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Profissionalização em relações
internacionais: exigências e possibilidades


 

Por Roberto de Almeida Paulo


 


Quem é o profissional de relações
internacionais no Brasil?

Trata-se não apenas do graduado
em relações internacionais, uma vez que são ainda relativamente poucos os
egressos dos parcos cursos existentes nesse nível no Brasil, muito embora a
oferta tenha crescido exponencialmente nos últimos anos, em especial no setor
universitário privado e em faculdades isoladas.

 


Como se faz a formação do
profissional em relações internacionais?

Em função da já citada
“precocidade” da profissão, ela é, compreensivelmente, a mais variada possível e
não há, propriamente, homogeneidade didática nos cursos oferecidos, sendo
portanto “normal” a qualidade muito diferenciada dos egressos desses cursos. Com
efeito, uma observação perfunctória revela uma maior ênfase em aspectos
conceituais e teóricos nos cursos mantidos pelas instituições tradicionais
(universidades públicas e católicas) e um cuidado bem mais acentuado com o lado
prático da profissão naqueles oferecidos pelas privadas (comércio exterior e
administração de negócios internacionais, por exemplo).

 


Para que serve um profissional de
relações internacionais?

Ele pode ocupar-se de uma série
crescente de atividades públicas e privadas, todas  elas situadas num “nicho”
cada vez mais amplo da vida da Nação: a interface entre o contexto interno  e o
cenário externo, seja no plano de negócios, seja no âmbito da administração
pública, seja ainda nas lides acadêmicas. Essa ponte entre o lado doméstico e as
vertentes regional e internacional exige um profissional que saiba não apenas
uma várias línguas estrangeiras, mas também comércio exterior , direito e
economia internacional e o próprio funcionamento das muitas organizações 
multilaterais e regionais de integração e de cooperação que permeiam a vida
contemporânea das nações.

 

 


Quais são os setores
preferenciais de atividades desse profissional?

As possibilidades são
praticamente infinitas com a intensificação do processo de globalização, indo
desde uma empresa de turismo a um clube de futebol. Podemos contudo, destacar
três grandes áreas ou setores de atuação para os especialistas em relações
internacionais: (1) governo, ou setor público  de modo geral, no qual se
destaca em primeiro lugar a diplomacia, cujos requisitos de ingresso são (a)
normalmente elevados(ver o site do Itamaraty:

www.mre.gov.br/irb
), mas todos os demais ministérios (com destaque para a
nova profissão de “analista de comércio exterior”, do atual MDIC) e agências
públicas, bem como os governos estaduais e municipais vêm fazendo crescente
apelo a tais profissionais em suas respectivas “assessorias internacionais”; (2)
academia, onde as possibilidades efetivas são reconhecidas mais
limitadas, uma vez que as vagas no corpo docente não se renovam todos os dias e
tendo em vista o fato de quem nem todos os egressos possuem qualidades ou
vocação para a pesquisa e o ensino; (3) setor privado, no qual as chances
de trabalho se multiplicam todos os dias , levando-se em conta a necessidade
crescente de interagir com o cenário externo.

 


Que tipo de trabalho desempenha
esse profissional?

As tarefas específicas dependem
obviamente do entorno e do contexto laborais, mas em todas as áreas a atividade
é geralmente dominada pelo processamento da informação. Não só o diplomata, mas
também o diplomata, mas também o “middle manager” corporativo e o “técnico” de
uma empresa globalizada têm de processar informações (inputs) que chegam todos
os dias, de maneira a transformar essa “matéria bruta” externa em vantagens
adaptativas para suas respectivas instituições que “competem” no ambiente
internacional (seja por um produto ou serviço, seja por uma determinada
disposição internacional). O diplomata, ademais, representa seu país no exterior
(em embaixadas e missões)  e negocia em caráter permanente ou de forma mais
irregular acordos bilaterais e convenções multilaterais. Os assessores
internacionais alertam para a interface e as limitações externas em suas esferas
respectivas de atuação, instituições públicas ou privadas.

Todos eles, diplomatas,
empresários, assessores participam, cada um a seu modo ou distintos graus de
independência
(com subsídios ou meso determinações) do processo decisório 
em sua instituições de afiliação, contribuindo assim para o sucesso relativo do
produto ou serviço.

À exceção daquelas profissões
regulamentadas e reservadas a um círculo profissional de especialistas
registrados  advogados ou mesmo aquelas áreas indevidamente fechadas, como a de
jornalista, por exemplo – , a maior parte das demais atividades que podem ser
desempenhadas por um formando em ciências sociais, economia, história,
comunicações ou ainda em áreas “técnicas” como operador cambial ou no mercado de
futuros também podem ser ocupadas por um profissional   em relações
internacionais, sobretudo  se ele  combinar essa “especialização” a uma
graduação nas vertentes mais tradicionais dos cursos universitários.

 


Quais os requisitos que se espera
de um profissional de relações internacionais?

Uma trading, por exemplo,
ou seja, uma empresa de comércio exterior não se dispõe a contratar um
profissional apenas em virtude de um brilhante currículo acadêmico, mesmo se ele
for egresso de uma conceituada faculdade pública. Ela é bem mais propensa a
valorizar o conhecimento prático da nomenclatura aduaneira, da regulamentação de
comércio exterior, das normas técnicas em vigor nos mercados estrangeiros. Muito
embora  uma boa cultura geral possa ser, igualmente, um surplus na
avaliação do currículo do candidato, a experiência em matéria de regulamentos
 e normas aplicadas ao comércio internacional se afigura
indispensável, assim como conhecimentos elementares de economia e de
estatística. Na outra ponta, uma boa cultura humanista contribui em muito para
uma boa performance do candidato nos concursos  do Instituo Rio Branco, o que
não dispensa contudo um contato íntimo com a atualidade mais imediata sobre as
relações internacionais e a política externa  do Brasil, que   se adquire com a
leitura diária dos principais jornais e periódicos de circulação nacional e de
algumas revistas especializadas em política internacional (ver, por exemplo, a
Revista Brasileira de Política Internacional).

Em outros termos, as exigências
feitas a um profissional de relações internacionais são tão variadas quanto são
as possibilidades diversificadas de emprego  hoje existentes num BRASIL
definitivamente inserido nos circuitos da globalização produtiva e financeira. O
campo oferece, sem dúvida alguma, oportunidades crescentes aos egressos dos
cursos de graduação e de especialização, mas parece inevitável que um processo
de “diluição” das e de “divisão  do trabalho” entre as diferentes instituições
brasileiras dedicadas á formação e à complementação educacionais desses
profissionais deverá necessariamente ocorrer nos próximos anos, como forma de
adequar perfis pedagógicos aos requisitos de mercado. O   ‘ profissional da
globalização” é um ser multifacetado, ao mesmo tempo um generalista e um perito
em aspectos específicos da crescente interdependência mundial.

Longa vida ao profissional em relações internacionais.

 

Profissionalização em relações
internacionais: uma discussão inicial”, Brasília, 12 junho 1999., 5pp. Texto
sobre formação e perspectivas profissionais do formando  em relações
internacionais. Publicado no período do curso de relações internacionais da
PUC-SP, Observatório de Relações internacionais (São Paulo: PUC_SP, nº1,
outubro/dezembro 1999, pp. 10-13). Revisto em 2001 e integrado como leitura
complementar” ao livro O s primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações
internacionais contemporâneas. Relação de Publicados nºs 248.

 


Texto da Gazeta Mercantil,
segunda-feira, 3, terça-feira, 4, e quarta-feira , 5, de Março de 2003. página
A-3.


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