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O Estado de São Paulo, pontoedu, Terça-feira, 30 de junho de
2009, 19:46 | Online


Professores de jornalismo comentam fim da exigência do diploma

Segundo o MEC, há 546 cursos de graduação em funcionamento no País, com
mais de 113 mil vagas

Ana Bizzotto – Especial para O Estado de S. Paulo


Coordenadores e professores de alguns dos principais cursos de Jornalismo de Sâo
Paulo comentaram o fim da exigência do diploma para o exercício da profissão,
aprovado por 8 votos a 1 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na quarta-feira.
Dados do Censo da Educação Superior de 2007 apontam que 546
cursos de jornalismo estão em funcionamento no país
, com mais de 113
mil vagas.

 

“Está
havendo uma discussão muito emocional sobre a questão. Acho que ninguém é contra
o curso ou o diploma. O que fica meio no ar é qual será o critério agora para
conseguir o registro. Concordo que a obrigatoriedade do diploma não é
necessária, mas a formação sim. É preciso haver um critério”, afirma o
coordenador do curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, Marcos Cripa.

 

Segundo
ele, a faculdade começou a discutir a criação de uma pós-graduação em
Jornalismo, mas o futuro dos bons cursos de graduação não está ameaçado. “Nós
estamos dando formação, mas muitas escolas dão o diploma e seus alunos não saem
preparados. Esses cursos que não oferecem formação adequada vão sofrer um
impacto”.

 

O
coordenador do curso de Jornalismo da PUC-SP, Marcos Crispa, define a decisão do
STF como um “desastre”. Segundo ele, foi um retrocesso no tempo. “A não
obrigatoriedade do diploma será ruim para a qualidade da informação. O mercado
se tornará uma terra sem lei, principalmente nos grandes centros, onde a
influência política e econômica das grandes empresas é muito grande.”

 

Crispa
também criticou a afirmação feita ontem pelo ministro do STF Gilmar Mendes sobre
a criação de um "modelo de desregulamentação" das profissões que não exigem
aporte científico e treinamento específico. “Um erro médico pode matar uma
pessoa, mas um ataque mentiroso cometido por um jornalista em uma notícia pode
afetar a vida de uma família para sempre, matá-la publicamente. Se com a
exigência do diploma já existe uma série de erros, imagine agora.”

 

O
coordenador concorda que a discussão deveria ser levada ao Congresso, como
sugeriu anteontem o ministro das Comunicações, Hélio Costa, mas ressalta a
importância da participação da sociedade. “No fundo, não temos no Brasil a
concepção de que o jornalismo é um compromisso social. A discussão não pode ser
feita em guetos. É preciso convocar a sociedade, que é a principal destinatária
da informação”. 

 

Para o
chefe do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e
Artes (ECA) da USP, José Luiz Proença, o fim da obrigatoriedade do diploma não
significa um enfraquecimento dos cursos de Jornalismo. “Numa perspectiva
otimista, eles devem até melhorar. Nesses quarenta anos de exigência do diploma,
as escolas de comunicação tiveram uma influência positiva na formação do
jornalista brasileiro. Crescemos em termos de pesquisa na área. A queda da
obrigatoriedade é uma forma de cobrar qualidade dos cursos”, diz.

 

Proença
considera que a prática da profissão exige uma formação superior, mesmo que o
diploma não seja obrigatório. “Não basta escrever bem. Quando você entra na
rotina de uma redação, não para muito para pensar, e a faculdade vai continuar a
ter esse papel, que dá o diferencial para o jornalista.”

 


Diretrizes

 

A revisão
das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Jornalismo está sendo
discutida por uma comissão de especialistas formada pela Secretaria de Educação
Superior, que deve entregar a proposta até agosto ao Ministério da Educação.

 

As
diretrizes curriculares orientam as instituições de ensino superior para a
formulação do projeto pedagógico de seus cursos de graduação. Alunos,
professores, pesquisadores, profissionais e representantes da sociedade civil
puderam participar da consulta pública sobre o assunto feita pelo ministério.
Três audiências públicas também foram realizadas para discutir a revisão das
diretrizes.

 

De acordo
com o professor José Marques de Melo, que preside a comissão, a decisão do STF
não altera em nada as diretrizes. “O diploma não foi abolido, apenas não será
mais obrigatório. Vamos continuar com as mesmas diretrizes, que tem o objetivo
de estabelecer critérios de qualidade para os cursos.”

 

Marques
enfatiza que o diploma continua a ser valorizado. “Nos Estados Unidos ele não é
exigido e há quase mil escolas de jornalismo. O ensino do jornalismo vem sendo
valorizado no mundo inteiro, e a grande maioria dos profissionais é recrutada
nas escolas de jornalismo.”

Categorias: Jornalismo

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