Revista
Época, 15/07/2010 – 14:09

ATUALIZADO EM 16/07/2010 – 20:28

O
jornalismo melhorou

PAULO
NOGUEIRA

Um dos artigos mais lidos,
mais comentados e mais compartilhados do site da BBC nos
últimos dias foi
escrito por uma de suas estrelas, o apresentador Andrew Marr. Marr, que
foi
colunista da Economist e
editor do Independent,
saudou o “novo
começo” da notícia sob a
égide da internet.

Aos 51 anos, formado na
escola impressa, testado em livros e consagrado na TV, Marr terminou
seu artigo
com uma frase expressiva. “Queria ter 20 anos outra
vez”, disse ele.

É exatamente o que
sinto.

Gostaria de estar
começando
outra vez a carreira, garoto, na era digital. São tamanhas
as possibilidades,
tantas as diferenças, tão acentuadas as
facilidades, que os jovens jornalistas
têm uma oportunidade de trilhar um caminho fascinante como
jamais antes.

Pesquisas, no tempo do
papel, eram feitas com dificuldade. Dependiam de idas a departamentos
de
pesquisas, os quais, por incrível que pareça
hoje, constituíam vantagem
competitiva das empresas jornalísticas. Escrever era
igualmente complicado:
laudas, que os repórteres tinham de decifrar depois de
alterações feitas a
caneta por editores para rebater o texto final em Olivettis.

O repórter pode
entrevistar
alguém a 10 mil quilômetros, vendo seu rosto e
perscrutando suas expressões,
pelo Skype. Se seu inglês precisa de aprimoramento,
há na internet cursos de
alta qualidade, com vídeos explicativos, muitos deles
gratuitos. Testei com
aprovação alguns desses cursos ao decidir
aprender mandarim, para um projeto
profissional em Pequim.

Para o leitor a vida
também
mudou para melhor. Ele tem acesso gratuito e em tempo real a
notícias de todo o
mundo. Se está lendo uma informação
sobre um astro de música, tem à sua
disposição vídeos em que pode ouvir os
últimos lançamentos. Se ele quer se
inteirar de assuntos como as Damas de Blanco de Havana, verá
imagens de suas
passeatas de protesto, afinal bem-sucedidas, como prova a
decisão de Cuba de
libertar dissidentes presos.

A nova
geração de
jornalistas tem, ainda, um grau de dependência muito menor em
relação aos
empregos tradicionais. A tecnologia permite a eles criar, com escassos
recursos, voz própria em blogs e sites pessoais que, se
tiverem bom conteúdo e
atraírem audiência, podem representar uma boa
fonte de renda.

Diante das
transformações
em escala tectônica, muitos jornalistas antigos lamentam o
fim da “era
romântica das notícias”. Claro que
há perdas, como em toda revolução. A
chegada
das máquinas, na Revolução Industrial,
cortou num primeiro momento empregos.
Mas as vantagens posteriores compensaram amplamente as perdas imediatas.

O mesmo se aplica ao
extraordinário impacto da internet na mídia. Ao
contrário de saudosistas, e
como Andrew Marr, eu gostaria de ter 20 anos e estar
começando agora nesta
ocupação incomparável que é
o jornalismo.

Paulo Nogueira,
correspondente de
ÉPOCA em Londres, mantém o blog Diário
do Centro do Mundo emepoca.com.br E-mail:pnogueira@edglobo.com.br


Categorias: Jornalismo

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