primeiro fazer
uma residência em uma das áreas principais, como clínica geral e cirurgia geral.
Veja abaixo a lista atual de programas de residência médica, segundo documentos
da Comissão Nacional de Residência Médica, ligada ao Ministério da Educação:
·
Residências médicas com acesso direto: acupuntura,
anestesiologia, cirurgia geral, cirurgia da mão, clínica médica, dermatologia,
genética médica, homeopatia, infectologia, medicina de família e comunidade,
medicina do tráfego, medicina do trabalho, medicina esportiva, medicina física e
reabilitação, medicina legal, medicina nuclear, medicina preventiva e social,
neurocirurgia, neurologia, obstetrícia e ginecologia, oftalmologia, ortopedia e
traumatologia, otorrinolaringologia, patologia, patologia clínica/medicina
laboratorial, pediatria, psiquiatria, radiologia e diagnóstico por imagem,
radioterapia.
·
Residências médicas que exigem uma residência prévia: alergia
e imunologia, angiologia, cancerologia/clínica, cardiologia, endocrinologia,
endoscopia, gastroenterologia, geriatria, hematologia e hemoterapia, nefrologia,
pneumologia, reumatologia, cirurgia geral – programa avançado,
cancerologia/cirúrgica, cirurgia cardiovascular, cirurgia de cabeça e pescoço,
cirurgia do aparelho digestivo, cirurgia pediátrica, cirurgia plástica, cirurgia
torácica, cirurgia vascular, coloproctologia, urologia, mastologia, medicina
intensiva, cancerologia/pediátrica, nutrologia.
“Em anestesia, oftalmologia, otorrinolaringologia, psiquiatria, dermatologia,
que são sempre muito concorridas, em geral você leva dois ou três anos para
conseguir entrar”, explicou Villander. De acordo com ele, são as áreas que
oferecem “trabalhos com baixas taxas de perda de paciente, pacientes
ambulatoriais, que não são doentes críticos, e oferecem uma qualidade de
trabalho e de vida pro médico que são mais atrativas”. Entre essas condições
estão locais de trabalho menos insalubres e menor exigência de equipamentos
tecnológicos, além de serem especialidades de acesso direto.
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