Precisamos cuidar dos meninos: Estudo diz que machismo é maior entre jovens

Maria Prata | UOL*

Novos dados mostram que o machismo, que historicamente sempre esteve mais presente entre os mais velhos (homens e mulheres), agora tem sido maior entre jovens. E meninos. É o que afirma Laura Bates, pesquisadora e autora de livros como A Nova Era do Sexismo: Como a Revolução da IA está Reinventando a Misoginia.

Esse movimento acontece depois de avanços comprovados pela ONU em pautas feministas e anti machistas. Mas há uma pergunta tão urgente quanto delicada em jogo: enquanto, com as meninas, avançamos com a pauta feminista, como estamos educando nossos meninos? Há inúmeros pensadores analisando essa questão neste momento e eu, como jornalista, não posso nem consigo trazer soluções, mas, sim, informações que coleto e que considero relevantes. Para esta pergunta, as respostas podem estar em alguns dados.

A série Adolescência, fenômeno recente de audiência da Netflix, deu luz ao discurso extremista, misógino e machista aos quais os meninos estão expostos nas redes sociais.

Infelizmente, a realidade retratada na obra não é exclusiva da ficção: uma investigação do New York Post aponta que leva cerca de 30 minutos para que um perfil aberto com informações de um garoto de 14 anos no TikTok receba sugestões de vídeos com conteúdo machista.

Discursos radicais sempre existiram. Minha outra pergunta fundamental é, por que, em 2025, eles estão ainda mais radicais — como os dos red pills, incels e afins — e têm colado tão facilmente nos nossos garotos?

A resposta mais simplista é a de que o movimento extremista e misógino é comprovadamente impulsionado pelos algoritmos. Sim, mas não é só isso. Será que, em algum lugar ou momento, ao tentarmos educar meninos anti machistas, mais conscientes e propensos a viver numa sociedade equilibrada, acabamos de alguma forma tirando deles a possibilidade de se tornarem homens que, assim como essas meninas que estamos formando, possam exercer todo seu poder, força pessoal e potências individuais (tudo isso, claro, ao lado de mulheres igualmente incríveis).

Será que, ao partir pra cima da masculinidade tóxica (de novo: movimento fundamental), acabamos não dando a este meninos exemplos inspiradores do que é ser homem hoje? Ou, ao olharmos e focarmos tanto nas meninas, acabamos deixando os meninos de fora da conversa?

Precisamos entender. Afinal, queremos que esses meninos virem homens. Homens que estejam em pé de igualdade com as mulheres, que nos respeitem. Homens anti machistas, mas homens.

E aí, chego à pergunta: o que é, (ou deveria significar) ser homem hoje? Sim, há mil possibilidades para esta resposta, que incluem questões sociais, históricas, genéticas, neurológicas, psicanalíticas, pessoais? Mas será que não é justamente nossa incapacidade de esboçar esta resposta que tem deixado nossos meninos mais inseguros, deprimidos, se sentindo incapazes e deixados de lado? Spoiler: não há lugar melhor para o nascimento de revoltas e de comportamentos extremistas do que os sentimentos de exclusão e solidão.

Olha o tamanho do estrago: a saúde mental tem piorado para os jovens em geral, mas de forma diferente para os meninos. Entre aqueles entre 3 e 17 anos, 28,2% têm alguma questão de saúde mental, emocional, comportamental ou de desenvolvimento. Entre meninas, a porcentagem é de 23%.

Com dificuldades básicas para falar sobre sentimentos e questões mais íntimas ou possibilidades de buscar ajuda, meninos têm se deprimido mais e, cada vez mais, recorrem ao suícidio, que é quatro vezes mais comum entre pessoas do sexo masculino. A prática já é a principal causa de morte entre jovens de 14 a 15 anos, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano.

Não podemos continuar chegando a essas consequências finais desastrosas. É urgente que repensemos como formar nossos meninos, como falar disso tudo com eles e com todos e todas em volta. Isso pode, e deve, acontecer em paralelo aos avanços dos direitos das mulheres.,

*Portal UOL, https://www.uol.com.br/universa/colunas/futuro-presente/2025/07/09/o-que-e-ser-homem-em-2025-estudo-diz-que-machismo-esta-maior-entre-jovens.htm, 09/07/2025

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