Nova pagina 11

Folha de São Paulo, Dinheiro, domingo, 01 de novembro de
2009


TRABALHO VERDE

País tem 2 milhões de postos na área

Gestor de resíduos e teleatendente estão entre ocupações benéficas ao
ambiente, diz OIT

ANDRÉ LOBATO, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dois milhões de brasileiros podem dizer que trabalham para reduzir as
emissões dos gases do efeito estufa ou melhorar a qualidade ambiental.

O levantamento, em fase de finalização, é do escritório da OIT (Organização
Internacional do Trabalho) no Brasil.

O estudo divide os profissionais em cinco áreas: energias renováveis,
florestal, saneamento básico e gestão de resíduos e riscos ambientais, gestão de
materiais e transporte e telecomunicações.

O número é considerado representativo por Paulo Sérgio Muçouçah,
coordenador de empregos verdes e trabalho decente da OIT e responsável pelo
estudo. Foram considerados somente trabalhadores com carteira assinada, tomando
como base a Rais (Relação Anual de Informações Sociais).

Dos 39,4 milhões de empregos formais no Brasil, 5% são verdes. Entre essas
posições, no entanto, é possível ter um cargo verde em uma empresa poluidora ou
ter impacto negativo trabalhando em uma empresa com selo de sustentável, explica
Muçouçah.

Quem adapta os veículos da Petrobras às taxas de emissões, por exemplo, é
considerado verde, embora a atividade-fim da empresa acelere o aquecimento
global e deteriore a qualidade ambiental, produzindo o diesel que alimenta tal
veículo.

Há também os que podem se chamar de verdes, mas que são de setores muitas
vezes caracterizados por não terem um bom ambiente de trabalho.

É o caso dos atendentes de telemarketing -o setor de telecomunicações é
considerado benéfico ao ambiente por reduzir a necessidade de deslocamento de
pessoas.

Copenhague

A pesquisa da OIT deve ser divulgada no começo de dezembro, às vésperas da
Conferência de Copenhague, que discutirá um acordo sobre o clima.

As ações relativas a esse fenômeno podem ser de adaptação ou de mitigação.
Por isso funcionários da Defesa Civil -que auxiliam atingidos por enchente, por
exemplo- também são considerados verdes.

O "bem possível" fracasso em Copenhague pode diminuir, mas não frear, a
tendência de criação de empregos verdes, analisa Daniel Esty, que leciona
legislação e políticas ambientais na Universidade Yale e foi membro do comitê de
transição de Barack Obama.

Muçouçah concorda, pois a noção de produtividade "já começa a incorporar a
questão dos recursos naturais".

Além da legislação e da pressão dos consumidores, "fatores econômicos, como
a redução de desperdícios", são estímulos às firmas, diz Muçouçah. Entre eles
estão a eficiência energética e a redução e a reutilização de resíduos
industriais ou da construção civil.

Esty diz que os empregos verdes não necessariamente estão associados à
inovação: "Alguns são a implementação de técnicas já compreendidas".


Engenheira se especializa em
energia

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A engenheira de alimentos Beatriz
Moreira de Araújo, 24, estuda eficiência energética em um grupo de pesquisa da
Universidade de São Paulo chamado Green.

A especialização, considerada
fundamental por especialistas para reduzir impactos no ambiente, "é um
diferencial", diz Araújo. Ela considera a carreira "uma oportunidade de ganhar
dinheiro sem prejudicar o ambiente".

Atualmente, ela pesquisa como
tornar a indústria de alimentos mais eficiente em energia. "Isso reduz os
custos", avalia a engenheira, que quer trabalhar em uma consultoria.


Especialidade cresce nas empresas e atrai
profissionais

Pós faz diferença em algumas áreas, diz consultor

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O número de companhias com áreas de sustentabilidade está em expansão, o
que aumenta o número de vagas, dizem especialistas.

Para Isak Kruglianskas, coordenador do Programa Estratégico de Gestão
Socioambiental da FIA (Fundação Instituto de Administração), os profissionais
devem pensar na sustentabilidade como "o grande motor da inovação que será a
saída para o desemprego".

A senadora Marina Silva (PV-AC) afirma que considera as áreas "uma
oportunidade", mas que cada um "deve seguir sua ética profissional para não
fazer maquiagem" ambiental.

Entre as empresas que atualmente expandem a área está o Grupo Maggi
(agroindústria), que vai criar uma diretoria de responsabilidade e
sustentabilidade. Segundo Nereu Bavaresco, diretor de recursos humanos, a
questão da sustentabilidade começa no recrutamento. "Buscamos pessoas que
compartilhem nossos valores."

Cargos

A área ambiental está dividida entre os cargos técnicos, em que a graduação
deve ser em geografia ou gestão ambiental, por exemplo, e os executivos, em que
também são aceitos profissionais de outras áreas, como jornalistas, psicólogos,
engenheiros e economistas.

Independentemente da formação, o consenso é que o profissional que quer
fazer carreira como diretor de uma área de sustentabilidade precisa ter
especialização e conhecimento do negócio.

Paulo Sérgio Muçouçah, da OIT, ressalta que não é a formação que define um
emprego verde, e sim a atividade.

"Um biólogo pode pesquisar organismos geneticamente modificados [e não ser
verde] ou trabalhar com a conservação da biodiversidade [e ser]".

A bióloga Fernanda Ormonde, 27, coordenadora de eventos responsáveis da
Reclicagem, considera seu emprego verde. "Fazemos a gestão ambiental de feiras,
incluindo cuidar dos resíduos", afirma ela, que tem pós-graduação em gestão
ambiental.

Especialização

André Carvalho, professor de pós-graduação do GVCes (Centro de Estudos em
Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas), diz que a especialização na área é
buscada por profissionais de vários setores.

"Antes, só se podia ser sustentável na Amazônia. Agora, é possível
trabalhar na área na avenida Paulista ou na [avenida Engenheiro Luiz Carlos]
Berrini", diz, referindo-se a dois centros de negócios de São Paulo.

Embora o curso seja um caminho para atuar na área, em alguns setores,
ele não é valorizado, segundo Gustavo Parise, gerente-executivo da Michael Page.
Pare ele, a especialização em ambiente não é prioritária para quem atua em
marketing e vendas, por exemplo. Nesses casos, opina, "é muito mais
"perfumaria", infelizmente".


1 comentário

Os comentários estão fechados.

× clique aqui e fale conosco pelo whatsapp