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 Folha de São Paulo, Cotidiano, terça-feira, 11 de outubro de 2011 

Para pais, a publicidade infantil influencia só o filho dos outros

Pesquisa da UnB mostra que
entrevistados acreditam ser imunes à propaganda para crianças

Levantamento também
analisou comerciais -um deles mostrava criança sendo excluída por não ter
brinquedo 

LARISSA GUIMARÃES, DE BRASÍLIA

Pais e mães acreditam que seus
filhos são menos influenciados por publicidade infantil do que os filhos de
amigos e conhecidos. É o que mostra uma pesquisa inédita feita entre fevereiro e
março por pesquisadores da Universidade de Brasília. O levantamento traz
informações sobre quase 700 pais e mães, em 19 capitais e no DF.

Eles tiveram de responder à
seguinte pergunta: "Quanto a publicidade influencia no que o seu filho
consome?". Numa escala que vai da nota 1 (não influencia) até a nota 10
(influencia totalmente), os pais deram notas entre 5 e 6 para seus filhos, em
média. 

Quando a pergunta se referiu
aos filhos de amigos, atribuíram pontuação entre 7 e 8. Considerando as crianças
em geral, entre 8 e 9. A pesquisa foi feita como trabalho de conclusão de curso
pelo psicólogo Lucas Caldas, que teve bolsa da Andi (Agência de Notícias dos
Direitos da Infância).

Para o coordenador da pesquisa
e professor do departamento de psicologia da UnB, Fabio Iglesias, o dado
preocupa. "Quanto mais um indivíduo se considera imune, mais risco ele pode
estar correndo."

Ele diz que há evidências do
chamado efeito da terceira pessoa. "É quando o indivíduo acha que os outros são
influenciados, enquanto ele se considera mais crítico." 

A empresária Fabiola Lacerda
Abdala, 30, conta que tenta reduzir o tempo que Luísa, 5, fica na frente da TV.
"Quando ela vê mais TV, acaba pedindo mais brinquedos."

O pai de Luísa, Ricardo
Abdala, discorda. "Ela não liga tanto para as propagandas como outras crianças",
diz. A pesquisa também analisou comerciais do programa TV Globinho, da Rede
Globo, durante 15 dias antes do Dia das Crianças em 2010. A análise mostrou que
73% recorriam ao "consenso social" -ao mostrar crianças com um produto, cria-se
a impressão de que todos já o têm.

Iglesias diz que só uma peça
apelou para a tática do medo -mostra criança que não tem o produto sendo
excluída. Nos últimos meses, o Congresso discute o projeto que objetiva proibir
a publicidade infantil. Defensores da medida alegam que a propaganda estimula o
consumismo; quem é contra, que já há controle.

Adultos devem apontar exageros, diz psicóloga

DE BRASÍLIA

A doutora em psicologia Fátima
Niemeyer da Rocha, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia, afirma que os
pais devem ter maior acompanhamento sobre os que os filhos veem na televisão,
inclusive a publicidade infantil. 

***

Folha – Qual a influência
da publicidade nas crianças?

Fátima Niemeyer da Rocha – A
propaganda atinge todas as crianças. Evidentemente que as crianças mais expostas
à publicidade infantil são influenciadas de forma mais intensa. O problema se dá
quando não se exerce nenhum tipo de crítica em relação ao conteúdo exibido pela
TV. Por isso, é importante o acompanhamento dos pais. O adulto está mais apto a
exercer essa crítica.

O que os pais devem fazer,
nesse sentido?

Na medida do possível, os pais
devem assistir à TV junto das crianças e apontar possíveis exageros nas
propagandas, com comentários como: "Isso não é bem assim". Os pais precisam
conversar com seus filhos sobre isso, mesmo que eles tenham apenas três ou
quatro anos. 

É necessário falar francamente
com a criança sobre até onde a família pode atender seus desejos: se há
condições financeiras para comprar ou não um determinado produto, por exemplo.
Ainda que os pais tenham o poder de dar para a criança todos os brinquedos que
ela quiser, isso não é apropriado.

Há aspectos positivos na
publicidade infantil?

A propaganda tem um lado
negativo e um lado positivo. A propaganda não é ruim em si, pode despertar a
questão da comparação entre os produtos, o que cada produto oferece de
diferencial. A publicidade pode inclusive ser informativa e ajudar a esclarecer
pontos que a pessoa dificilmente saberia na gôndola do mercado. (LG) 


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