Folha de São Paulo – 10/06/2013 – São Paulo, SP

O discreto perfil acadêmico dos economistas

Rogerio Meneghini

Os indícios de uma crise
econômica brasileira têm incitado analistas a suspeitar da competência de nossos
economistas. Embora alguns questionem se economia é uma ciência, não há dúvidas
de que ela é ancorada em teorias.

É possível estimar-se a
competência de nossos economistas nesse contexto? Há sem dúvida um caminho para
isso. Hoje, há bases de dados que permitem medir prestígio público e acadêmico
para as diversas áreas do conhecimento.

No primeiro caso, se teria
uma medida de visibilidade por meio de exposição na mídia. No segundo, a medida
de prestígio seria alcançada pelas publicações em revistas acadêmicas
especializadas. É de se esperar que, em ambas as categorias, prestígio tenha uma
correlação com competência.

No cenário nacional, já se
tem uma surpresa. Ao contrário do que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos,
onde os economistas de renome público são também autoridades acadêmicas, no
Brasil há uma dicotomia entre os economistas mais dedicados à academia (assim
reconhecidos pelo CNPq) e aqueles distinguidos publicamente –são praticamente
dois grupos distintos.

A segunda surpresa é que, em
ambos os grupos, as publicações acadêmicas são exíguas. A terceira surpresa é
que o percentual de economistas nacionais que obtiveram doutorado no exterior
sob a supervisão de conceituados acadêmicos é superior aos de todas as demais
áreas, alcançando 70%.

O que se pode inferir desses
dados? Primeiro, que a contribuição brasileira para o corpo de conhecimento
universal em economia é muito baixa. De fato, de acordo com a base
Thomson-Reuters, enquanto no cômputo geral de publicações de artigos científicos
o Brasil ocupa a 13ª posição, em economia a posição é a 30ª. Em um marco de
qualidade e impacto, medido por citações por artigo, a posição é ainda inferior,
42ª.

Essas informações são
intrigantes. Elas fazem aflorar dúvidas quanto à aplicação acertada dos
conhecimentos da área econômica aos problemas nacionais. Como, porém, deixar de
reconhecer dados que falam em favor dos nossos economistas. Um, que os exames de
ingresso em instituições nacionais prestigiosas de ensino de economia são muito
competitivos, abrindo caminho para alunos de qualidade. E outro, o de que que o
ensino em nível de graduação dessas instituições é de boa qualidade.

É difícil se esquivar da
impressão de que, no Brasil, há uma linha divisória entre graduação e
pós-graduação em economia. Talvez o baixo encanto por produção científica frente
à atração que setores não acadêmicos exercem (mercado, consultoria, política e
comunicação pública) afastem os economistas de uma pós-graduação árdua, pouco
compensadora financeiramente e com baixa exposição pública.

Talvez isso seja parte da
explicação pela alta propensão dos egressos da graduação em economia em buscarem
doutorado e pós-doutorado no exterior.

Óbvio está que
esporadicamente surjam impactos positivos em nossa economia motivados por
orientações dos economistas. Porém, é mais provável que essas se encontrem nos
`think tanks` do que na academia. Um bem sucedido foi o Plano Real.

ROGERIO MENEGHINI, 72,
professor aposentado da USP, é coordenador científico do programa SciELO de
revistas científicas brasileiras

 

 

Categorias: Economia

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