Folha de São Paulo – 07/05/2013 – São Paulo, SP

Pais são inúteis?

Hélio Schwartsman

Deu na Folha que pais
paulistanos investem fortunas em escolinhas bilíngues cuja missão é formar
superbebês. Eu próprio não agia de forma diferente quando meus filhos eram
pequenos, mas é importante ter em vista que essa superestimulação é muito
provavelmente um desperdício de recursos, que atende mais a nosso desejo de
controlar as coisas do que às necessidades cognitivas das crianças.

Excluídos cenários extremos
de grande privação afetiva ou nutricional, bebês da classe média já costumam
receber os estímulos necessários para desenvolver todo seu potencial. Os efeitos
da criação proporcionada pelos pais, embora não nulos, tendem a ser indiretos e
transitórios.

Para começar, a genética tem
bem mais impacto do que se supunha até algumas décadas atrás. Estudos com gêmeos
e adotados mostram que ela não é decisiva apenas em características físicas como
altura, cor dos olhos e beleza, mas também em traços quase metafísicos, como
sucesso profissional, felicidade, religiosidade e até a propensão a cometer
crimes.

Isso significa que podemos
desistir de educar as crianças e deixar que a biologia siga seu curso? Nem
tanto. Os fatores genéticos tendem a ser mais fortes que os efeitos da criação
–compreendida como o ambiente que irmãos gêmeos, fraternos ou adotivos
compartilham e é em larga medida definido pelos pais–, mas ainda sobra um
enorme espaço para o chamado ambiente não compartilhado, que é um outro nome
para a história única de cada indivíduo.

O problema é que, mesmo aqui,
pais parecem apitar pouco. Num livro de 1998, Judith Harris levantou inúmeros
indícios de que essa história única é determinada principalmente pelos pares,
isto é, as outras crianças com as quais o jovem convive. Um filho de
estrangeiros não termina falando com o sotaque dos pais, mas com o dos colegas.
A preponderância dos pares, diz Harris, vai muito além da fala.

 

 

Categorias: Medicina

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